_
_
_
_
_

Trump inicia o processo para reduzir a regulação financeira

Lei impulsionada pelo Governo anterior inclui regras para evitar episódios como a quebra do Lehman

Trump assinando o decreto
Trump assinando o decretoPablo Martinez Monsivais (AP)

Mostrando que continua seguindo ao pé da letra as promessas que fez durante a campanha eleitoral, Donald Trump assinou na sexta-feira dois decretos que iniciam o processo de revisão do pacote de medidas de regulação conhecido como Lei Dodd-Frank. Essa lei foi adotada por iniciativa do Governo de Barack Obama depois da crise financeira provocada pela quebra do banco Lehman Brothers, com o objetivo de controlar os grandes bancos e evitar abusos. O novo presidente dos EUA considera, entretanto, que o excesso de regulamentação afeta os negócios e a economia.

Mais informações
Trump afirma que suspensão de veto migratório ‘será anulada’
Casa Branca recua e adverte a Israel que assentamentos não contribuem para a paz
Trump adverte a líderes mundiais que não abandonará seu “tom duro”
Fed mantém taxa de juros, apesar de melhora na confiança em Trump

“Tenho amigos com boas empresas que não podem pedir empréstimos pro causa das normas”, comentou Donald Trump ao receber na Casa Branca o grupo de empresários do setor privado que vão assessorá-lo em questões econômicas. Entre os presentes estava o diretor-executivo do JPMorgan Chase, Jamie Dimon. O JPMorgan Chase, maior instituição financeira por ativos dos Estados Unidos, criticou muito, no passado, o excesso de regulação.

A Lei Dodd-Frank, que deve seu nome ao ex-senador Christopher Dodd e ao ex-deputado Barney Frank, ambos democratas, foi assinada em julho de 2010 pelo então presidente Barack Obama para aumentar a regulação e a supervisão sobre os grandes bancos. O objetivo das medidas contidas nessa lei é evitar que os bancos assumam riscos excessivos, como os que levaram à crise financeira de 2008, a mais grave desde a Grande Depressão.

A assinatura das duas ordens executivas que marcam o início do processo de revogação da reforma impulsionada por Obama entra, no entanto, em contradição com o ataque que Trump lançou durante a campanha contra os grandes titãs de Wall Street pelos excessos que levaram à crise. Esses mesmos executivos que o então candidato republicano demonizou, acusando-os de corromper o sistema político, são os que mais se beneficiarão deste eventual relaxamento do controle.

As ações das maiores empresas americanas responderam com uma alta à assinatura do decreto, no melhor dia desde meados de novembro, fazendo o índice Dow Jones superar o nível dos 20.000 pontos pela primeira vez. Entre os congressistas da oposição democrata, os mais críticos em relação à manobra, como a senadora Elizabeth Warren, consideram que a equipe do presidente tem “amnésia” e esqueceu qual era a situação oito anos atrás, provocada pelos excessos de Wall Street.

Passo simbólico

Trump promete reduzir a regulação de maneira ampla, como um incentivo para os negócios nos EUA. A assinatura dos decretos que marcam o início de revisão da Lei Dodd-Frank é, de qualquer forma, um passo simbólico, porque cabe aos congressistas reescrevê-la − e esse é um trabalho de grande complexidade. No momento da assinatura da ordem executiva esteve presente também Gary Cohn, que até algumas semanas atrás era o segundo na hierarquia do Goldman Sachs.

“A Dodd-Frank é uma política desastrosa que está entorpecendo os mercados e reduzindo a disponibilidade de crédito”, afirmou o porta-voz presidencial Sean Spicer. A primeira das ordens assinadas por Trump determina uma revisão integral dessa lei, como pede o setor financeiro. A segunda busca reverter uma norma que fixa as condições de investimento dos planos de pensões dos trabalhadores, um mercado que movimenta 3 trilhões de dólares (9,3 trilhões de reais).

A diretriz da Casa Branca vai fazer, na prática, com que as diferentes agências que regulam e fiscalizam o sistema financeiro comecem a estudar possíveis mudanças na legislação, para simplificá-la. O secretário do Tesouro terá de apresentar um relatório a respeito do assunto em 120 dias, detalhando o plano que deverá ser seguido. De qualquer forma, não se espera que haja uma revogação completa da lei, como o que Donald Trump quer em relação à reforma do seguro médico Obamacare.

A legislação financeira é muito mais complexa e o que o novo Governo procuraria seria eliminar custos, mais do que deixar espaço para que os bancos assumam risco. A Dodd-Frank inclui regras para evitar episódios como a quebra do Lehman Brothers. Entre elas está o aumento das reservas de capital que os bancos devem ter. Também foi criada uma agência para a proteção do consumidor. A revisão não estará livre de uma batalha no Congresso.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_