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Trump abre outro embate com China ao questionar a política sobre Taiwan

China responde duramente às novas declarações do presidente eleito dos Estados Unidos

Trump na revista chinesa “Global People”
Trump na revista chinesa “Global People”JOHANNES EISELE (AFP)

Donald Trump transformou a China no objetivo internacional de seus dardos verbais desde que ganhou as eleições de 8 de novembro. Ao questionar a política de cooperação que prevaleceu nas últimas quatro décadas, ele rompe uma regra não escrita. O republicano que, ao mesmo tempo, pisca o olho para a Rússia de Vladimir Putin, quer vantagens comerciais em troca de manter a relação atual com Pequim. O Governo chinês, estupefato em um primeiro momento com os ataques do presidente eleito, subiu o tom na segunda-feira.

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Se há uma questão que a China considera intocável é Taiwan, a ilha que mantém relações diplomáticas com 22 países e que Pequim considera parte inalienável de seu território. Donald Trump já tocou no assunto duas vezes em 10 dias. No domingo ameaçou não respeitar a política "Uma Só China "– o reconhecimento diplomático de Pequim e não de Taipei – a menos que a China faça concessões em áreas como o comércio. O Governo chinês respondeu com uma severa advertência: se Trump alterar essa posição, as relações bilaterais estariam em perigo.

O princípio de "Uma Só China" é “um assunto fundamental” para Pequim e a base sine qua non para manter relações com outros países, sublinhou ontem o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Geng Shuang. Se fosse “prejudicado ou colocado em perigo, não haveria possibilidade de um crescimento forte e contínuo das relações China-EUA, nem da cooperação bilateral em áreas importantes”. “Pedimos que o novo Governo norte-americano e seus líderes reconheçam a importância desse assunto, e o administrem de maneira sensata para não prejudicar as relações bilaterais”, insistiu.

O conselheiro de Estado, Yang Jieqi – o principal responsável pela política externa da China, acima do ministro Wang Yi – reuniu-se recentemente com o próximo secretário de Segurança Nacional, o general da reserva Michael Flynn, e outros representantes da equipe de transição de Trump, Geng revelou no domingo. A reunião aconteceu em uma parada de Yang durante sua viagem para a América Latina. “Trocaram pontos de vista sobre as relações bilaterais e outras questões importantes que preocupam as duas partes”.

A aceitação da política de "Uma China" por parte de Washington foi fundamental para a restauração das relações entre Washington e Pequim em 1972. Os dois países normalizaram completamente seus laços em 1978, e em 1979 os EUA romperam suas relações diplomáticas com Taipei. Desde então, e embora os EUA mantenham relações informais com Taiwan e fornece armas ao país, tanto os Governos republicanos quanto os democratas mantiveram esse princípio.

Trump disse que não se sente obrigado a manter essa posição. “Não vejo por que temos que estar ligados ao princípio de "Uma China" a menos que possamos chegar a um acordo com Pequim no qual possam entrar outras coisas, incluindo o comércio”, afirmou em uma entrevista à Fox News.

A questão de Taiwan

Trump já semeou o nervosismo no Governo chinês ao aceitar uma ligação da presidenta de Taiwan, Tsai Ing-wen, o primeiro diálogo direto conhecido entre líderes dos dois países desde 1979. Naquele momento, a resposta de Pequim foi relativamente moderada, e preferiu afirmar que a culpa foi um “truque” de Taiwan junto com a inexperiência do presidente eleito.

Como acontece com a maioria das posições do presidente eleito, não está claro até que ponto isso é improvisado ou obedece a um plano estratégico. Trump sente orgulho de ser imprevisível e de usar este recurso como uma tática política.

Na campanha, o então candidato já fez da China um dos seus argumentos. Acusou o gigante asiático de desvalorizar a moeda e atacava as empresas norte-americanas que transferiram sua produção para lá. Sua aproximação com a Rússia de Putin pode ser interpretada no mesmo sentido: se nos anos setenta Richard Nixon normalizou as relações com a China para combater a União Soviética, agora Trump poderia fazer o oposto.

Trump também declarou admirar a habilidade política dos líderes chineses em contraste com a suposta falta de jeito dos norte-americanos. Chegou a ameaçar retirar a proteção militar aos sócios de Washington na Ásia, como o Japão, o que deixaria o campo livre para o expansionismo chinês. E apostou na retirada do Acordo de Comércio do Pacífico (TPP), que incluía os Estados Unidos e uma dúzia de países da região e excluía a China.

A reação dos meios oficiais chineses, transmissores da posição de seu Governo, foi muito agressiva nesta ocasião. Se Trump fosse abandonar a política de "Uma Só China", Pequim “não teria por que preferir a paz, em vez da força, para recuperar Taiwan”, dizia o jornal Global Times, nacionalista e propriedade do Diário do Povo. A retirada dos EUA do acordo do Pacífico também apoia as posições expansionistas de Pequim. O Pentágono via neste acordo uma ferramenta fundamental no giro estratégico dos EUA para a região.

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