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Dilma Rousseff: “O segundo golpe é impedir que Lula seja candidato”

Na Espanha, ex-presidenta do Brasil critica que seu antecessor seja acusado “sem provas”

Javier Martín-Arroyo
A ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, na manhã desta terça-feira em Sevilha (Espanha).
A ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, na manhã desta terça-feira em Sevilha (Espanha).PACO PUENTES

A ex-presidenta Dilma Rousseff disse que “acredita e espera” que seu antecessor Luís Inácio Lula da Silva se apresente mais uma vez como candidato à Presidência da República na eleição de 2018. “Será importante, para o Brasil, que Lula seja candidato. O segundo golpe, depois do meu impeachment, é impedir que Lula seja candidato, pois as pesquisas mostram que ele estaria na dianteira e ganharia a eleição”. Para a ex-presidenta, Lula foi acusado de corrupção por um promotor “sem provas, mas com convicção (...) Há uma política bastante distorcida contra Lula”, denunciou Dilma em uma entrevista coletiva nesta terça-feira, em Sevilha (Espanha), onde fez a abertura de um seminário internacional.

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Destituída pelo Senado brasileiro em agosto do ano passado por descumprimento de normais fiscais, Dilma chamou o atual presidente, Michel Temer, de “golpista” e seu Governo de “ilegítimo”. “Perdemos a batalha, mas não podemos perder a democracia”, destacou.

Com relação à morte, semana passada, do ministro Teori Zavascki, que ocupava posição central no caso da Operação Lava-Jato, a ex-presidenta defendeu que “diante das suspeitas existentes no Brasil de que pode ter sido um atentado, o caso deve ser investigado rigorosamente”. Dilma definiu Zavascki — relator no Supremo Tribunal Federal da megaoperação que vem revelando casos de corrupção na classe política do país — como “excelente jurista, que tinha muita experiência”, uma pessoa “íntegra” e “de caráter”, um jurista que “não se deixava influenciar”. “Não era perfeito, pois era um ser humano, mas é preciso reconhecer as suas inúmeras qualidades”, enfatizou. Dilma insistiu, ainda, na necessidade de se elucidar o caso: “Essa morte precisa ser investigada, precisamos saber o que aconteceu”.

Dilma se referiu também aos efeitos do caso Petrobras sobre a sua organização, o Partido dos Trabalhadores (PT). “Não se pode usar uma investigação sobre corrupção como arma de combate político e ideológico”. Em seguida, a ex-presidenta observou: “Não se pode construir uma justiça do inimigo, que é aquela que não exige provas, bastando as convicções para condenar ou acusar alguém”.

Dilma participa, ao lado do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e do juiz espanhol Baltasar Garzón, do seminário internacional Capitalismo neoliberal, democracia restante, que se realiza nesta quarta-feira e quinta-feira na capital andaluza.

Questionada a respeito do desgaste sofrido pelo PT nas últimas eleições regionais e os motivos de fundo que teriam levado a essa piora nos resultados do partido, a ex-presidenta defendeu sua organização, independentemente dos quadros corruptos envolvidos no caso Petrobras. “Todos os partidos passam por momentos críticos. O PT precisa passar por um processo de autocrítica porque não são só as pessoas que foram acusadas de corrupção. Como acontece com as empresas, os partidos não podem acabar quando se detecta que uma ou outra pessoa se envolveu com corrupção. O principal problema do partido é que precisamos entender a nova situação que está colocada”.

O caso Odebrecht, que envolve a multinacional brasileira com 160.000 funcionários, presente em 28 países e que mantinha uma área interna dedicada exclusivamente ao pagamento de propina em toda a América Latina, sofreu um tratamento desigual, segundo Dilma, que evitou censurar sua suposta corrupção e disse que se trata de mais uma das tantas existentes no cenário internacional. “Lamento que se destrua uma empresa só por se tratar de uma grande empresa brasileira. Quando o novo Governo realizou uma nova licitação internacional, todas as empresas que participaram sofrem acusações de corrupção. Por isso, não há como incriminar apenas as brasileiras, pois estaríamos acabando com empresas que têm grande capacidade de produção. E não me refiro apenas aos executivos, mas sim aos milhares de trabalhadores brasileiros. Não concordo com essa forma de tratar a Odebrecht”.

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