Os rostos dos esquecidos
O fotógrafo Lee Jeffries reflete com sua câmera o maior problema da humanidade, os sem-teto
Todos nós sabemos que eles estão por aí, em cada esquina, em cada arco. Mas esta sociedade caminha rápido demais para escutar seus lamentos, para dar-lhes ânimo. São os rostos curtidos pela solidão e pelo abandono. Os rostos dos esquecidos.
Lee Jeffries (Manchester, 1971) conhece bem esses rostos. Há oito anos vem escutando essas almas sem rumo, esses anjos perdidos, e refletindo com sua câmera um dos maiores problemas da Inglaterra e da humanidade: os sem-teto. Os retratos de Jeffries não deixam ninguém indiferente. Cada olhar esconde o peso do desamparo, da dor, da miséria, do revés que a vida pode trazer e do qual ninguém está salvo.
O preto-e-branco de suas fotos penetra ainda mais na profundidade das desgraças, ressalta as rugas de sofrimento, da fome. “O branco, metafisicamente, representa a fé, a esperança, o céu e Deus. O preto, a solidão e o desespero”, me conta Jeffries.
Nas redes sociais
Twitter: @Lê_Jeffries
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A complexidade de um bom retrato consiste em imortalizar a essência do sujeito em uma simbiose entre o fotógrafo, a câmera e o retratado.
“É um processo como se apaixonar. Você precisa ser aceito no mundo do sujeito que está sendo fotografado, de dentro para fora e não de fora para dentro. Meus retratos têm uma dimensão social, mas são muito mais profundos sobre uma base emocional e espiritual”, comenta Jeffries.
Ele prefere usar uma objetiva 24 mm para seus retratos, com uma câmera Nikon D810 ou uma Canon 5D. Mas Jeffries não é fotógrafo profissional. É contador. Dedica seu tempo livre à fotografia e usa suas férias para viajar para Miami, Los Angeles, Londres, Paris ou Las Vegas para escutar e fotografar os sem-teto.
Os retratos de Jeffries não mostram apenas rostos marcados pela dureza das ruas, mas também nos desnudam suas almas – almas que poderíamos ver bem sem a necessidade de suas fotos; bastaria pararmos e olharmos em seus olhos.
A primeira foto
Tudo começou em 2008, quando Jeffries estava em Londres para correr uma maratona. No dia anterior à corrida, Jeffries passeava pela capital britânica quando cruzou com uma menina sem-teto, enrolada entre mantas. Lee montou a lente 70-200 mm em sua 5D e tentou fazer uma foto. “Ela me viu e começou a gritar, chamando a atenção dos transeuntes”, conta. “Eu poderia ter ido embora, mas me aproximei para pedir desculpas”. Lee atravessou a rua e se sentou a seu lado. Seu jovem rosto marcado pelo vício por drogas teve um profundo impacto nele. “Ela ‘me abriu os olhos’, foi o catalizador e a razão para eu começar a me dedicar a eles”, diz Jeffries, recordando seu início. “Na vida nos encontramos com pessoas pelo caminho, através do amor, inconscientemente, pegamos partes delas, e para o bem ou para o mal elas fazem parte de quem somos”, conclui.