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Trump e Clinton transformam um evento beneficente no debate presidencial mais ácido

Comentários mordazes da democrata se chocam com o ataque frontal do republicano

Amanda Mars

Não existe trégua possível entre Donald Trump e Hillary Clinton. O evento beneficente da Fundação Al Smith, que reúne todos os poderosos da todo-poderosa cidade de Nova York, costuma ser uma espécie de cessar-fogo entre os candidatos presidenciais à Casa Branca em que, por um momento, baixam as armas, riem de si mesmos e lançam algum comentário gracioso, até mesmo ácido. Na noite de quinta-feira, no Waldorf Astoria, Trump quebrou essa – mais uma – tradição da campanha. Ela fez o habitual, atacar com chistes e várias pontadas venenosos; ele atacou com tudo e acabou recebendo várias vaias da nata da sociedade nova-iorquina. Era para ser um respiro na corrida eleitoral, mas se transformou no quarto e mais ácido debate.

“A melhor de minhas virtudes é a modéstia, até mesmo acima do meu temperamento”, disse Trump no começo, arrancado risadas, com o rosto sério, mas na linha do que se espera nesse jantar, que busca captar fundos para obras de caridade da Igreja Católica com discursos recheados de humor. “Hillary diz que se for eleita me quer como embaixador no Iraque ou Afeganistão”, continuou.

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As maiores gargalhadas no discurso de Trump foram à custa de sua esposa, quando o empresário nova-iorquino disse: “A imprensa está sendo mais tendenciosa do que nunca nessas eleições. A prova é que se Michelle Obama pronuncia um discurso, as pessoas adoram. Minha mulher, Melania, faz exatamente o mesmo discurso, e as pessoas criticam!”. Lembrou dessa forma o discurso de Melania na convenção republicana em julho, quando foi comprovado que sua fala copiava parágrafos exatos de um antigo discurso da primeira-dama.

Isso foi o mais próximo que ele esteve de rir de si mesmo. A partir desse momento, Trump foi Trump e ficou sério, com cara de poucos amigos. “Clinton está aqui fingindo que não odeia os católicos”, foi um dos comentários vaiados pelo público. “Hillary é tão corrupta que foi expulsa da Comissão Watergate, o quão corrupto é preciso ser para isso?”, atacou depois.

Repetiu até mesmo um de seus deslizes do debate da noite anterior, mas para torná-lo pior. “Ontem chamei Hillary de asquerosa, é relativo. Depois de escutá-la falar e falar, já não penso tão mal de Rosie O’Donell”, disse se referindo à atriz chamada por Trump de “porca” e “cachorra”.

Esse quarto inesperado debate, logo no dia seguinte ao último oficial, que ocorreu em Las Vegas, começou, da mesma forma que o da véspera, sem que os candidatos apertassem as mãos e se cumprimentassem. Como em um casamento no qual dois parentes brigados precisam dividir a mesa, Trump e Clinton jantaram muito próximos um do outro, separados somente pelo cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, que se virava para conversar à direita (onde estava Clinton) e à esquerda (Trump e sua esposa).

Um dos primeiros chistes de Clinton veio por conta de seus polêmicos discursos em bancos de Wall Street, pelos quais recebeu vultosas quantias, tal e como revelaram os recentes vazamentos do Wikileaks. Brincou com a sorte que tinham por ela estar ali: “já sabem que cobro caro para fazer isso”. Zombou de algumas brigas internas do partido democrata: “Como conseguiram fazer com que o governador [Andrew Cuomo] e o prefeito [Bill de Blasio] se sentassem juntos no mesmo jantar?”. “As pessoas dizem que não sou tão divertida como Trump, não é verdade, sou o centro das atenções de todas as festas em que vou na minha vida. Foram três”, disse e arrancou outras risadas, aludindo à imagem de frieza que a atribuem.

E na sequência começou a disparar contra seu rival. “Donald, eu e você temos algo em comum: o Comitê Nacional Republicano não quer colocar um centavo em nossa campanha”, disse, zombando da separação entre o o candidato e seu partido. “Quando as pessoas olham a Estátua da Liberdade, veem um símbolo orgulhoso como nação de imigrantes (...) Donald olha a Estátua da Liberdade e vê um 4. Talvez um cinco, sem a tocha e a tábua e com o cabelo diferente”. Fez referência também à denúncia de funcionários e fornecedores que acusam o empresário nova-iorquino de não os pagar, dizendo que admira muito sua chefe de campanha, Kellyanne Conway, que trabalha tão duro e talvez fique sem receber.

“Eu não fiz algumas brincadeiras que passavam dos limites”, ironizou a candidata democrata após seus ataques em referência ao discurso dessa noite, para introduzir um dos últimos chistes: “bom, mas isso vocês verão nos e-mails vazados pelo Wikileaks”.

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