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Mulher de 64 anos dá à luz gêmeos após tratamento de fertilidade nos EUA

Mãe-avó teve outra filha, mas as autoridades espanholas lhe tiraram a custódia por falta de cuidados

J. J. Gálvez
Ibáñez, de 64 anos no momento da cesárea
Ibáñez, de 64 anos no momento da cesáreaEL PAÍS

Mauricia Ibáñez se apresentou cinco meses atrás num pequeno hospital privado de Burgos, cidade no Norte da Espanha, e anunciou: “Estou grávida de quatro meses”. Mauricia, que tem 64 anos, acabara de se submeter a um processo de fecundação numa clínica de Nova York. Seis anos antes, nesse mesmo hospital de Burgos, tinha dado à luz sua primeira filha, também graças a um tratamento de fecundação. Em 14 de fevereiro, pariu gêmeos. O primeiro, às 16h08, foi um menino, de 2,420 quilos. Um minuto depois, às 16h09, foi a vez de sua irmã, de 2,200 kg. “O parto transcorreu sem nenhum incidente”, salienta o coordenador assistencial do hospital, Sergio Ossa, que há vários dias tem que dedicar muito tempo para responder a jornalistas sobre um caso que provocou grande alvoroço na Espanha. Ibáñez teve gêmeos aos 64 anos, depois de terem lhe tirado sua primogênita por “desamparo” em 2014.

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“Os dois pequenos estão estupendos e num quarto com a mãe”, continua Ossa, que finaliza: “Descansando e se recuperando. Em 4 ou 5 dias poderão receber alta”. A previsão é que ela saia no início da semana que vem. Mas, enquanto reina a tranquilidade em seu quarto, fora dele se antecipa agitação. A transcendência pública do parto se multiplicou. Pela idade da mãe, submetida a um tratamento cujo custo pode superar 65.000 dólares (cerca de 200.000 reais) nos Estados Unidos, e porque Mauricia mantém uma disputa judicial com as autoridades espanholas pela custódia de sua outra filha, com quem vivia num pequeno povoado de 750 habitantes, Palacios de la Sierra.

Após denúncia dos serviços sociais do Governo regional de Castela e Leão, ao qual o povoado pertence, a Justiça decidiu tirar de Mauricia a custódia da criança. Segundo a sentença judicial, a menina sofria de “certo isolamento”, vestia-se de forma “inadequada”, apresentava uma “higiene deficitária” e residia numa casa sem as “condições higiênicas mínimas e saudáveis”. “A mãe tende a evitar se relacionar com outras pessoas. Tem um comportamento associal e de rejeição ao apoio familiar, o que leva a que a menor viva em local isolado do mundo exterior”, listaram os técnicos em seus relatórios, em que informavam que Mauricia não enviava sua filha à escola. Juan Carlos Sáiz, advogado da sexagenária, rechaça as acusações e explica que a mulher não teve relacionamento estável nas últimas décadas e não se propôs a ser mãe até ser mais velha. Indagado sobre como ela financiara a fecundação nas duas vezes, o advogado explicou que a mulher tinha alto cargo no Ministério das Relações Exteriores da Espanha e que, mesmo aposentada por invalidez, recebe pensão elevada. Além disso, vem de família abonada. O advogado acusa as autoridades espanholas de agir contra Mauricia por preconceitos “éticos e morais”.

Mauricia Ibáñez há anos quer ser mãe, apesar das dificuldades que enfrenta, incluindo a oposição da própria família. A mulher foi incapacitada laboralmente por sofrer de um transtorno paranoico de personalidade. Em 2009, quando tentou engravidar pela primeira vez, sua irmã recorreu aos tribunais para tentar que a declarassem em “estado de incapacidade total” e a proibissem de viajar ao exterior e de prosseguir num tratamento de fertilidade a que havia se submetido. Mas o juiz rejeitou o pedido depois de psicólogos terem determinado que seu estado “não a impede de cuidar de si mesma nem de cuidar de uma criança”. “Pode lhe dificultar que seja mãe, mas não a impede de exercer funções maternais”, concluíram os técnicos há oito anos. Desde então, a mulher não desistiu de sua intenção de ter filhos. E esta semana voltou a conseguir seu objetivo, com a idade de uma avó.

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