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Caso Odebrecht abala reta final do presidente Santos na Colômbia

Últimas revelações sobre o escândalo complicam o último ano de mandato do presidente

Francesco Manetto
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.JAIME SALDARRIAGA (REUTERS)

Juan Manuel Santos terá um objetivo central na última etapa do mandato. O presidente colombiano procura proteger sua herança, coroada por um acordo de paz com as FARC, ante a incerteza das eleições de 2018. Não bastasse a ansiedade, esta semana pairou sobre a administração a sombra do caso Odebrecht, que pode complicar a reta final de Santos como chefe de Governo e prejudicar esse legado, enquanto sua popularidade enfrenta um desgaste constante.

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O escândalo de corrupção já salpicou sua campanha de 2014, pois em fevereiro o Ministério Público vinculou parte de uma propina recebida por um ex-senador – um milhão de dólares (3,1 milhões de reais) – com as contas dessa disputa presidencial. A nova confissão do então chefe de campanha, Roberto Prieto, amplia agora as relações com a empreiteira à disputa de 2010. Prieto reconheceu que 400.000 dólares (1,24 milhão de reais) da campanha foram destinados à confecção de cartazes eleitorais, afirmando que essas contribuições eram irregulares.

Desde que esses dados vieram à tona, na terça-feira passada, Santos se empenhou em defendeu seu trabalho e o de seu Governo. Demorou apenas alguns minutos para difundir uma declaração dizendo que não estava ciente dos pagamentos da Odebrecht. “Acabo de saber”, afirmou. Nunca negou os fatos, o que transforma sua mensagem numa admissão indireta. Depois pediu ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que, através do ministro do Interior, estudasse a possibilidade de suspender a prescrição relativa às contas da campanha de 2010. O organismo nomeou um encarregado de implementar a operação.

O gesto, que busca mostrar transparência à população, não evitou que as suspeitas tornassem mais turvas as águas da disputa política. O escândalo abala a arena colombiana num momento em que, com a saída do vice-presidente Germán Vargas Lleras, a ser formalizada nos próximos dias, todos os possíveis candidatos se preparam para tomar posição numa pré-campanha que, de fato, já começou. A investigação do caso Odebrecht alcança também a oposição. Segundo o Ministério Público, existem provas que demonstrariam que a construtora interveio no financiamento das campanhas dos dois principais candidatos nas eleições de 2014. O principal competidor de Santos, Óscar Iván Zuluaga, do Centro Democrático (partido fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe), depôs no CNE de forma voluntária e negou as acusações, qualificando sua campanha de “honrosa”.

Um relatório da Missão de Observação Eleitoral (MOE), uma plataforma independente, destaca que, segundo dados oficiais, os cinco candidatos “gastaram 66 bilhões de pesos na campanha do primeiro turno e quase 19 bilhões de pesos no segundo turno de 2014”. No total, os gastos chegam a 85 bilhões de pesos (cerca de 89 milhões de reais). Cerca de 45% das contas da primeira votação foram cobertas por adiantamentos do Estado, mas nem Santos nem Zuluaga recorreram ao financiamento estatal. Essa circunstância, denuncia a MOE, “indica a magnitude de recursos que não estão sob controle estrito das autoridades e que poderiam ser bem maiores, levando em conta que persistem as dúvidas sobre o interesse das campanhas políticas em informar publicamente 100% da origem de seu financiamento às autoridades.”

Nesse contexto, a Colômbia chegará à campanha presidencial de 2018 com novas dúvidas que se somam às tensões políticas geradas pela negociação dos acordos de paz. Mas o principal alvo das críticas, pela responsabilidade que ocupa, é justamente Santos. Sua imagem foi afetada, segundo pesquisa do instituto Gallup divulgada no início de março, e mais de 70% dos cidadãos desaprovam sua gestão, 10% a mais que há dois meses.

Santos se dirigiu aos colombianos após vencer as eleições de 2010, com uma declaração de intenções que, de alguma forma, continua válida para a disputa de 2018. “Viramos a página dos ódios, das divisões”, afirmou. “Chegou a hora, e é a hora da unidade da Colômbia.” Embora tais palavras ainda continuem vigentes devido à polarização social, nos últimos sete anos as circunstâncias mudaram muito. O cenário inclui um acordo entre o Estado e as FARC, o fim do conflito armado com a principal guerrilha do país e também um Nobel da Paz. O presidente fará o possível para defender seu legado.

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