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Casal de millennials tem o melhor trabalho do mundo

Ex-limpador de tapetes e ex-assistente de clínica odontológica viajam grátis pelo mundo. As marcas pagam 8.500 euros por uma foto no Instagram

Embora não pareça, Lauren e Jack estão trabalhando nesta imagem idílica. Foram convidados por um hotel de luxo que pagou para publicarem a foto no Instagram.
Embora não pareça, Lauren e Jack estão trabalhando nesta imagem idílica. Foram convidados por um hotel de luxo que pagou para publicarem a foto no Instagram.Instagram

Viajar pelo mundo 365 dias por ano seria um sonho para a maioria dos mortais. E receber um bom dinheiro para isso, então, nem se fala. Esse é o trabalho de Jack Morris e Lauren Bullen, um casal jovem, bonito, bem resolvido e sortudo, que há um ano vem cruzando o planeta em grande estilo – visitaram 45 países –, e ganhando muito para isso.

Esse negócio perfeito tem a ver, como você talvez já desconfie, com o Instagram. Jack Morris (Reino Unido, 24 anos), trabalhava limpando tapetes em Manchester, até que um dia se cansou daquilo e voou (de avião, não de tapete) para Bancoc (Tailândia). Lauren Bullen (Austrália, 24 anos) era auxiliar de dentista. Como fãs de fotografia e típicos millennials (termo que define os jovens nascidos entre a década de 1980 à meados da década de 1990, afeitos às novas tecnologias), abusavam do Instagram e sonhavam ganhar com isso algum dia. Conheceram-se em Fiji no ano passado e decidiram que teriam mais possibilidades viajando juntos.

“Não publicamos uma foto por menos de 3.000 dólares. A maior quantia que recebi por uma foi 8.500 euros. Uma companhia telefônica me pagou 33.000 euros para postar cinco fotos no Instagram”

Hoje, Morris tem 2,2 milhões de seguidores no Instagram (@doyoutravel), e Bullen quase um milhão e meio (@gypsea_lust). Marcas de todo tipo viram o potencial dessa audiência e estão pagando a eles uma grana boa para promover sutilmente seus produtos nessa rede social.

“Não fazemos um post por menos de 3.000 dólares [9.300 reais]”, disse Morris à Cosmopolitan. “A maior quantia que recebi por uma foi 9.000 dólares. Fiz um trabalho para uma companhia telefônica que incluía uma viagem de três dias e cinco fotos no Instagram. Nessa ocasião me pagaram 35.000 dólares”. E isso é só o que ele recebe (a tarifa dela é ligeiramente menor). Morris publica cerca de nove fotos por mês.

Por que esse casal angelical e não nós? Ao que parece, a chave está em ser fotogênico e tirar fotos lindas em lugares fantásticos. Em outras palavras: quem vê suas fotos gostaria de ser tão atraente como Jack ou Lauren e estar onde eles estão. As marcas chegaram à mesma conclusão e acrescentaram uma linha à equação: quem os vê gostaria de estar no mesmo hotel ou usar o mesmo relógio.

Essas referências são mencionadas pontualmente em seus posts. Por exemplo, em uma bela imagem diante do Taj Mahal, na Índia, aparecem mencionadas @ITChotels e @TheLuxuryCollection, as contas de duas redes hoteleiras; em outra, tirada em uma praia das Filipinas, com Bullen ao fundo e o relógio de Morris em primeiro plano, é citada a marca alemã de relógios e acessórios @paul_heweitt.

“As marcas me contataram antes de eu começar a aceitar ofertas”, diz Morris. “Não tinha interesse em ganhar dinheiro com minha conta, sempre foi um projeto para me divertir. Quando a conta cresceu, algumas ofertas eram boas demais para recusar e comecei a aceitar. Muitos trabalhos com marcas ou agências de turismo são muito divertidos, já que proporcionam experiências que você normalmente não teria oportunidade de fazer”, acrescenta.

Suas fotos são tudo menos selfies improvisadas. Traindo o espírito do Instagram, não são feitas com um celular, mas com uma Canon 5D MK3 e uma Sony A7S II. E são retocadas, como faria um profissional. “Não uso apps para celular ou filtros. Edito com o Lightroom [programa de edição gráfica] em meu MacBook Pro”, diz ele.

Seus instantâneos são cuidadosamente preparados. Calor, suor, mosquitos, diarreias, multidões e outros perrengues comuns do viajante são espertamente substituídos pelo aspecto saudável de Morris e Bullen – como o de quem acabou de tomar banho – e seus cenários imaculados. Uma imagem como aquela em que aparecem tomando o café da manhã ao lado de janelões pelos quais duas girafas introduzem suas cabeças (uma delas come o café da manhã de Jack) dá a entender que esperam o tempo que for necessário para que cada foto valha a pena.

Mesmo assim, garantem que viajam sozinhos. “Ela tira as fotos em que eu apareço e eu faço as fotos em que ela aparece. Quando aparecemos os dois usamos um tripé com um temporizador”, diz Jack Morris, que resume em três palavras o que é preciso para ser um influenciador de sucesso: “Paixão, originalidade e perseverança”.

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