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Atentado contra comboio de sírios evacuados deixa pelo menos 43 mortos

Transferência de milhares de civis e combatentes de ambos os lados fica bloqueada em Aleppo

Juan Carlos Sanz
Civis sírios evacuados de Fua e Kefraya esperam comboio em Al Rashidin.
Civis sírios evacuados de Fua e Kefraya esperam comboio em Al Rashidin.OMAR HAJ KADOUR (AFP)

Pelo menos 43 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas neste sábado perto de Aleppo, após a explosão de um veículo ao lado do comboio que realizava a evacuação acordada na sexta-feira pelo regime e os rebeldes sírios, segundo informações do Observatório Sírio para os Direitos Humanos. O acordo tinha como objetivo a transferência para zonas seguras de cerca de 30.000 civis e combatentes provenientes de quatro cidades sitiadas, duas em mãos do Governo e outras duas em poder da oposição. Diante da gravidade de muitos feridos, era provável que subisse o número de vítimas fatais.

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Imagens de um site local difundidas pela agência Reuters mostravam vários cadáveres, incluindo os de mulheres e crianças, ao lado de ônibus em chamas, assim como dezenas de feridos, alguns com membros amputados pela onda expansiva. Testemunhas do ataque relataram a um jornalista da France-Presse que um furgão supostamente transportando ajuda humanitária havia investido contra o comboio, formado por cerca de 75 veículos, antes de explodir.

As tarefas de evacuação da população sitiada tinham se paralisado na manhã de sábado em Al Rachidin, numa área insurgente situada a oeste de Aleppo, cidade totalmente controlada pelo regime desde dezembro passado. As discrepâncias quanto ao número de milicianos armados que podiam ser transportados pareciam ser a causa do bloqueio. Cerca de 5.000 evacuados das localidades xiitas governamentais de Al Fua e Kefraya (Idlib, noroeste) estavam retidos no local da explosão. O Observatório informou que 38 das vítimas mortais procediam de ambos os povoados; quatro eram membros das unidades da oposição que vigiavam a caravana; e a última não havia sido identificada.

Local do atentado, na periferia de Aleppo, minutos depois da explosão do carro-bomba.
Local do atentado, na periferia de Aleppo, minutos depois da explosão do carro-bomba.REUTERS TV

Outros 2.200 civis e combatentes procedentes dos vilarejos sunitas de Madaya e Zabadani, controlados por insurgentes, também se encontravam retidos pelas tropas leais ao presidente Bashar al-Assad na região estratégica de al-Ramusa, onde há um entroncamento de rodovias a sudoeste de Allepo. As quatro cidades evacuadas estavam situadas desde 2015 pelas respectivas forças inimigas. O acordo para a transferência da população foi selado em março passado com a mediação do Irã, aliado do Governo, e do Catar, que apoia a oposição, mas ainda não havia sido realizado por causa da desconfiança entre as partes após mais de seis anos de guerra civil.

Previa-se que os partidários da oposição seriam transferidos à província de Idlib, principal território insurgente no norte da Síria. Já os das zonas governamentais cercadas se dirigiriam a Aleppo, Latakia e Damasco. Entre os evacuados, viaja um grande número de mulheres, crianças e idosos, assim como centenas de combatentes do Governo e da insurgência autorizados a conservar suas armas leves.

As Nações Unidas tentaram levar ajuda humanitária às cidades cercadas, mas desde 2015 só conseguiram enviar alguns comboios com alimentos e remédios. Os casos de desnutrição e doenças se multiplicaram. Cerca de 600.000 pessoas vivem em zonas sitiadas por tropas inimigas, e ao redor de cinco milhões de sírios estão em zonas de difícil acesso devido à guerra.

Nos últimos meses, o regime de Assad ofereceu aos rebeldes uma série de “acordos de reconciliação local” para que abandonem os redutos cercados na companhia de suas famílias. O presidente lhes garante passagem segura aos principais feudos da insurgência; em troca, devem entregar posições que têm obrigado o Exército a remanejar forças das principais frentes de combate.

A oposição denuncia que, em virtude da fome e das privações, os sitiados se veem obrigados a aceitar acordos que desencadeiam uma “limpeza” de rebeldes sunitas nas zonas alauítas (ramo do islã xiita) controladas pelo Governo, o que configura crime de guerra.

Em entrevista publicada na quinta-feira pela France-Presse, Assad afirmou que os movimentos populacionais seriam provisórios e que os residentes poderiam regressar às suas cidades, uma vez que elas estivessem “limpas de terroristas (rebeldes, segundo a denominação do regime)”. Após as evacuações em massa de civis de Homs (2015) e do leste de Aleppo (2016), as áreas abandonadas pelos insurgentes se transformaram em distritos desabitados.

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