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Luiza Erundina, a idade e legenda nanica contra a candidata

Aos 82 anos, candidata pelo PSOL defende que tem saúde para governar São Paulo Avaliação negativa de sua primeira prefeitura é outro obstáculo a ser superado nas urnas

Erundina encontra a juventude do PSOL em SP em 24 de setembro.
Erundina encontra a juventude do PSOL em SP em 24 de setembro.Divulgação/Facebook

A paraibana Luiza Erundina era desconhecida de muitos paulistanos quando se candidatou pela primeira vez à prefeitura da cidade, aos 55 anos, pelo PT. Hoje, com uma trajetória familiar à maioria do eleitorado – e que inclui quatro mandatos recentes como deputada federal –, seu nome pode não ser um empecilho nessas eleições municipais, mas sua idade e seu partido, sim. Erundina, que se tornou a primeira mulher a governar São Paulo de 1989 a 1992, tem, com quase 82 anos de idade, a disposição para o trabalho no topo da lista de possíveis inconvenientes de sua nova candidatura, na visão de alguns eleitores.

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Na Câmara de Deputados, que frequenta como deputada desde 1999, Erundina faltou em 2015 em 30% das sessões da Casa, alegando problemas de saúde – segundo apontou o jornalista César Trali na entrevista que fez com a candidata no programa SPTV. Suas faltas corresponderam no ano passado a dois meses de ausência, o que leva muitos eleitores a desconfiar da energia de que ela dispõe para governar. Neste ano, foram oito as faltas até o momento. “Eu não sou velha. Porque eu tenho a juventude comigo. Eu tenho a comunidade GLTB comigo. Tenho os velhos comigo, os negros, os índios, os trabalhadores, as mulheres, eu tenho vocês. E juntos temos um sonho. E os sonhos não envelhecem”, declarou a candidata durante o lançamento de sua pré-candidatura pelo PSOL, em junho deste ano. O mesmo discurso ela reitera desde então em debates e sabatinas, em que sempre é questionada sobre o assunto, e, ao menos em campanha, tem demonstrado energia para percorrer a cidade com comícios e carreatas.

A legenda que representa, porém, trouxe duas dificuldades para ela. Sem a abertura a coligações, Erundina teve 10 segundos de tempo para propaganda eleitoral (João Doria Jr. tem 3 minutos e seis segundos, por exemplo) e tem apenas um representante na Câmara dos Vereadores. O PSOL também tem uma das candidaturas mais modestas (arrecadou pouco mais de 54.000 reais, segundo levantamento do G1, enquanto Marta, Haddad, Russomano e Doria arrecadaram mais de 2 milhões cada um), o que lhe deu pouco fôlego para expor suas ideias. 

Em 1992, ela deixou a prefeitura de São Paulo com apenas 20% da aprovação da população da cidade, segundo uma pesquisa do Instituto Datafolha. Duas das principais propostas que Erundina defendia há 25 anos – o passe livre nos ônibus e a taxação progressiva do IPTU (Imposto Territorial e Urbano) – não tiveram sucesso: a Câmara dos Vereadores barrou a gratuidade no transporte e a Justiça vetou a cobrança escalonada do tributo. Tinha, então, 18 vereadores na sua base (além do PT, PCB e PCdoB), dos 53 da Casa. Nas atuais eleições, ela recupera ambos projetos com os mesmos moldes, porém embarra numa Câmara ainda mais enxuta, com apenas um vereador, Toninho Vespoli, para apoiá-la. “O que eu posso fazer de diferente é eu mesma assumir a relação com a Câmara, que antes foi do secretário de Governo. Eu tenho esperança de que a qualidade dos representantes seja um pouco melhor do que na época e que eles pensem mais na cidade do que na sua reeleição”, disse em entrevista à Folha de S. Paulo.

Aí reside uma contradição. Desde sua pré-candidatura às eleições municipais, Luiza Erundina se posiciona fortemente contra as alianças partidárias – o que, por sinal, lhe afastou em um primeiro momento dos debates televisivos, como acontecia com os partidos nanicos até a decisão recente do STF de flexibilizar essa regra. Sua visão – que difere de posturas adotadas por ela no passado – gerou a crítica de que sua candidatura pelo PSOL (ao qual ingressou neste ano) divide a esquerda em um momento da vida política brasileira em que ela se vê bastante fragilizada. Nas eleições municipais passadas, Erundina apoiou Fernando Haddad (PT), mas este ano optou por lançar-se de maneira independente e com projeto próprio. “Quero saber qual é o projeto de esquerda que está em disputa? Eu não vejo”, afirmou.

Também há quem prefira não esquecer que a socialista formou com Michel Temer, em 2004, uma aliança para concorrer à prefeitura de São Paulo – costurada pelo então líder estadual do PMDB, Orestes Quércia (1938-2010). O presidente, que subiu ao poder depois de um discutido processo de impeachment, ocupou o posto de vice na chapa de Erundina quando ela estava no Partido Socialista Brasileiro (PSB). A troca de partido é outra reclamação que acompanha a candidata, que não esconde o projeto de criar um novo partido depois das eleições: o Raiz.

Se a idade e a experiência da gestão anterior inspiram reticência, a trajetória política da candidata é uma das mais defensáveis da presente disputa – ainda que contenha um episódio que caracteriza improbidade administrativa. Erundina foi condenada no Supremo Tribunal Federal pelo uso de verba pública para financiar, em 1989, um anúncio publicado na Folha em defesa da greve geral dos transportes quando era prefeita de São Paulo. Motivada por uma ação movida à época por um cidadão, a sentença saiu em 2000, e em 2008 ela teve de devolver à prefeitura 355.000 reais. Para reunir o valor, penhorou bens pessoais e contou com uma campanha feita por um grupo de amigos e apoiadores que angariou fundos. Não teve os direitos políticos cassados e mantém a ficha limpa.

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