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A multidão grita “Força, Chape” e o time não para de angariar novos sócios

“Nossa prioridade é enterrar nossos guerreiros, mas no dia seguinte voltamos ao trabalho”, diz assessor

As arquibancadas do estádio da Chapecoense voltaram a ficar lotadas na noite desta quarta-feira com milhares de torcedores cantando as músicas de seu time a plenos pulmões, rezando e chorando. Foi dessa forma, fazendo o mesmo barulho – por vezes ensurdecedor – de uma partida de futebol, que Chapecó homenageou as vítimas do acidente de avião que matou 71 pessoas, entre jogadores e outros empregados da equipe, jornalistas e tripulantes – outras seis se salvaram. A vigília começou depois das 20h e a cantoria só foi interrompida quando um padre e começou uma reza, diante de familiares das vítimas, jogadores e funcionários do clube sentados no centro do campo. A emoção veio com ainda mais força assim que um telão começou a mostrar imagens dos falecidos na Colômbia. Lá, a milhares de quilômetros de distância, os colombianos fizeram sua parte. Também lotaram o estádio Atanasio Girardot, onde a Chapecoense jogaria contra o Atlético Nacional, e prestaram sua homenagem.

Tributo no estádio da Chapecoense.
Tributo no estádio da Chapecoense.NELSON ALMEIDA (AFP)

Assim terminou mais um dia de luto em Chapecó, que havia amanhecido com comércios e escolas fechados e ruas e avenidas pouco movimentadas para uma quarta-feira. Seus moradores se preparam agora para receber seus ídolos em um velório coletivo, sem data certa ainda. “Nossa prioridade é enterrar nossos guerreiros, mas no dia seguinte voltamos ao trabalho”, garante Andrei Copetti, novo diretor de comunicação da Chapecoense.

A prefeitura da cidade, que declarou luto oficial de 30 dias, já começou com os preparativos para que os corpos sejam levados do aeroporto até o gramado da Chapecoense. Agentes da polícia e do corpo de bombeiros fecharam ruas de Chapecó na tarde desta quarta-feira para realizar uma simulação do cortejo até a Arena Condá. A expectativa é que o velório ocorra na sexta-feira ou no sábado, dependendo dos trabalhos de identificação dos corpos. “As informações que chegam até nós é de que, como não houve explosão, o reconhecimento vem sendo rápido”, explica Coppetti.

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Enquanto a diretoria da Chapecoense se prepara para receber os heróis do clube, o vaivém constante de torcedores prestando homenagens no estádio continua. Alguns são mais pessimistas com relação ao futuro da equipe. “Pode colocar o time que for, não vai ser a mesma coisa. É difícil, né? Temos que superar, mas é difícil”, opina Douglas Moraes, de 19 anos. “Ainda não estou conformado. É como perder uma família. Eu olho para este estádio e não consigo aceitar... Era nosso vício. Vai ser difícil, mas temos que dar a volta por cima”, diz Giovani Moratelli, de 27 anos.

Em coletiva de imprensa durante a tarde, a diretoria da Chapecoense comemorou que, nas últimas 24 horas, 13.000 pessoas entraram em contato para se tornarem sócio torcedoras. "Atualmente temos 9.000 sócios pagantes. A dimensão que a gente tem jamais alguém imaginou. Isso demonstra o trabalho que fizemos", explicou Ivan Tozzo, presidente do clube.

Os próximos passos para o time

Mas e depois? O que acontecerá quando a Chapecoense voltar aos gramados? As conquistas dos últimos anos se mantêm. A equipe continuará na Série A no ano que vem e, no que depender dos outros times, pelas próximas três temporadas até que possa se recuperar do trauma. “Isso é essencial”, celebra Copetti. A proposta foi pensada e aprovada por 10 times da Série A do Brasileiro: Corinthians, São Paulo, Santos, Palmeiras, Coritiba, Cruzeiro, Fluminense, Botafogo, Vasco e Atlético-PR. A maioria simples das 20 equipes do campeonato basta para que a CBF aceite a sugestão e altere o regulamento da competição.

"Estamos bem estruturados, somos uma família que toma as decisões em conjunto e nunca gastamos mais do que recebemos", garantiu Tozzo, que apontou também quais são as prioridades a partir de agora para que a diretoria consiga reestruturar o time. "Dois pontos são essenciais: a manutenção na Série A por três anos e o aumento da cota de TV da Rede Globo. Precisamos muito do apoio dos clubes, da CBF e da Rede Globo neste momento". A cota de TV repassada pela Globo é a principal fonte de renda da maioria dos clubes da Série A. A Chapoecoense, por ser um dos menores clubes do campeonato em termos comerciais e de venda de pay-per-view, tem uma das menores cotas.

A Chapecoense vem recebendo muitas ligações de outros times e também celebra a oferta grátis de alguns jogadores, feita pelo mesmo grupo de 10 equipes da Série A. A intenção dos clubes é pagar os salários dos jogadores cedidos à Chapecoense, que poderia assim montar uma equipe nova e competitiva para 2017.

Além disso, se confirmado que o título da Copa Sul-Americana ficará com a Chapecoense, o time garante uma vaga na Copa Libertadores da América, a principal competição da região. A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) ainda não se pronunciou sobre o assunto, mas internamente a entidade já aceita a ideia. A entidade deve decidir nos próximos dias se o clube será campeão único ou se o título será dividido entre os dois finalistas. Se isso acontecer, a Chape também estará automaticamente classificada para a disputa da Recopa Sul-Americana em 2017 justamente contra o Atlético Nacional, adversário na final que o acidente impediu de acontecer. A equipe continuará a encantar seus torcedores e simpatizantes como nos últimos anos?

Andrei Copetti, diretor de comunicação do clube, é otimista. Os planos para, mais uma vez, reerguer o time ainda não são concretos e serão anunciados aos poucos. Mas ao menos já são “imaginados”, segundo explica. Ele diz que a Chapecoense se encontra hoje em melhores condições financeiras que no passado. “Em 2007, por exemplo, nossa folha de pagamento era de 58.000 reais com jogadores e 71.000 com a comissão técnica. Em 2011, nosso orçamento era de pouco mais de um milhão de reais e nossa folha de pagamento, 100.000”, explica. Ele lembra ainda de uma viagem de ônibus em 2009 de Chapecó até Alto do Araguaia que durou três dias. “Não tínhamos dinheiro para nada. Mas hoje temos o conhecimento de uma estrada já percorrida”, argumenta.

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