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De saída da UE, Londres tenta bloquear propostas para a defesa comum europeia

Ministros de Defesa da União se reúnem na Eslováquia para tentar desbloquear iniciativas

O secretário geral da OTAN, Jens Stoltenberg.Foto: reuters_live | Vídeo: CHRISTIAN BRUNA (EFE) / QUALITY
Claudi Pérez

Em pleno processo de desligamento da União Europeia, o Reino Unido adota uma tática que, se fosse um time de futebol, seria descrita como “não joga e não deixa jogar”. Os ministros de Defesa da UE estão reunidos nesta terça-feira em Bratislava (Eslováquia) para tentar melhorar a defesa e a segurança comuns, tendo sobre a mesa as propostas da diplomata Federica Mogherini e um plano franco-alemão. Trata-se de buscar uma fórmula para aumentar a integração militar, com a criação de um quartel-general em Bruxelas que coordene os Exércitos e otimize os ativos do setor militar. Mas Londres não demorou a torpedear a reunião: “Vamos nos opor a qualquer ideia de um Exército europeu ou um quartel-general europeu que simplesmente solape a OTAN. A OTAN tem que ser a pedra angular da defesa da Europa”, disse o representante britânico, o conservador Michael Fallon.

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A Grã-Bretanha, em pleno processo de divórcio com a União, se isola cada vez mais. Nem sequer a OTAN apoia essa postura: “Não há contradição entre uma defesa europeia mais forte e uma OTAN forte: uma reforça a outra”, disse o secretário-geral da aliança militar ocidental, o norueguês Jens Stoltenberg. As relações entre o Reino Unido e a UE se movem entre o limbo e o paradoxo: Londres tem direito a veto nesses assuntos, mas só enquanto continuar sendo membro do clube europeu.

“O velho não acaba de morrer e o novo não acaba de nascer", escreveu certa vez Antonio Gramsci a propósito das sérias dificuldades dos períodos de interregno, entre a morte de um rei e a ascensão do seguinte. A saída do Reino Unido obriga a Europa a dar um salto adiante no projeto de defesa e segurança comuns. Sem Londres, o poderio militar da Europa se reduz notavelmente. A Europa precisa transmitir uma imagem de unidade, e o consenso é geral em matéria de defesa. Além disso, o Brexit pode desbloquear propostas que estavam aí há anos, mas que em parte nunca saíram do papel devido ao veto britânico. Mogherini, a alta representante de Política Externa da UE, afirmou que os ministros “querem usar todo o espaço para reforçar a estratégia europeia” em questões de defesa, mas que isso não inclui a criação de um Exército europeu.

Fontes ouvidas pelo EL PAÍS destacam que a proposta franco-alemã – ativada pelos ministros de Relações Exteriores Frank Walter Steinmeier e Jean-Marc Ayrault –, somada à estratégia de Mogherini, representaria o maior avanço desde os anos noventa. O renascido eixo franco-alemão, ao menos em matéria de defesa, propõe uma maior integração nessa área, políticas comuns de integração e direito de asilo e inclusive medidas para impulsionar o crescimento econômico, num documento de nove páginas intitulado com a pompa habitual: Uma Europa Forte em um Mundo de Incertezas. “Trata-se de construir bases sólidas que permitam à Europa agir rapidamente”, explicou a ministra alemã, Ursula von der Leyen. Seu homólogo francês, Jean-Yves Le Drian, destacou que as iniciativas europeias “não vão contra a OTAN”, buscando, em vez disso, “reforçar a capacidade de ação da UE”. Tanto faz. O britânico Fallon manteve o mesmo tom: “Vamos sair da UE, mas estamos comprometidos com a segurança da Europa, e no ano que vem vamos levar mais tropas para a Estônia e a Polônia”.

A polêmica está garantida. Se o Reino Unido vetar iniciativas em segurança e defesa, o chamado Grupo de Visegrad (liderado pela Polônia) ameaça impedir qualquer acordo entre Londres e a UE para que o Brexit seja formalizado. Apesar da posição do Reino Unido, o Tratado de Lisboa oferece uma ferramenta que será fundamental para a segurança europeia, o mecanismo de cooperação estruturada permanente, pelo qual os Estados que assim desejarem poderão reforçar sua cooperação militar e mobilizar missões rapidamente, entre outras coisas. Esse mecanismo já estava presente nas discussões do Conselho e parece a opção mais viável para melhorar concretamente a integração da defesa. Pode ser que Londres impeça isso valendo-se novamente do seu poder de veto. Mas isso só será possível enquanto continuar na UE.

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