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Renan reedita guerra interna do PMDB e atrasa reforma trabalhista no Senado

Para evitar divisão da base, Temer tenta enquadrar senadores de partido em reunião nesta terça

Temer durante evento nesta segunda, em Brasília.
Temer durante evento nesta segunda, em Brasília.Eraldo Peres (AP)

Enquanto os olhos de boa parte dos brasileiros se voltam para o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro, nesta quarta-feira, o Governo Michel Temer vive seus dias de intrigas palacianas diante da possibilidade de um racha no PMDB do Senado. Partido com a maior bancada na Casa, a legenda está próxima de uma divisão gerada por dois temas primordiais para a gestão federal, as reformas trabalhista e da Previdência. A preocupação é tamanha que Temer convidou os 22 parlamentares peemedebistas para um encontro nesta terça-feira, no Planalto, no qual a roupa suja será lavada e todos serão chamados a darem sua contribuição com o Governo, dizem assessores palacianos.

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O estopim da revolta peemedebista ficou configurado quando o líder da legenda, Renan Calheiros (PMDB-AL), mandou recados diretos a Temer. Reuniu-se com centrais sindicais que fazem oposição às reformas e disse que propostas “malfeitas” ou “injustas”, como as mudanças nas leis trabalhistas, não seriam aprovadas no Senado. Provocado para renunciar ao cargo de líder, declarou que o faria, desde que o opositor Roberto Requião (PMDB-PR) fosse conduzido à função. Mais uma de suas claras provocações.

Além do duro discurso, o senador conseguiu desacelerar a tramitação do projeto no Legislativo: a de Constituição e Justiça, a de Assistência Social e a de Assuntos Econômicos. Renan também evitou que um pedido de urgência fosse apresentado e, com o apoio de seu aliado Edison Lobão (PMDB-MA), fez com que a proposta tivesse de passar por três comissões. Na prática, estragou todo o cronograma governista, que era votar a reforma trabalhista nas duas Casas do Congresso ainda no primeiro semestre para poder se dedicar integralmente às mudanças nas aposentadorias no início de agosto.

Agora, Temer tenta convencer os seus correligionários a não se tornarem seus opositores. Teoricamente, a reforma trabalhista passaria com folga no Senado, onde Temer costuma ter entre 60 e 65 votos entre os 81 parlamentares. Para aprová-la, é necessário ter apenas maioria simples dos presentes. Ou seja, no limite, o governo tem de garantir 41 votos. “Nem todos os senadores estão preparados para aguentar a pressão popular. Muitos de nós concorreremos à reeleição no ano que vem e colar a imagem de inimigo do trabalhador é algo que ninguém quer”, afirmou um senador peemedebista que, ao menos por enquanto, ainda faz parte da base governista.

O encontro com os senadores, além de um termômetro de adesão, também será uma maneira de ajustar o discurso para evitar a contaminação da base. Uma demonstração dessa falta de coesão ocorreu na votação da reforma Trabalhista na Câmara, quando 7 dos 59 deputados do PMDB votaram contra a proposta.

Diante desse cenário, o Governo já cogita alterar também o calendário de votação reforma da Previdência na Câmara. Os deputados querem tirar de si o foco dos opositores e dividi-lo com os senadores. Por essa razão, o Planalto quer votar o quanto antes a reforma trabalhista no Senado.

A costura de Renan e Alagoas

Por trás do rompimento de Renan com o Planalto há uma questão de fundo. Experiente, o senador começou a movimentar suas peças com a perspectiva eleitoral de 2018 quando tanto ele quanto seu herdeiro, o governador alagoano Renan Filho, concorrerão à reeleição. Em Alagoas, foi iniciada uma reaproximação com o PT porque naquele Estado o ex-presidente Lula lidera as pesquisas de intenções de voto. Nos próximos meses os petistas deverão voltar a ocupar secretarias no Governo de Renan Filho. Um acordo eleitoral para a disputa do ano que vem também já está sendo costurado.

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