_
_
_
_
_

Insetos ganharam a batalha contra o meteorito que matou os dinossauros

Vida no hemisfério sul se recuperou duas vezes mais rápido do que no norte após o impacto

Área em que caiu o meteorito de Chixculub na Península de Yucatán, vista do espaço.
Área em que caiu o meteorito de Chixculub na Península de Yucatán, vista do espaço.ESA
Nuño Domínguez

Há 66 milhões de anos, uma rocha espacial de 10 quilômetros colidiu com a Terra causando uma explosão equivalente a 7 bilhões de bombas atômicas. O choque levantou uma enorme nuvem de rocha pulverizada que se elevou até cobrir o globo inteiro e mergulhar tudo em uma escuridão profunda. Tsunamis de mais de 100 metros varreram as costas do atual Golfo do México, onde o meteorito caiu, e aconteceram fortes terremotos. Parte dos escombros levantados pelo impacto começou a cair como minúsculos meteoritos e transformaram o planeta em um inferno de florestas em chamas. As plantas que não se queimaram ficaram sem luz solar durante meses. Três de quatro seres vivos no planeta foram exterminados, incluindo todos os dinossauros não emplumados.

Mais informações
Encontrado o segundo maior meteorito do mundo no norte da Argentina
México e os segredos do meteorito que acabou com os dinossauros
A evolução levanta voo

Uma das grandes incógnitas sobre o evento de extinção do Cretáceo é se existiu um refúgio onde a vida se manteve mais ou menos intacta. Alguns estudos localizaram esse oásis no hemisfério sul do planeta, especialmente perto do Polo.

“A maior parte do que sabemos sobre a extinção e a recuperação da vida na Terra após o asteroide vem do oeste dos EUA, relativamente próximo ao local do impacto, em Chixculub, México”, diz Michael Donovan, pesquisador da Universidade estadual da Pensilvânia (EUA). Sabe-se “muito menos” do que aconteceu em outras áreas mais remotas, afirma, mas há estudos recentes do pólen e dos esporos que sugerem que na Patagônia e na Nova Zelândia a extinção de plantas foi muito menor.

Estudos recentes sugerem que na Patagônia e na Nova Zelândia a extinção de plantas foi muito menor

Em um estudo publicado hoje na Nature Ecology & Evolution, Donovan e outros cientistas dos EUA, Argentina e China estão explorando a hipótese do refúgio do sul através da análise das folhas fósseis de antes e depois do impacto encontradas na Patagônia argentina. Especificamente, a equipe de pesquisadores analisou as pequenas mordidas deixadas por insetos herbívoros na vegetação para estimar quando foi recuperado o nível de biodiversidade que havia antes do desastre.

Os resultados mostram que, como foi observado no hemisfério norte, os insetos do sul praticamente desapareceram após a queda do meteorito. Mas os fósseis analisados também mostram que os níveis de diversidade de insetos se recuperaram em cerca de quatro milhões de anos, duas vezes mais rápido do que no norte.

“Estudamos também os minadores, rastros de deterioração nas folhas feitas por larvas de insetos ao se alimentarem”, diz Donovan. “Não encontramos nenhuma evidência da sobrevivência de minadores do Cretáceo, o que sugere que este não foi um refúgio para esses insetos”, explica, mas nos restos após o impacto logo aparecem novas espécies.

Os níveis de diversidade se recuperaram em cerca de quatro milhões de anos, duas vezes mais rápido do que no norte

O trabalho reforça a hipótese de que a vida voltou antes nas áreas mais distantes do ponto de impacto, “embora também possa ter existido outros fatores desconhecidos”, adverte Donovan. As diferenças no tempo de recuperação provavelmente influenciaram nos padrões de biodiversidade até a atualidade, afirma.

O trabalho também pode ajudar a explicar por que outras pequenas criaturas que se alimentavam de insetos acabaram conquistando a Terra depois de sobreviver ao meteorito que matou os dinossauros. “É possível que as mudanças na cadeia alimentar causados pela extinção dos insetos após o impacto, seguidas da recuperação dos níveis anteriores tenham afetado outros organismos, incluindo os mamíferos”, afirma.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_