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A bússola é Messi

Nos momentos de dúvida e apuros como o atual, os azuis-grenás sempre recorrem ao 10

Ramon Besa
Messi, durante jogo contra a Real Sociedad.
Messi, durante jogo contra a Real Sociedad.Juan Manuel Serrano Arce (Getty Images)

Para efeitos comerciais e eleitorais, e naturalmente também futebolísticos, o tridente nasceu no Camp Nou no domingo 11 de janeiro de 2015 num jogo em que o Barcelona ganhou do Atlético por 3-1, com gols dos três atacantes, depois de uma derrota no Anoeta contra o Real Sociedad, pelo Campeonato Espanhol. A imagem de Suárez, Neymar e Messi ainda é um ícone na sede do Barça. Com o trio de ataque apelidado de MSN (iniciais dos três jogadores), o clube conquistou o triplete (três títulos na mesma temporada) e, em seguida, o doblete (dois títulos), troféus de sobra para recuperar a autoridade que busca desde a chegada de Cruyff ao elenco do Camp Nou em 1988. Depois da época do dream team, veio a etapa de Van Gaal, o sorriso de Ronaldinho acabou mais tarde com o luto de Gaspart, logo irrompeu a equipe de Guardiola e Tito – para então chegar Luis Enrique.

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O fio condutor do último ciclo vencedor tem sido o mesmo: Messi. O argentino dividiu o triunfo com os técnicos e os jogadores para a glória do clube. Em troca, quando ocorre uma derrota, ou vêm situações complicadas, os críticos normalmente se perguntam a respeito da dependência em relação ao atacante, como se fosse uma doença, um sintoma de que o senso de equipe havia se perdido.

O Barça está assim hoje, enquanto espera o Real Madrid. Messi foi reserva no último clássico, disputado no Bernabéu, quando o Barcelona ganhou por 4-0. Sergi Roberto jogou na ponta direita e o 10 entrou em campo no segundo tempo, substituindo Rakitic. E na última final da Copa do Rei, os azuis-grenás foram superiores ao Sevillla quando Rafinha entrou com Luis Suárez contundido após a expulsão de Mascherano.

Um clássico com 30.000 bandeiras "estreladas"

As entidades independentistas da Catalunha (ANC, Omnium, Drets e Plataforma Pro Seleccions Esportives Catalanes) distribuirão amanhã 30.000 bandeiras “estreladas” (símbolo do movimento independentista catalão), aos torcedores do Barcelona nas imediações do Camp Nou, antes do clássico contra o Real Madrid.

“O jogo tem uma grande repercussão na mídia, e daremos nosso recado”, disseram as entidades em nota conjunta, pedindo à torcida que mostre as bandeiras exatamente aos 17 minutos e 14 segundos do primeiro e do segundo tempos.

O virtuoso daquela partida foi Iniesta, cuja reaparição é anunciada para sábado como solução para costurar um conjunto que se fragmentou de tanto explorar um tridente cujos efeitos são decisivos, parecidos com os provocados também pelo ataque do Real com Ronaldo, Benzema e o hoje machucado Bale; ou desequilibram o rival ou a sua equipe, como aconteceu domingo no Anoeta.

Vela e Zurutuza advertiram que Neymar e Suárez não voltam para defender, uma tarefa da qual só Messi está isento. Os números do 10 continuam sendo extraordinários: 21 gols em 32 clássicos, 11 nos últimos nove jogos do Barça. A pegada de Neymar, por outro lado, diminuiu: virou mais assistente que goleador. As estatísticas de Luis Suárez também caíram. O uruguaio é o ponto final da equipe é seus números certificam que o problema do Barça é estrutural e não nominal, o que o próprio Messi já fez notar. “Precisamos jogar juntos e coordenados”, disse. Os jogadores ultimamente estão soltos demais, sem linha de passe nem um eixo definido. Um dia, entregues aos intermináveis lançamentos (54 contra o Málaga); em outro, aos tiros de meta do goleiro Ter Stegen (21 no Anoeta).

O Barça ficou desordenado após mudar o ataque sólido pelo contra-ataque vertiginoso, e também ao deixar de jogar com um falso 9 para se entregar ao tridente. “Estamos acelerados demais” admitiu o técnico, consciente de que o diferencial do jogo sempre foi a velocidade da bola, não os quilômetros dos jogadores; sempre foram o toque, o passe e a triangulação em vez da linha reta: questão de um segundo e um metro.

Simplificação do jogo

Os meias tocavam tão rápido e fácil que não nenhum adversário roubava a bola, por mais sincronizada que fosse a pressão. Até que seu futebol tornou-se inócuo e entediante em determinadas partidas. Foi quando o time optou por acelerar o jogo com o tridente. Mas entrega aos atacantes acabou sendo tão definitiva e cômoda que o futebol foi simplificado.

As jogadas já não são tão trabalhadas. O jogadores perdem a posição, a criatividade e o sentido de conjunto, entregues aos pontas e aos meias, que correm em disparada, sempre substituídos por Luis Enrique. Para o técnico, não há outra solução a não ser inverter as coisas e voltar a colocar o tridente a serviço do time, algo que significa aumentar a figura de Messi. Voltar a se entregar ao 10.

E, a partir do 10 e dos meias, o jogo normalmente flui melhor poque Neymar joga como 11 e Luis Suárez como 9, peças de um conjunto e não membros de uma parte única da equipe. O Barça sempre se reinventa a partir de Messi.

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