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Funcionarão as ‘Trumpeconomics’? Especialistas opinam

Especialistas respondem a três perguntas cruciais sobre as linhas mestras do Trumpeconomics

Um busto de cera de Donald Trump.
Um busto de cera de Donald Trump.PHILIPPE WOJAZER (REUTERS)

A política econômica esboçada até agora pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é de difícil classificação, como o resto de seu programa. Quer menos impostos e mais gastos, mas também manter algumas políticas sociais para os mais desfavorecidos, e deixando as contas públicas em ordem. Promete criar um ambiente amigável para as empresas, mas ameaça com mais tarifas se levarem produção para fora do país.

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As políticas de Trump podem solucionar os problemas que a globalização causou sem criar tensões comerciais? Como pode fazer o que diz sem prejudicar as contas públicas? É digna de crédito a promessa de Trump de duplicar o ritmo de crescimento econômico dos Estados Unidos (ou seja, até os 4%) ao longo de seus quatro anos de mandato? Especialistas de quatro renomados think tanks norte-americanos respondem a essas perguntas-chave.

As políticas de Trump podem solucionar os problemas que a globalização desencadeou, sem criar tensões comerciais?

Joseph E. Gagnon (Instituto Peterson de Economia Internacional): Os problemas da globalização podem ser reais, mas estão sendo exagerados e confundidos com os criados pela tecnologia. Ninguém pode solucioná-los de todo. Nem sequer está claro que podem ser resolvidos sem criar novos perdedores que se queixariam. Desde já, as políticas anunciadas por Trump não ajudarão e podem dar início a uma guerra comercial daninha. Mas ainda é cedo para saber o que ele fará.

Edward Alden (Council on Foreign Relations): Concordo com o objetivo de aumentar os investimentos nos EUA e as exportações. E também com a atualização de alguns aspectos nos tratados comerciais que ficaram antiquados. Mas o método que ele propõe pode ser muito prejudicial. O mundo tem uma longa história de uso de tarifas como estratégia para elevar o investimento. A política comercial é apenas um elemento pequeno para resolver os problemas que propõe.

Barry Bosworth (Brookings Institution): Não. Países como México (automóveis) e China (tecnologia) são partes integrais das redes de produção dos EUA. E as restrições comerciais podem prejudicar essas redes, por exemplo com a montagem do iPhone na China. Isso sairá caro para as empresas norte-americanas, e não vejo como pode gerar mais emprego nos EUA.

James Pethokoukis (American Enterprise Institute): O fato de ter menos comércio e conflitos comerciais não ajudará os trabalhadores que foram prejudicados pelo comércio. Em vez de tentar revisar os tratados comerciais ou convencer e seduzir as empresas para que mantenham o emprego em casa, os políticos deveriam se concentrar em preparar a mão de obra para um futuro que exigirá habilidades mais avançadas e uma maior formação tecnológica. O resto é distração.

Trump propõe mais gastos militares e em infraestrutura, combinados com uma redução generalizada de impostos para os cidadãos e as empresas. Como poderá fazer isso sem castigar as contas públicas?

Joseph E. Gagnon (Instituto Peterson de Economía Internacional): Ele não pode cumprir suas promessas em matéria de gastos e impostos sem aumentar o déficit orçamentário.

Edward Alden (Council on Foreign Relations): Há uma contradição fundamental nessa proposta. Se ele cortar impostos e elevar os gastos, o resultado será um aumento do déficit público. Sabemos, pela experiência do Governo Reagan – e sua equipe admira aquelas políticas –, que o efeito é elevar o valor do dólar, pois isso alimenta a inflação e obriga a Federal Reserve (banco central norte-americano) a aumentar os juros. Ou simplesmente porque isso intensifica o desequilíbrio na balança comercial, em vez de reduzi-lo como pretende. Trump corre o risco de minar seu próprio objetivo.

Barry Bosworth (Brookings Institution): Não pode. Mas, assim como ele, muitos economistas consideram desejáveis os efeitos dos estímulos no curto prazo, apesar de um maior déficit público. No longo prazo, não tenho certeza do que ele tem em mente.

James Pethokoukis (American Enterprise Institute): Como foi dito, isso sem dúvida elevará a proporção da dívida pública. Com as atuais políticas, esta subirá 10 pontos percentuais na próxima década, e as políticas de Trump podem agregar outros 20 pontos. Para complicar, ele diz que não quer reduzir os gastos públicos projetados para benefício da classe média, como o Medicare e a Seguridade Social. As contas simplesmente não fecham.

É factível a promessa de Trump de duplicar o ritmo de crescimento econômico dos EUA (ou seja, até 4%) ao longo de seus quatros anos de mandato?

Joseph E. Gagnon (Instituto Peterson de Economía Internacional): Não é impossível, mas muito provavelmente levaria a uma maior inflação e não poderia se manter.

Edward Alden (Council on Foreign Relations): É louvável querer repetir o crescimento dos anos cinquenta e sessenta. Mas dobrar o crescimento dos últimos 15 anos é impossível, salvo que ocorra uma revolução tecnológica. A expansão está vinculada ao crescimento da população e da produtividade. Se analisamos esses dois indicadores, o máximo que o país pode crescer é 2%. Com estímulos, poderia-se promover o crescimento temporariamente. Mas o resultado é a recessão, porque isso dispara as taxas de juros pela alta da inflação ou porque cria bolhas.

Barry Bosworth (Brookings Institution): Menos que isso. A economia não tem margem para crescer muito mais rápido do que agora sem correr um risco significativo de ter taxas de juros mais altas e maior inflação.

James Pethokoukis (American Enterprise Institute): É muito plausível conseguir uma acelerada do crescimento, mas as mudanças demográficas fazem com que hoje seja mais difícil obter um crescimento rápido. Manter inclusive um ritmo de expansão real de 3% no longo prazo é difícil. Você precisa de um bom aumento de produtividade. É possível, mas exigiria uma gama mais ampla de medidas políticas, além de simplesmente baixar impostos e desregular. Prometer um crescimento de 4% não é realista.

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