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Em áudio, dono da JBS contou a Temer seu plano para “segurar” investigação

Delação de Joesley Batista provoca maior crise no Governo que nasceu do impeachment

Temer e Joesley, em 2012.Vídeo: R. C./VICE-PRESIDÊNCIA

O Supremo Tribunal Federal liberou o áudio da conversa entre o magnata da JBS, Joesley Batista, e Michel Temer, parte do acordo do empresário de colaboração com a Operação Lava Jato. A conversa tem cerca de 40 minutos e aconteceu no Palácio do Jaburu, a residência oficial de Temer. No mesmo trecho em que fala de cultivar boas relações com Eduardo Cunha, deputado cassado e preso em Curitiba, o magnata conta ao presidente: “Consegui um procurador dentro da força-tarefa [da Greenfield, operação que investiga fundos de pensão na qual a JBS é alvo]”. Em outro trecho, Joesley diz que está "fazendo 50.000 por mês para o rapaz [uma provável referência ao procurador, segundo os investigadores citados na imprensa], mas para pelo menos me dar essa informação". Segundo a investigação, o procurador em questão é Ângelo Goulart Villela, que foi preso e afastado das funções nesta quinta-feira. 

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O empresário faz referência ainda a juízes que teria conseguido "segurar". "Aqui eu dei conta de um lado um juiz, dar uma segurada, do outro um juiz substituto", comenta Joesley. Temer lhe pergunta: "Está segurando os dois?". E ouve o empresário repetir: "Estou segurando os dois". A conversa segue com Joesley reclamando dos rigores da Lava Jato e lamentando o fato de que a "anistia", provavelmente se referindo a tentativas de confrontar a operação no Congresso, tenha fracassado. Em trecho com áudio de baixa qualidade, Temer fala da importância da união dos empresários para que também façam pressão.

Horas depois da divulgação das gravações, o Palácio do Planalto divulgou nota para dizer que “o presidente Michel Temer não acreditou na veracidade das declarações" do dono da JBS. "O empresário estava sendo objeto de inquérito e por isso parecia contar vantagem. O presidente não poderia crer que um juiz e um membro do Ministério Público estivessem sendo cooptados”, disse a assessoria do Planalto na nota.

A conversa

Logo no início da conversa, após Temer louvar seus próprios feitos nos 10 primeiros meses de Governo diante do empresário, Joesley introduz a conversa de fato ao falar sobre suas relações com o Governo. Siga o trecho inicial da conversa:

Joesley – Presidente, é tarde... Deixa eu te falar: primeiro, eu vim aqui basicamente por dois, três motivos, assim, assim, assado. Primeiro que eu não tinha te visto, né, desde que você assumiu.

Temer – Não, antes de assumir, mais de 10 meses.

Joesley - Eu estive no teu escritório, dez dias antes ali, tava ali naquela briga, naquela guerra pela rede social, o senhor lembra, tal, coisa de golpe e tal... E aí, enfim, de lá pra cá, eu vinha falando com o Geddel, enfim. Aí também não...

Temer - Deu aquele problema [Geddel Vieira Lima teve de deixar a Secretaria de Governo após forçar a aprovação de uma obra em Salvador]. Idiota, aquele, né, um...

Joesley - Foi uma bobagem.

Temer - Foi uma bobagem que ele fez, sem consequência..

Joesley - Não precisava daquilo, né?

Temer - Era uma bobagem. O cara [o então ministro da Cultura Marcelo Calero, que se recusou a ceder às pressões de Geddel] fez um carnaval.

Joesley - Mas eu vinha falando com o Geddel ali, tudo bem. Andei falando algumas vezes com o [ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu] Padilha, agora o Padilha adoeceu. Enfim, ai eu fiquei meio, deixa eu ir lá. Pra dar uma... Queria primeiro dizer o seguinte: tamo junto aí. O que o senhor precisar de mim me fala.

Temer - (inaudível) Esperar passar...

Joesley – Queria te ouvir um pouco, presidente, como é que o senhor está nessa situação toda aí, Eduardo [Cunha, deputado cassado], não sei o quê, Lava Jato.

Temer - O Eduardo resolveu me fustigar, você viu que...

Joesley - Eu não sei, como é que está essa relação?

Temer – Está... Não tem nada a ver com a defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele que não tem nada a ver com a defesa dele. Eu não fiz nada (inaudível) no Supremo Tribunal Federal, olha só. E daí rapaz, é...

Joesley - É, eu queria falar assim, dentro do possível eu fiz o máximo que deu ali, zerou, liquidou tudo, e ele foi firme em cima, ele já está, viu, cobrou, tá, tá, tá, acelerei o passo e tirei da frente. O companheiro dele, o Geddel sempre estava. O Geddel é que andava sempre ali, mas o Geddel também eu perdi o contato, que virou investigado e agora eu perdi contato, também...

Temer - É complicado, parece obstrução de Justiça.

Joesley - Isso, isso. Esse negócio dos vazamentos, com Geddel... Citava também alguma coisa tangenciando a nós [JBS]... Eu estou lá me defendendo. Como é que eu, o que eu me dei conta de fazer até agora. Eu estou de bem com o Eduardo.

Temer – Tem que manter isso, viu?

Joesley – Todo mês... (inaudível) Também. Estou segurando as pontas com ele. Nesse processo eu estou meio enrolado aqui.

Temer - (inaudível)

Joesley – É, investigado, eu não tenho ainda a denúncia. Aqui eu dei conta de um lado um juiz, dar uma segurada, do outro um substituto que é um cara que ficou...

Temer – Está segurando os dois?

Joesley – Estou segurando os dois. Consegui um procurador dentro da força-tarefa, que também está me dando informação. Lá que eu estou... Para dar conta de trocar o procurador que está atrás de mim. Se eu der conta, tem um lado bom e um lado ruim. O lado bom é que uma esfriada até o outro chegar, o lado ruim é que se vem um cara com raiva...

Temer – O que você está... Está te ajudando...

Joesley – O que está me ajudando está bom, beleza. Agora o principal... Tem um que está me investigando. Eu consegui colar um no grupo. Agora estou tentando trocar. Então está meio assim, ele saiu de férias, fiquei preocupado, teve um burburinho de que iam trocar ele. Estou contando essa história, enfim, estou me defendendo, os dois lá, estou mantendo. Mas aquele negócio do Geddel, quase não deu.

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