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Delegada do estupro coletivo no Rio: “Menina ficou uma hora nas mãos dos criminosos”

Polícia ouve vítima de 12 anos e identifica quatro suspeitos. Família adere a programa de proteção

María Martín
Adolescente vítima de estupro coletivo deixa delegacia.
Adolescente vítima de estupro coletivo deixa delegacia.Gabriel de Paiva
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A menina de 12 anos que foi vítima de um estupro coletivo numa favela da Baixada Fluminense, na região metropolitana do Rio, ficou pelo menos uma hora em poder dos criminosos. Nesse tempo, ela foi agredida e estuprada por pelo menos quatro jovens –um quinto gravou tudo em vídeo. A vítima ficou em silêncio sobre o ocorrido durante cerca de três semanas até que, na última sexta-feira, a tia encontrou a gravação da violação em uma página do Facebook e denunciou o caso à polícia. O vídeo mostra a criança cercada por quatro rapazes nus se revezando para ter relações sexuais com ela, enquanto a menina ora permanece imóvel, ora tenta se desvencilhar sem sucesso. Em um momento da gravação, ela grita e um dos violadores diz: "Cala a boca, se alguém ouvir sua voz vai saber que é tu".

Após três dias do começo das investigações, a jovem, acompanhada dos pais e a tia, falou nesta segunda-feira, pela primeira vez, com a polícia. “Ela não esperava a dimensão [do episódio]. Ela está abalada como uma adolescente de 12 anos, mas ela está aqui firme conosco. É tudo um grande susto para a vida de uma adolescente”, disse a delegada responsável pelo caso, Juliana Emerique.

A polícia não revelou nem detalhes do depoimento nem das apurações “para não atrapalhar as investigações e proteger a vítima”, mas adiantou que há quatro suspeitos identificados, dos quais três podem ser menores. Eles podem responder por estupro de vulnerável, castigado com até 15 anos de prisão, além de crimes relacionados à produção e divulgação de material pornográfico de uma menor de idade que podem supor até oito anos de cárcere.

Como já aconteceu com a vítima do estupro coletivo ocorrido quase uma ano atrás também no Rio, a vítima está sendo julgada nas redes sociais e pela própria comunidade. Comentários na rede de pessoas que presumem conhecer a menina dizem que ela consentiu as relações sexuais e que não era a primeira vez que ela participava de algo assim. “Em momento nenhum houve anuência da menina”, esclareceu a delegada depois de ouvir a vítima. Mesmo em caso de consentimento, a lei considera estupro de vulnerável e presume violência o ato sexual com menores de 14 anos. “É muito ruim a existência de julgamentos na internet, até em seu círculo de amizades. Está sendo um grande susto na vida dessa menina”, disse Emerique.

A família da adolescente, moradora de uma comunidade dominada pelo tráfico de drogas, aceitou integrar o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte. Ela deverá mudar de Estado e de identidade e deve receber assistência jurídica, social e psicológica. “No começo, ela se assustou porque muda a vida toda, mas, finalmente, aceitou”, relatou Emerique.

O caso desta menina acontece quase um ano depois de um outro estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos numa comunidade do Rio. O estupro deu a volta ao mundo após sua divulgação em redes sociais e dois dos sete indiciados pelo seu envolvimento com o crime já foram condenados a 15 anos de prisão. Na semana passada, uma garota de 15 anos, grávida de seis meses, foi estuprada por dois adolescentes no Piauí. Enquanto os dois jovens estupravam a adolescente, um terceiro agredia seu namorado, que foi degolado pelos agressores.

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