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Coluna
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Quando você acha que está tudo dominado...

O resto é só ouvir a mensagem funkeira de MC Carol e Karol Conká, um recado da realidade ao mundo paralelo da publicidade

Marcelo Freixo, candidato do PSOL no Rio de Janeiro.
Marcelo Freixo, candidato do PSOL no Rio de Janeiro.YASUYOSHI CHIBA (AFP)

Quando você acha que está tudo dominado, que ninguém sequer assistiu ao enterro da última quimera, vem essa molecada e ocupa novamente escolas no Paraná e do interior de São Paulo. A peleja é contra a reforma do ensino médio do governo Temer, a inimputável máfia tucana da merenda do Alckmin, etc, etc. Mora na filosofia, meu amigo Monsueto, sem essa de enfiar goela abaixo, depois da emboscada golpista de Brasília. Vade retro.

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Cuidado Escola. A velha placa de alerta do trânsito é um sinal vermelho para o ministro da Educação, Mendoncinha e sua arrogância golpista em tons de coronelismo. Quando você acha que está tudo amaciado com a gastança publicitária do Palácio do Planalto, eis que os meninos ressurgem e se multiplicam feito Gremlins nos calcanhares dos burocratas. Não será moleza. Sorte nossa.

No que o poeta Oswald de Andrade mandaria, na lata, para animar o coreto: “A Felicidade do homem é uma felicidade guerreira. Viva a rapaziada! O gênio é uma grande besteira”.

Quando você acha que está tudo dominado e vê o governo federal retomando o 'primeiro-damismo' com Marcela Temer, as mulheres não dão moleza um segundo na marcha das vadias e do empoderamento. Aquela visão da “esposa” do presidente no comando das LBA's da vida, a extinta Legião Brasileira de Assistência, já era. O resto é só ouvir a mensagem funkeira de MC Carol e Karol Conká, um recado da realidade ao mundo paralelo forjado da publicidade oficial, muitas vezes embalada em forma de notícia nos jornais.

Quando você acha que está tudo dominado, epa, há sempre alguém alerta.

Farofa carioca

Quando você acha que está tudo dominado, vê um Rio de Janeiro com um sopro de vida na política de esquerda. A moçada festiva (por que não, por que não?) e resistente arrasta um candidato do PSOL ao segundo turno, aposta em financiamento coletivo eficiente e vislumbra ações de democracia direta na administração pública.

Quando você acha que está tudo dominado, sinto que pode renascer desse Rio gauche uma nova onda. Algo assim como o frescor de uma canção de Jards Macalé e Waly Salomão cantada distraidamente por uma moça de vestido e bicicleta no Aterro do Flamengo: “Mas quando você vai embora /movo meu rosto do espelho/ minha alma chora/ vejo o Rio de Janeiro/ vejo o Rio de Janeiro/ comovo, não salvo, não mudo/ meu sujo olho vermelho/não fico parado/ não fico calado/ não fico quieto/ corro choro converso/ e tudo mais jogo num verso/ intitulado mal secreto...”

Quando você acha que está tudo dominado, um homem sai do seu esmorecimento -nesses tempos sombrios- e descobre novas possibilidades.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Big Jato” (Companhia das Letras), entre outros livros. Comentarista de televisão nos programas “Papo de Segunda” (GNT) e “Redação Sportv”.

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