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Cada vez mais colombianos estão sobrequalificados para seus trabalhos

Pesquisa mostra que entre 2009 e 2016, a preparação acadêmica superior à exigida para um emprego passou de 14,9% a 20,1%

Estudantes colombianos.
Estudantes colombianos.REPRODUÇÃO
Sally Palomino

Os sites de busca de emprego na Colômbia estão cheios de ofertas. Abundam os anúncios para trabalhos com pouca remuneração, que mal superam o mínimo estabelecido pela lei (aproximadamente 930 reais). Muitos profissionais, com formações acadêmicas que acumulam vários títulos, acabam concorrendo a esses cargos diante da falta de opções que se ajustem às suas capacidades.

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Esse panorama foi revelado pela Universidade Externado no documento Marcado de Trabalho e Educação: desajuste educativo na Colômbia. De acordo com a pesquisa, entre 2009 e 2016, enquanto a subeducação (o escasso nível de educação formal para os trabalhos realizados), baixou de 35,3% a 30,3%, a sobreducação aumentou de 14,9% a 20,1%. O relatório mostra que a notável desaceleração registrada pela economia nacional pela queda, em 2014, dos preços do petróleo reduziu a capacidade de geração de emprego.

O documento, baseado em informação do Dane (Departamento Administrativo Nacional de Estatística), analisa os primeiros semestres dos anos de 2009, 2014 e 2016 para alertar que a sobrequalificação aumentou nas áreas urbanas, onde passou de 17% em 2009 a 22% em 2016 e nas rurais, onde subiu de 7,7% a 13%.

O estudo demonstra que 66,3% dos técnicos e tecnólogos têm mais formação acadêmica do que a exigida por seu trabalho. Alejandro Nieto Ramos, um dos pesquisadores, explica que o mercado de trabalho para os que decidem apostar nesse campo da educação “não lhes corresponde”. “Parece que suas capacidades não são valorizadas e existe uma concepção diferente em relação a esses profissionais, as empresas precisam deles, na maioria dos casos, para trabalhos que não fazem jus aos estudos que têm”, afirma o especialista.

Os autores do texto também concluem que as mulheres colombianas experimentam maiores taxas de sobreducação que os homens. “Cada vez mais mulheres estão chegando à educação superior, mesmo que continuem existindo fatores discriminatórios que afetam seu desempenho de trabalho e que, em alguns casos, impedem que subam na carreira”, diz Nieto Ramos, que coloca a maternidade como exemplo.

“Entre 2009 e 2016, o aumento da sobreducação feminina foi maior do que a masculina, com um crescimento de 41% contra 30%, respectivamente. Atualmente, além disso, mais mulheres trabalham com educação superior do que homens”, afirma o documento, que alerta que os trabalhadores que estão mais capacitados do que o exigido por seu trabalho, sentem-se mais insatisfeitos. Esse sintoma é maior entre os sobrequalificados. 18,3% deles não estão contentes com seu trabalho. Uma situação que, de acordo com o pesquisador, gera pouca estabilidade trabalhista e menor produtividade. “Isso repercute em custos para o panorama econômico”, acrescenta.

A recém-aprovada reforma tributária, que aumenta os impostos em produtos básicos, também terá um impacto no mercado de trabalho. A pesquisa demonstra que mais pessoas se verão obrigadas a buscar trabalho, sem importar se ele se ajusta a sua formação. “Dessa forma, o crescimento do emprego continuaria estancado e o mercado de trabalho poderia chegar a experimentar pressões com o aumento nos níveis de desemprego”, alerta o estudo.

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