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Samsung culpa curto-circuito na bateria por incêndio dos Galaxy Note 7

Uma investigação da gigante sul-coreana confirma dois defeitos no design e fabricação das baterias do aparelho

Ramón Muñoz
Um Galaxy Note 7 que pegou fogo durante testes no laboratório da Samsung em Cingapura.
Um Galaxy Note 7 que pegou fogo durante testes no laboratório da Samsung em Cingapura.

A Samsung reconheceu oficialmente que a causa que levou alguns de seus smartphones Galaxy Note 7 a pegar fogo foram dois tipos de baterias com os quais estavam equipados e que apresentavam problemas de design e de soldagem, causando curtos-circuitos e provocando a combustão dos dispositivos, disse a empresa em comunicado.

A fabricante explicou que houve uma coincidência fatal nos dois tipos de baterias usadas em seu modelo, já que em ambas ocorreram curtos-circuitos, embora por razões diferentes. Em um tipo de bateria, que equipou os primeiros aparelhos lançados no mercado internacional em 19 de agosto de 2016, houve uma falha no design no canto superior direito que causou deformações no eletrodo negativo, criando um curto-circuito em algumas das células e subsequente superaquecimento, que se alastrava levando o dispositivo a pegar fogo.

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Essas primeiras baterias foram fabricadas pela Samsung SDI (embora na investigação sejam chamadas simplesmente como “bateria A”). Quando os primeiros casos apareceram e a Samsung começou a remover os terminais, usou para as unidades de substituição baterias da marca chinesa Amperex Technology Ltd (ATL) (denominadas como “bateria B” na investigação). Mas a pressa na fabricação resultou em um defeito na soldagem, que também causou curtos-circuitos e consequente superaquecimento dos dispositivos.

“Essas falhas ocorreram, em parte, devido às especificações e demandas que exigimos dos fornecedores. O Note 7 tinha uma bateria do mesmo tamanho que a dos modelos anteriores, mas com mais capacidade de carga, e precisava de novos processos de fabricação e montagem. Portanto, nos consideramos responsáveis pela falha ocorrida”, disse Koh Dong-jin, presidente da divisão de celulares da Samsung.

Investigação independente

A investigação da Samsung, que se baseou em relatórios de três organizações industriais independentes (UL, Exponent e TÜV Rheinland), conclui que a causa das explosões foram apenas as baterias e, em nenhum caso, um problema de hardware ou software. Na investigação interna, 700 engenheiros examinaram mais de 200.000 dispositivos e 30.000 baterias, segundo a companhia, que retransmitiu a conferência de imprensa pela internet.

A Samsung não está poupando esforços para recuperar a credibilidade perdida e anunciou a criação de um programa por um comitê de segurança técnico que irá monitorar os componentes das baterias. Além disso, a empresa elaborou um novo programa de verificação de oito pontos para assegurar que as baterias são seguras.

A gigante eletrônica da Coreia do Sul, maior vendedora mundial de smartphones, disse que 96% dos Galaxy Note 7 comercializados em todo o mundo já foram retirados do mercado e devolvidos à empresa, após a atualização do software realizada em 19 de dezembro que invalidou os terminais e impediu seu funcionamento.

A empresa recolheu cerca de três milhões de Galaxy Note 7 de dez mercados quando surgiram as primeiras queixas em setembro do ano passado, relatando que as baterias de lítio explodiam ou pegavam fogo durante a recarga. Depois disso, a Samsung relançou o terminal supostamente consertado, mas teve que recuar e suspender definitivamente a produção e distribuição do Note 7 em 11 de outubro de 2016, quando voltaram a ocorrer casos de telefones trocados que também se incendiavam.

A empresa sul-coreana, em seguida, lançou uma campanha de recolhimento de todos os aparelhos vendidos, com a opção de devolver o dinheiro ou substituí-los por um outro terminal da sofisticada marca. Autoridades dos Estados Unidos e, posteriormente, de outros países, proibiram o dispositivo em aviões e até mesmo em bagagens despachadas.

Recuperar a confiança

Com a publicação do relatório, a gigante sul-coreana espera recuperar a confiança dos consumidores e virar a página da crise que provocou a retirada mundial do seu sofisticado phablet. Para isso, aposta no Galaxy S8, embora muito possivelmente sua estreia seja adiada até o segundo trimestre, em vez do lançamento previsto no Mobile World Congress, que acontece em Barcelona no final de fevereiro.

O fiasco do phablet Note 7, programado para ser o terminal top de linha capaz de superar o iPhone 7, e cujo lançamento foi intencionalmente antecipado, ficou evidente na demonstração de resultados. O lucro operacional da divisão de eletrônicos do grupo sul-coreano foi de 5,2 bilhões de wons (cerca de 14,3 bilhões de reais) entre julho e setembro, 29,6% menos do que o registrado no mesmo período do ano anterior. As estimativas da empresa incluem cortes adicionais do lucro operacional no valor de 9,6 bilhões de reais nos próximos dois trimestres, mas essa previsão pode ser revisada nesta terça-feira, quando a Samsung deve divulgar os resultados do quarto trimestre do ano passado, onde projeções apontam para uma recuperação significativa do lucro operacional, graças ao aumento das vendas de chips e monitores.

A empresa também enfrenta atualmente um escândalo de tráfico de influência com a presidenta da Coreia do Sul, Park Geun-hye, causando um terremoto político no país devido ao seu sistema de clientelismo.

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