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Marcelo Odebrecht declara ter financiado a campanha de Keiko Fujimori em 2011

Segundo reportagem do IDL-Reporteros, é a primeira declaração do empresário à Justiça peruana. Interrogatório foi realizado em Curitiba

O empresário brasileiro Marcelo Odebrecht afirmou ter feito contribuições a Keiko Fujimori e ao Partido Aprista Peruano para a campanha eleitoral de 2011. Segundo reportagem do jornalista Gustavo Gorriti publicado no portal IDL-Reporteros, a declaração foi feita durante um interrogatório de duas horas na sede da Polícia Federal em Curitiba. Foi o primeiro depoimento sob o sistema de delação premiada da Odebrecht à Justiça peruana. Estavam presentes um representante do Ministério Público brasileiro e o procurador regional Orlando Martello.

Marcelo Odebrecht, em 2015.
Marcelo Odebrecht, em 2015.REUTERS

Também acompanharam o interrogatório no Brasil membros do Ministério Público peruano e da Unidade de Cooperação Internacional do Peru, além de representantes do ex-presidente Ollanta Humala. Marcelo Odebrecht estava acompanhado de três advogados. O IDL-Reporteros comparou as versões de alguns dos presentes. O único registro que ficou da diligência foi uma gravação feita pelo procurador Martello, que deverá ser enviada pelos canais formais ao Ministério Público do Peru. As demais pessoas presentes tomaram notas das afirmações de Marcelo Odebrecht, feitas sob cláusulas rigorosas de imunidade legal.

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Amparado por essa condição, o empresário respondeu em detalhes ao questionamento apresentado pela promotoria peruana. O IDL-Reporteros conta que as primeiras perguntas foram sobre os 3 milhões de dólares que sua empresa desembolsou em 2011 em favor de Ollanta Humala, candidato à presidência pelo Partido Nacionalista que acabou ganhando as eleições no Peru. Odebrecht confirmou ter recebido o pedido de doação do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que atuava em nome do Partido dos Trabalhadores.

Para Odebrecht, foi uma colaboração “ideológica”. O empresário autorizou o pagamento, ordenou que fosse efetuado e não acompanhou mais o processo. Afirmou não saber exatamente de onde saiu o dinheiro nem como foi realizada sua entrega, pois quem se encarregava desses detalhes era Jorge Barata, ex-representante da construtora no Peru.

Disse, no entanto, que os recursos empregados para esse tipo de operação provinham do Departamento de Operações Estruturadas (encarregado de administrar as propinas), bem como de empresas locais.

Prática comum

Segundo Gorriti, quando lhe perguntaram se Humala havia sido o único candidato beneficiado pelas doações, Odebrecht respondeu que sua empresa tinha a política de apoiar todos os candidatos de certa relevância. Mencionou Keiko Fujimori, candidata do Força 2011, e o Partido Aprista Peruano, que apresentou Mercedes Aráoz – atual vice-presidenta de Pedro Pablo Kuczynski – embora sua candidatura tenha sido retirada posteriormente.

A publicação dessas afirmações causou numerosas reações. Fontes da filial peruana da Odebrecht negaram à imprensa as doações a Fujimori e Aráoz. Acrescentaram que Jorge Barata não as mencionou em suas declarações à Justiça. Uma nota do Ministério Público peruano sobre o assunto diz: “Devido à confidencialidade da diligência, não se pode revelar nenhum detalhe, por esse motivo são lamentáveis algumas versões na imprensa que não se ajustam à verdade”. Gorriti ratificou o publicado no portal IDL-Reporteros.

Justiça se recusa a libertar Alberto Fujimori

Como prometeu na semana passada, Keiko Fujimori, filha e herdeira política do ex-presidente peruano preso, Alberto Fujimori, apresentou um recurso judicial em favor de seu pai, que denominou "habeas corpus da liberdade". O 43º Tribunal Penal de Lima, a cargo do magistrado Arnaldo Sánchez, declarou o recurso improcedente por considerar que nenhum direito fundamental foi ferido durante o julgamento do patriarca do fujimorismo.

Fujimori está preso desde 2005, condenado por violação dos direitos humanos e corrupção. Sua situação judicial produz uma grande polarização na opinião pública peruana, que se torna mais aguda à medida que seu movimento político recupera forças sob a liderança de Keiko Fujimori e que sua saúde dá sinais de deterioração próprios da idade.

Para tirá-lo da prisão, seus familiares apresentaram vários pedidos de indulto, todos negados. A lei peruana proíbe esse perdão presidencial para delitos de especial gravidade, como o sequestro agravado, um dos crimes pelos quais Fujimori cumpre pena. Restaria o caminho do indulto humanitário, que tampouco procede por ser reservado a réus em condição terminal ou com doenças que pioram devido às condições de reclusão. O ex-presidente não se encaixa em nenhum dos dois requisitos.

O recurso foi anunciado depois que a bancada partidária fujimorista, que conta com maioria absoluta no Congresso, barrou um projeto de lei que propunha a liberdade condicional para pessoas maiores de 75 anos, que teria beneficiado automaticamente seu fundador.

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