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Ilhas de excelência em meio ao caos

Alunos de escolas federais têm mesma pontuação que alunos de países desenvolvidos em avaliação internacional

A rede de escolas federais é uma ilha de excelência em comparação às escolas municipais, estaduais e até mesmo particulares no Brasil. Isso é o que mostra a avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes 2015 (PISA, em inglês), realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Cecília Bastos (USP Imagem)

Os 517 pontos que os alunos da federais conseguiram no PISA são comparáveis aos dos alunos da Coreia do Sul. Em leitura, os 528 pontos os colocam no mesmo patamar de Canadá e Hong Kong. E os 488 pontos de matemática, na mesma linha que os estudantes de Luxemburgo.

Recentemente, os institutos federais estiveram no centro de uma polêmica na divulgação dos dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por "equívoco", como informou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as notas notas de 96% das escolas federais foram excluídas da divulgação do Enem. A medida provocou muita discussão uma vez que as escolas federais ficaram com média melhor do que as demais escolas públicas do país.

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No PISA, Brasil conseguiu uma média geral de 401 pontos em ciências, comparados à média de 493 pontos dos demais países; 407 pontos em leitura, contra a média de 493; e 377 pontos em matemática, contra uma média de 490 pontos. Em ciências e leitura, o Brasil estacionou em relação a 2012. Mas em matemática, o país perdeu quase 12 pontos em relação à edição passada. Cingapura foi o país com melhor colocação nas três áreas, com 556 pontos em ciências, 535 em leitura e 564 em matemática.

O segredo do sucesso

Duas medidas diferenciam os países de sucesso daqueles que têm um rendimento ruim nas provas do PISA. "Primeiramente, se os países têm de escolher entre ter professores melhores ou classes menores, eles sempre investem nos professores. E segundo, eles colocam os melhores recursos – seja em dinheiro, professores ou gestores –, nas escolas que têm mais desvantagens", afirmou Andreas Schleicher, diretor de Educação da OCDE, em videoconferência organizada pelo Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).

Mais pobre que o Brasil, o Vietnã optou por investir na formação e carreira do professor. "Eles contratam menos professores, mas pagam mais", afirma Andreas. Cingapura e Japão, por exemplo, têm número de alunos por classe similares as do Brasil, mas com mais professores disponíveis. "Já no Brasil, o que se vê é que os professores têm pouco tempo para fazer outra coisa além de dar aula. E são os alunos de colégios mais pobres que recebem menos recursos", afirma Andreas.

Com melhor estrutura e mais investimento na formação de professores, que são incentivados a fazer mestrado e doutorado, as federais levam vantagem. Com carga horaria de 40h semanais, os professores têm até 18h para estudar e se preparar para as aulas, podendo até se afastar para se dedicar ao mestrado. "Isso seria um avanço na rede estadual de São Paulo", afirma o professor da rede pública de ensino Danilo Oliveira, que faz mestrado em história social na Unifesp. "São Paulo tinha um programa de bolsas de estudos para professores, mas quando eu procurei, no ano passado, ele estava suspenso."

Danilo se equilibra para dar conta da carga de aulas e do mestrado. Ele dá aula de história na rede estadual de ensino de São Paulo, nas escolas regulares e nas escolas de ensino técnico (ETECs). "As ETECs têm um número maior de alunos por sala, mas temos melhor rendimento que na rede estadual", afirma. E vários fatores ajudam neste resultado. Os alunos passam por um vestibulinho, que funciona como uma peneira inicial, além disso, a estrutura é melhor, com salas mais arejadas, e mais exigência de qualificação do professor, e mais apoio para resolver os problemas que os alunos trazem do fundamental. "Professores do ensino médio recebem alunos sem saber ler, escrever ou fazer as quatro operações básicas. Imagine em uma classe de 30 alunos, ter 12 com este tipo de problema", afirma.

Pedro Valente, 17, enfrentou recentemente esta falta de recursos ao se mudar para uma escola pública em São Paulo. Foi uma opção dele sair da rede particular, pois queria ter mais tempo e dinheiro para se dedicar ao conservatório de música. "Sabia que seria diferente, mas não tanto", afirma. Ele ficou quase um ano sem professor de geografia. "O professor de português foi trocado quatro vezes no ano, e sempre temos aqueles que simplesmente não vão", afirma. Pior a situação dos que tentam dar aula. "Os professores têm dificuldade para controlar a classe na rede pública".

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