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México decreta a maior extensão de áreas naturais protegidas de sua história

No âmbito da cúpula das Nações Unidas para a biodiversidade, Governo mexicano se compromete a proteger 91 milhões de hectares, na maioria marítimos

Elena Reina
Uma mulher mergulha no recife mesoamericano no Caribe.
Uma mulher mergulha no recife mesoamericano no Caribe.NORBERT WU

O México chega fortalecido nesta segunda-feira à cúpula das Nações Unidas pela biodiversidade (COP 13). Para inaugurar duas semanas de fóruns e debates sobre a proteção de espécies, em meio a representantes de 190 países reunidos em Cancún, o presidente da República, Enrique Peña Nieto, aprovou a maior extensão de áreas naturais protegidas da história de seu país. Com o anúncio de quatro Reservas da Biosfera, o Executivo se compromete a proteger 91 milhões de hectares, em grande parte marítimos, para blindá-los contra a exploração e extração de hidrocarburetos, além de resguardar as espécies em perigo de extinção.

No evento, qualificado de “histórico” pelo próprio presidente, foi feita a promessa ambientalista mais importante de sua administração: cumprir as Metas de Aichi (um compromisso mundial para 2020) por meio da conservação de 10% da superfície marítima do México e 17% da terrestre. Segundo declarou Peña Nieto em uma conferência nesta segunda-feira, o compromisso marítimo até foi duplicado –com as novas áreas o país chega aos 23%– e o terrestre está atualmente em 14%.

Além da Reserva da Biosfera do Caribe mexicano –a maior área protegida do país, com 5,6 milhões de hectares–, as zonas protegidas reconhecidas no ato foram a Reserva da Biosfera do Pacífico mexicano (uma faixa marítima de 800 metros de profundidade), duas ilhas do Pacífico, a Serra de Tamaulipas e áreas chamadas de “salvaguarda” para os manguezais e a floresta Lacandona.

A protagonista do evento foi a declaração da Reserva da Biosfera do Caribe mexicano. O objetivo é blindar esta área onde se se encontra o Recife Mesoamericano, o segundo maior do mundo, contra a exploração de hidrocarburetos. É a reserva que conta com um plano ambiental mais meticuloso, já que as outras zonas decretadas só possuem projetos não definitivos. Além de ser uma garantia para um dos destinos turísticos mais importantes do país, a conservação da área caribenha representa a sobrevivência de espécies em risco de extinção, como o tubarão-baleia e o tubarão-touro, a arraia-jamanta e as tartarugas marinhas. Na parte costeira, a reserva inclui parte do habitat da onça e da jaguatirica.

“Esta é a área máxima que qualquer governo já decretou. Estamos triplicando tanto a área protegida tanto marítima quanto terrestre que nosso país tinha antes”, resumiu o presidente mexicano. No entanto, os grupos ambientalistas levantam algumas dúvidas sobre essa declaração. “O projeto da Reserva do Caribe, que é de abril, ainda não conta com um plano de gestão ou algumas garantias para que o acordo seja cumprido. É muito bom que a área seja reconhecida, mas de nada serve o decreto se as regras não estiverem definidas o quanto antes”, explica o coordenador de campanhas de oceanos do Greenpeace, Miguel Rivas. O ambientalista acrescenta que, depois dos cortes no orçamento da Secretaria de Meio Ambiente (SEMARNAT), que tem 35% a menos para 2017, este anúncio pode terminar esvaziado.

Cancún nesta semana é a sede do órgão máximo de governo do Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB), iniciado em 1993. Na sua décima terceira edição, vai reunir representantes de 190 países que assinaram uma declaração na qual se comprometem a trabalhar para a integração da biodiversidade nas suas políticas, “estabelecendo marcos institucionais, legislativos e regulatórios eficazes e incorporando um enfoque econômico, social e cultural inclusivo com pleno respeito pela natureza e pelos direitos humanos”, diz o comunicado. Até 17 de dezembro, serão apresentados os avanços e as promessas em questões ambientais de cada nação, além de dezenas de exposições e fóruns paralelos sobre biodiversidade.

Cancún: Uma sede polêmica

A poucos metros do evento mais importante do mundo sobre biodiversidade, está um dos símbolos da luta ecologista mexicana. O manguezal Tajamar, de 60 hectares, foi destruído em janeiro deste ano para construir um megaprojeto hoteleiro. A luta dos ecologistas locais junto com a sociedade civil conseguiu parar as obras e preservar uma área privilegiada pela sua localização em frente à lagoa de Nichupte.

A costa do Caribe mexicano, tão cobiçada por macroprojetos hoteleiros com vista para o paraíso, foi substituída há décadas por urbanizações exclusivas, shopping centers e parques aquáticos, segundo denunciam as associações. Eles podiam se acorrentar a todas as palmeiras que ainda estavam vivas, porque isso iria acontecer, acrescentam. Mas foi por um pedaço de mangue, de água cinzenta, e nenhum azul celeste, onde se juntaram as forças que conseguiram uma vitória, histórica, para o movimento ecológico mexicano.

Esta semana a cúpula pela biodiversidade mundial vai começar ao lado do manguezal, e moradores e ambientalistas lembram as dificuldades para impedir a devastação perto do lugar onde Peña Nieto decretou a maior extensão de áreas naturais protegidas da história do país.

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