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Quer melhorar seu inglês? Aprenda com os erros gramaticais e ortográficos de Trump

Uma ameaça persegue o presidente desde sua candidatura: a polícia da boa redação

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.EFE
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Donald Trump não tem medo de dizer o que pensa. Isso já ficou bem claro em seus discursos e nos muitos tuítes que escreveu desde seus primeiros meses como aspirante à presidência. A maioria das suas frases e declarações vira notícia no mundo todo, mas de vez em quando elas chamam a atenção não tanto por seu conteúdo, e sim por seus erros gramaticais e de ortografia. Existe até mesmo uma conta no Twitter dedicada exclusivamente a expô-los e a corrigi-los. Os tuiteiros anglófonos usam a hashtag #trumpgrammar (“gramática de Trump”) para fazer o mesmo.

Não foi só o Twitter que notou os tropeços de Trump na hora de se expressar. Um estudo da Universidade Carnegie Mellon, da Pensilvânia, concluiu que o uso da gramática nos discursos do político equivale ao de um aluno do sexto ano do ensino básico. É verdade que, entre todos os candidatos presidenciais de 2016, nenhum tinha um nível de inglês superior a um aluno do oitavo ano, mas Trump foi o mais mal avaliado nessa análise, como mostra o gráfico abaixo.

O gráfico mostra o nível gramatical dos discursos dos aspirantes à presidência em 2016, assim como dos ex-presidentes Abraham Lincoln, Ronald Reagan, George W. Bush e Barack Obama.
O gráfico mostra o nível gramatical dos discursos dos aspirantes à presidência em 2016, assim como dos ex-presidentes Abraham Lincoln, Ronald Reagan, George W. Bush e Barack Obama.Carnegie Mellon

Trump recebeu críticas pelos erros que cometeu nas sete frases abaixo (pronunciadas ou tuitadas). Até o Twitter oficial do respeitado dicionário Merriam-Webster se uniu à polícia gramatical para corrigir o presidente. Aqui, contamos quais foram as falhas para que você não as cometa em futuras interações com algum falante de inglês.

1. Frase: “It could be somebody sitting on their bed that weighs 400 pounds.”

Tradução aproximada: Pode ter sido alguém sentado em uma cama que pesa 400 libras (cerca de 180 quilos).

Contexto: Foi o que ele disse no primeiro debate presidencial ao comentar supostas ações de hackers contra as contas de email do Comitê Nacional Democrata (DNC, na sigla em inglês). A frase completa era: “Não sei se foi a Rússia quem se infiltrou nos arquivos do DNC. [Hillary] Clinton diz que foi a Rússia. Talvez sim. Também pode ter sido a China, ou pode ter sido alguém sentado numa cama que pesa 400 libras”.

Problema: Pela forma como estruturou a frase, dá a entender que a cama é que pesa 400 libras, não a pessoa. O pronome that é usado para se referir a um lugar ou uma coisa, ao passo que who serve para pessoas. Por outro lado, somebody é um substantivo singular, por isso deveria ter usado o pronome possessivo his ou her, não their, que é plural.

A forma correta: It could be someone who weighs 400 pounds, sitting on his/her bed.

2. Tuíte: “Looks to me like the Bernie people will fight. If not, there blood, sweat and tears was a waist of time. Kaine stands for opposite!”

Tradução aproximada: Acho que o pessoal do Bernie vai brigar. Se não, seu sangue, suor e lágrimas foram uma perda de tempo. Kaine defende o contrário!”

Contexto: Esse tuíte é de julho de 2016, quando Hillary Clinton anunciou que Tim Kaine seria o candidato a vice-presidente do Partido Democrata, em vez de Bernie Sanders.

Problemas: Trump confundiu o advérbio there (lá) com o pronome possessivo their (deles). Também usa a palavra waist (cintura) em lugar de waste (desperdício). Conjugou incorretamente o pretérito do verbo to be na terceira pessoa do singular (was), em vez de usar a terceira pessoa do plural (were) para se referir a sangue, suor e lágrimas em conjunto. Como a frase é condicional, já que começa com if (se), seria melhor usar o futuro.

A forma correta: Looks like the Bernie people will fight. If not, their blood, sweat and tears will be a complete waste of time.

3. Frase: “She gave us ISIS, because her and Obama created this huge vacuum and a small group came out of that huge vacuum.”

Tradução aproximada: Ela nos deu o ISIS [sigla pela qual o Estado Islâmico é conhecido em inglês], porque ela e Obama criaram esse enorme vazio, e um grupo surgiu desse enorme vazio.

Contexto: Trump disse isso sobre Hillary Clinton durante o terceiro debate presidencial, em outubro de 2016.

Problema: Her é um pronome usado como objeto direto (“I saw her” – “Eu a vi”) ou como objetivo indireto (“That’s for her”: “Isto é para ela”). She é um pronome pessoal reto e serve para identificar o sujeito numa oração. Neste caso, o sujeito seria “ela e Obama”.

A forma correta: She gave us ISIS, because she and Obama created this huge vacuum and a small group came out of that huge vacuum.

4. Frase: “No matter how good I do on something, they'll never write good.”

Tradução aproximada: Não importa se eu fizer algo muito bem, nunca vão escrever nada de bom sobre mim.

Contexto: Declaração durante entrevista à Fox News, em agosto de 2016, comentando a cobertura da sua candidatura pelo The New York Times.

Problema: Good significa o adjetivo bom, ao passo que well é o advérbio bem, que serve para responder à pergunta “como?”. Neste caso, Trump estava descrevendo como faz algo, e por isso deveria usar well em vez de good. O outro good da frase, por ser um adjetivo, precisaria estar acompanhado de um substantivo, como things (coisas) ou stories (reportagens).

A forma correta: No matter how well I do on something, they'll never write good things/stories.

5. Tuíte: “National Review is a failing publication that has lost it’s way. It’s circulation is way down w its influence being at an all time low. Sad!”

Tradução aproximada: A National Review é uma publicação falida que perdeu o rumo. Sua circulação diminuiu muito, e sua influência nunca foi tão baixa. Que triste!

Contexto: Trump tuitou isso em julho de 2016, depois que a revista norte-americana publicou uma série de artigos pouco aduladores sobre o político.

Problema: It's é uma contração de it is (é), que não é o mesmo que its (o pronome possessivo seu, quando o possuidor é inanimado ou abstrato). Neste caso, deve-se usar its, pois a frase se refere ao rumo, à tiragem e à influência da National Review.

A forma correta: National Review is a failing publication that has lost its way. Its circulation is way down, with its influence being at an all time low. Sad!

6. Tuíte: “Ted Cruz is totally unelectable, if he even gets to run (born in Canada). Will loose big to Hillary. Polls show I beat Hillary easily! WIN!”

Tradução aproximada: Ted Cruz é inelegível, caso venha a sair como candidato (nasceu no Canadá). Perderá de muito se for contra Hillary. As pesquisas mostram que eu derrotaria Hillary facilmente. VITÓRIA!

Contexto: Tuitou isso em janeiro de 2016, quando ainda disputava a indicação republicana à presidência.

Problema: Loose significa frouxo, solto ou largo, para se referir a uma roupa, por exemplo. Lose é o presente do verbo perder. Trump deveria usar a segunda opção, pois queria dizer que Ted Cruz perderia para Hillary.

A forma correta: Ted Cruz is totally unelectable, if he even gets to run (born in Canada). Will lose big to Hillary. Polls show I beat Hillary easily! WIN!

7. Tuíte: “China steals United States Navy research drone in international waters – rips it out of water and takes it to China in unpresidented act.”

Tradução aproximada: A China rouba um drone de pesquisa da Marinha dos Estados Unidos em águas internacionais – o tira da água e o leva para a China num ato sem precedentes.

Contexto: Trump escreveu isso na sua conta do Twitter ao comentar uma disputa entre os Governos de Pequim e Washington pelo uso um drone submarino perto das Filipinas, em dezembro de 2016.

Problema: A palavra unpresidented não existe, como bem tuitou o dicionário Merriam-Webster em dezembro. Trump queria escrever unprecedented (sem precedentes). Além disso, falta o artigo indefinido antes da palavra, por se referir a um ato.

A forma correta: China steals United States Navy research drone in international waters – rips it out of water and takes it to China in an unprecedented act.

No final de 2016, o jornal britânico The Guardian elegeu unpresidented como a sua palavra do ano, dando-lhe a seguinte definição: situação em que alguém se prepara para dizer o que a maioria espera, mas na verdade acaba dizendo o que a maioria não espera.

Trump também corrigiu esse tuíte mais tarde.

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