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Merkel concorrerá ao quarto mandato de chanceler para enfrentar o populismo na Alemanha

Líder democrata-cristã conta com elevada aprovação após 11 anos à frente da Alemanha

Luis Doncel

Os alemães presenciaram, neste domingo, o fim de um debate repetido insistentemente nos últimos meses. Cada vez que perguntavam a Angela Merkel, de 62 anos, se disputaria um novo mandato como chanceler (primeira-ministra da Alemanha), ela se limitava a responder que divulgaria a decisão “no momento adequado”. O momento chegou. Merkel anunciou numa reunião com dirigentes de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), que sua resposta é sim. A Chefa de Governo mais experiente da Europa será candidata nas eleições de 2017.

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“Quero servir à Alemanha. Estou pronta para me candidatar novamente”, disse Markel em entrevista coletiva. “A decisão de concorrer a um quarto mandato – após 11 anos no cargo – é tudo, menos trivial.” Merkel explicou que tomou a decisão após refletir “infinitamente”, consciente de que será a campanha mais difícil desde a reunificação da Alemanha, ante a “polarização” da sociedade, o auge do populismo de direito e os desafios aos valores compartilhados na Europa e no mundo.

Apesar dos rumores de cansaço, difundidos nas últimas semanas por pessoas próximas à chanceler, o “sim” de Merkel já era dado como certo. Faltando apenas 10 meses para as eleições, era pouco realista pensar na retirada da líder mais experiente da Europa, que continua com altos índices de aprovação. Sobretudo porque, nos 11 anos de mandato, sua sombra cresceu demais. Na CDU não há hoje ninguém com perfil de chanceler. O respeitado e poderoso ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, tem idade muito avançada. E a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, que às vezes aparecia como candidata para a sucessão, não agrada ao eleitor tradicional democrata-cristão.

Se havia alguma dúvida sobre a decisão de Merkel, sua continuidade ganhou força com a incerteza gerada pela saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. A mandatária alemã poderá agora concorrer nas eleições apresentando-se como a líder séria e responsável que o país necessita em tempos turbulentos. Em âmbito nacional, mostrará que é preciso votar nela para impedir um tripartite da esquerda.

No fim das contas, só resta Merkel. A mulher que chegou do leste quase sem experiência política, para cobrir um vazio no Governo do chanceler Helmut Kohl transformou-se na pessoa que provavelmente mais poder acumulou na Europa do pós-guerra. Merkel, chamada de “a menina” por seu mentor, avança agora para alcançar o mesmo nível das figuras míticas de seu partido. Se ganhar as eleições e permanecer durante todo o mandato, terá governado por 16 anos, dois a mais que o fundador de sua legenda e da Alemanha moderna, Konrad Adenauer, e o mesmo tempo que Kohl, o pai da reunificação.

Merkel mostra que o poder não desgasta. Continua firme diante de líderes europeus em permanente estado de fraqueza

Merkel mostra que, no seu caso, o poder não desgasta. Ela continua firme diante de líderes europeus em permanente estado de fraqueza. E faz isso com taxas de aprovação surpreendentemente mais altas. Apesar da deterioração sofrida com a entrada de 890.000 requerentes de asilo, no ano passado, e do auge do partido populista contrário à imigração AfD, 71% dos alemães aprovam a gestão da chanceler, segundo pesquisa do Instituto para Análises Eleitorais.

Outro estudo, publicado no domingo pelo jornal Bild, explica o motivo pelo qual até mesmo os sociais-cristãos bávaros da CSU, que há um ano atacam selvagemente a líder de seu partido irmão, vão acabar lhe dando apoio: 55% dos alemães desejam que Merkel lidere a Alemanha pela quarta vez, 13 pontos acima do resultado de agosto. A primeira-ministra arrasa entre os simpatizantes da CDU (92%) e entre as mulheres (66%), mas a maioria dos eleitores sociais-democratas também deseja sua continuidade. Segundo essa pesquisa, realizada pelo instituto Emnid, se as eleições fossem hoje a CDU e seus aliados bávaros da CSU teriam 33% dos votos, nove a mais que os sociais-democratas.

Sociais-democratas: indecisos entre Gabriel e Schulz

Os sociais-democratas alemães previam para o início de 2017 o anúncio sobre seu principal candidato nas eleições. Mas, após a notícia de Merkel, eles também estão mais pressionados. É provável que deem um passo antes do esperado. Os dois candidatos com melhor aprovação nas pesquisas são o vice-chanceler e líder do partido, Sigmar Gabriel, e o atual presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz. Este parecia destinado a trocar Bruxelas por Berlim para assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores, que ficará vazio quando Frank-Walter Steinmeier assumir a Presidência da República. O Frankfurter Allgemeine Zeitung informou que Schulz só estaria disposto a integrar o Governo se isso significasse também a candidatura a chanceler nas próximas eleições. O interessado desmentiu a reportagem.

Enquanto falava-se de Schulz, Gabriel obtinha uma grande vitória na corrida pelo Governo do Estado. O presidente do SPD fez uma jogada arriscada ao apostar em Steinmeier. Surpreendeu Merkel, que finalmente se deu por vencida e aceitou não propor nenhum candidato próprio para respaldar um social-democrata. Essa jogada deveria dar mais pontos para que Gabriel defenda seu direito de ser o candidato estrela do partido que lidera há sete anos. Mas as dúvidas continuam. As pesquisas negativas e a pouca estima que o setor esquerdista do partido sente por ele não parecem indicar nada positivo.

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