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Rafael Greca é eleito e volta à Prefeitura de Curitiba após 20 anos

Disputa na capital paranaense foi marcada por empate técnico na véspera e ocupações de escolas

Rafael Greca votando neste domingo.
Rafael Greca votando neste domingo.Folhapress
Marina Rossi

Eleito pelo nanico PMN, Rafael Greca voltará à Prefeitura de Curitiba a partir de janeiro do ano que vem, 20 anos depois de seu primeiro mandato ter sido encerrado (entre 1993 e 1997). Após um segundo turno acirrado – a pesquisa Ibope de sábado a noite apontava para um empate técnico – Greca desbancou o rival Ney Leprevost (PSD), o candidato azarão, que iniciou a disputa com 5% das intenções de voto. Antes mesmo das 17h30, 78% das urnas já estavam apuradas e Greca estava matematicamente eleito na cidade.

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Gafe sobre pobres e acusações

Dois fatos marcaram a reta final da campanha de Rafael Greca em Curitiba e contribuíram para sua oscilação nas pesquisas: uma suspeita sobre a possível posse ilegal de obras de arte e uma gafe do futuro prefeito.

Reportagem publicada em setembro pela Folha de S. Paulo levantou a hipótese de que Greca estaria com algumas das 12 obras de arte que fazem parte do acervo da Casa Klemtz, em Curitiba, desaparecidas ao menos desde 2001. O jornal comparou fotos publicadas no perfil do Facebook de Greca com as imagens das peças desaparecidas. Greca era prefeito de Curitiba em 1995, quando a Fundação Cultural de Curitiba, pertencente à Prefeitura, comprou a Casa Klemtz. No dia seguinte à denúncia, a Prefeitura abriu uma sindicância para apurar o caso, que ainda não foi concluída. Peritos fizeram comparações entre as fotos de Greca e as imagens das peças. O laudo, ao qual EL PAÍS teve acesso, diz em um trecho haver "evidências notórias de se tratar da mesma peça".

Além do caso, Greca teve de lidar com a repercussão negativa de uma declaração. Em uma sabatina em setembro, o então candidato disse que quase vomitou por causa do cheiro de uma pessoa pobre. "Nunca cuidei dos pobres, não sou são Francisco de Assis. Até porque a primeira vez que tentei carregar um pobre pra dentro do meu carro eu vomitei por causa do cheiro", disse, ao responder sobre o crescimento de moradores de rua em Curitiba. "Era um homem muito sujo. Quando cheguei no albergue, a freira me disse: 'Lavo o doutor primeiro ou ele?'". Com as críticas, Greca teve de se retratar:  "Peço perdão pelas minhas palavras. Não tive a capacidade de explicar a dificuldade que vivi ao tentar realizar o trabalho de resgate social na minha juventude", disse, ao portal UOL.

“O Rafael voltou, o Rafael voltou...”, cantavam apoiadores do prefeito eleito ainda antes de metade das urnas serem totalizadas. Greca, que nos anos 90 governou a cidade pelo PDT, chegou à sede do Tribunal Regional Eleitoral de Curitiba às 18:35, sob aplausos e gritos. “Vou começar a trabalhar amanhã. A cidade tem que ser recomposta. Ontem saí em carreata e saí espancado pelos buracos”, disse.

Os buracos nas ruas não serão os únicos problemas que a nova gestão terá que enfrentar. Durante os debates, Greca prometeu resgatar projeto dos anos 90 de reintegração dos transportes municipal e metropolitano e diz que criará uma tarifa diferenciada para horários alternativos. Também prometeu reorganizar em 180 dias os 109 postos de saúde e as nove unidades 25 horas da cidade. Assim como o prefeito eleito em São Paulo, João Doria Jr. (PSDB), Greca se apoia em parcerias com a iniciativa privada para resolver o problema de falta de vagas em creches.

O segundo turno em Curitiba foi marcado pelo remanejamento de 533.000 eleitores para outros locais de votação por causa das escolas estaduais ocupadas por estudantes, uma onda que se iniciou no dia seguinte ao primeiro turno das eleições e completará um mês nesta semana, com cerca de 800 colégios ocupados em todo o Estado.

O governador Beto Richa (PSDB) foi um dos que tiveram que se dirigir a outro local para votar _a escola original, Amâncio Moro, está ocupada há três semanas. Richa, aliás, foi um dos vitoriosos também do domingo. Seu partido faz parte da coligação que elegeu Greca: o vice-prefeito eleito é o tucano Eduardo Pimentel. Apesar da aliança, governador, com baixíssima popularidade, ficou à margem da campanha.

Quase metade dos eleitores curitibanos votaram em branco, nulo ou se abstiveram de votar neste domingo. Dos 1,2 milhão de eleitores, 422.153 não votaram em nenhum dos dois candidatos. Para o futuro prefeito, o número alto é atribuído à “desilusão política”. “São órfãos de antigas bandeiras que a Lava Jato pulverizou e são pessoas desiludidas com a política”, disse. “Espero fazer um serviço público transparente, usar a verdade como método e usar o Papa Francisco como modelo”.

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