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Trump pede muro “imponente” e que seja impossível de escalar

Governo estabelece requisitos básicos para as empresas que vão apresentar propostas de protótipo para fechar a fronteira

Pablo de Llano Neira
Trecho do muro já existente entre México e Califórnia.
Trecho do muro já existente entre México e Califórnia.AFP

O Departamento de Segurança Nacional publicou na sexta-feira à noite os requisitos básicos para o muro que o presidente Donald Trump mandou erguer na fronteira dos Estados Unidos com o México. As empresas que quiserem apresentar proposta deverão observar as seguintes condições: que o muro tenha altura ideal de 9 metros ou de pelo menos 5,5 metros; que seja impossível de escalar por uma pessoa; e que seu aspecto seja “fisicamente imponente”.

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Coerente com sua controvertida promessa eleitoral, que repetiu exaustivamente em cada comício e se tornou até um lema cantado em coro por seus seguidores, “Construa o muro!, construa o muro”, Trump quer uma barreira intransponível contra a imigração clandestina e o tráfico de drogas. A Segurança Nacional especifica zelosamente qual deve ser a capacidade de resistir a possíveis tentativas de atravessá-lo: “Deve impedir ou frear por um mínimo de uma hora a criação de uma brecha física (por exemplo, abrir um buraco no muro) superior a 30 centímetros de diâmetro ou de lado usando marretas, macacos hidráulicos, picaretas, talhadeiras, ferramentas de impacto operadas com bateria, ferramentas de corte operadas com bateria, soldadores de oxiacetileno e outras ferramentas manuais similares”.

O muro deve incorporar elementos que impeçam que seja escalado “com suportes de escalada primários ou mais sofisticados” e que possa ser superado com uma escada. Também tem que prevenir tentativas de passar por baixo, por escavação ou por um túnel. Canais subterrâneos são há anos uma especialidade dos traficantes de drogas para contrabandear sua carga.

Chama a atenção o alerta de que no lado com face para os Estados Unidos se exige que a divisória seja “de cor esteticamente agradável”. Para o lado voltado para o México não se requer o cumprimento de nenhum requisito estético. A Segurança Nacional publicou dois modelos de requisitos: um estabelece que o muro seja de “concreto” sólido e o outro deixa a possibilidade de que seja possível ver através dele. As construtoras têm prazo até 29 de março para apresentar os protótipos.

O documento foi emitido pelo Setor de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP na sigla em inglês), integrante do Departamento de Segurança Nacional. O CBP pretende contar com “múltiplos protótipos” de muro, talvez para poder usar um ou outro conforme as condições do trecho de fronteira. No esboço do orçamento que apresentou semana passada, Trump pediu 1,5 bilhão de dólares para começar a construção do muro em 2017 e outros 2,6 bilhões para 2018.

Já existe um muro físico em 1.100 dos 3.200 quilômetros da fronteira entre México e Estados Unidos, mas Trump quer estendê-lo por todo o limite e reforçá-lo. Washington prevê começar o trabalho em pontos fronteiriços cruciais, como El Paso (Texas), Tucson (Arizona) e El Centro (Califórnia).

Cerca de 700 empresas se interessaram em participar da construção do muro. Uma delas, a Ecovelocity, especializada em iluminação industrial, é mexicana. Trump afirma sempre que exigirá que o México arque com o custo do projeto, porque responsabiliza o vizinho pela imigração ilegal e pelo narcotráfico, e o México repete que jamais fará isso. O polêmico muro do presidente levou as relações diplomáticas entre ambos os países a um estado de tensão permanente. Não há uma data estimada para sua execução, mas há um orçamento preliminar do próprio Governo dos Estados Unidos: perto de 21 bilhões de dólares no total.

Na oposição, o Partido Democrata anunciou que tentará vetar um orçamento que inclua uma rubrica para a construção do muro. Até no Partido Republicano, do presidente, há vozes abertamente céticas sobre a adequação do projeto. “Se nós formos pagá-lo, me preocupa muito”, afirmou por exemplo o republicano Jeff Flake, senador pelo Arizona (650 quilômetros de fronteira). Outro senador republicano por esse Estado, John McCain, crítico de Trump, respondeu laconicamente quando lhe perguntaram se apoia o projeto do muro: “Não”. O elevado custo de construção provoca rejeição pelos republicanos, cujo dogma geral é a redução de gastos do Governo.

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