_
_
_
_
_

Secretário-geral da ONU pede o fim do veto migratório a Trump

“Esta não é a melhor maneira nem a mais eficaz para proteger os EUA”, disse Guterres

Antonio Guterres, em entrevista coletiva nesta quarta-feira, na sede da ONU.
Antonio Guterres, em entrevista coletiva nesta quarta-feira, na sede da ONU. Mary Altaffer (AP)

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, exigiu nesta quarta-feira do Governo de Donald Trump que elimine o veto imigratório “quanto antes possível”, pois este viola princípios básicos, e o lembrou de que, como qualquer país, os Estados Unidos têm a obrigação de administrar suas fronteiras de um modo “responsável”. A ONU reitera que os países membros da entidade não podem discriminar as pessoas por sua origem ou fé religiosa.

Mais informações
Chefe do Conselho Europeu define Trump como “ameaça externa”
Presidente demite secretária de Justiça que se negou a sustentar veto migratório
Latinos e judeus se unem nos EUA contra decreto de Trump: “Somos todos muçulmanos”
OEA: “O muro não é entre México e EUA, mas entre este país e a América Latina”

“Os países têm o direito, mas também a obrigação, de administrar as fronteiras de um modo responsável para evitar a infiltração de terroristas”, declarou o ex-primeiro-ministro português, ao mesmo tempo em que considerou que “qualquer forma de discriminação relacionada com a religião, etnia ou nacionalidade é contrária aos princípios fundamentais e valores de nossas sociedades”.

A ordem executiva assinada na sexta-feira por Donald Trump afeta cidadãos do Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen. O veto estará em vigor durante 90 dias e durará até 120 dias para o caso dos refugiados, que no caso dos sírios é por tempo indefinido. A medida provocou protestos em todo o mundo e está causando grande confusão porque dá muita margem a interpretações.

Guterres se dirigiu à imprensa no seu retorno a Nova York depois de participar da cúpula da União Africana, na Etiópia. Ao contrário das declarações mais genéricas que fez dias atrás, desta vez ele se referiu diretamente ao decreto que proíbe a entrada a cidadãos destes países de maioria muçulmana. A ONU considera que esse tipo de ação só é eficaz se estiver fundamentada em dados de inteligência críveis sobre uma potencial ameaça terrorista.

O secretário-geral da ONU alertou para o risco existente quando estas medidas são adotadas “às cegas”, porque este tipo de discriminação alimenta a ansiedade e a raiva que as organizações terroristas exploram em sua propaganda. “Esta não é a melhor maneira nem a mais eficaz para proteger os EUA ou qualquer outro país do terrorismo”, insistiu, ao mesmo tempo em que lembrou que “os refugiados vivem uma situação dramática e não têm opção a não ser buscar proteção”.

A ONU estima que haja 20.000 pessoas prejudicadas pela proibição

A principal autoridade da ONU esteve à frente da agência da entidade para os refugiados. O reassentamento dessas pessoas que fogem de seus países de origem, lembrou Guterres, é a “única solução” possível. Ele enalteceu os EUA por terem sido no passado um exemplo na hora de lhes dar assistência, especialmente para os sírios. Por isso espera que Washington volte a esse caminho político. A ONU estima que haja 20.000 pessoas prejudicadas pela proibição.

Guterres se mostrou muito firme ao expor a doutrina que conduz o trabalho das Nações Unidas nessas questões. “É óbvio que esta não é a maneira”, concluiu, ao mesmo tempo em que admitiu que a luta contra a ameaça terrorista é de grande complexidade. “Se uma organização terrorista global tenta atacar qualquer país, provavelmente não o fará com pessoas com passaportes de países que são hoje zonas de conflito”, ponderou.

O secretário-geral reiterou, porém, seu compromisso em dialogar com a nova administração norte-americana. O presidente Donald Trump prometeu durante a campanha eleitoral abandonar o acordo global para combater as mudanças climáticas e está estudando reduzir a contribuição financeira dos EUA à ONU. António Guterres recebeu na segunda-feira a credencial diplomática da nova embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley. Qualificou o primeiro encontro de “construtivo”.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_