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Estados Unidos acusam a Rússia de atos de “barbárie” na Síria

ONU e Washington dizem que forças russas e de Al Assad realizaram pelo menos 158 ataques aéreos contra o leste de Aleppo em uma ofensiva “sem precedentes”

Um homem inspeciona a destruição de um edifício após um ataque aéreo em Aleppo, no domingo.Vídeo: REUTERS / EL PAÍS VÍDEO

Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França pediram no domingo uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU pelos sucessivos ataques que as forças russas e sírias estão lançando em sua ofensiva geral contra os bairros do leste de Aleppo, sob controle dos rebeldes. A sessão serviu para demonstrar, mais uma vez, a continuação do conflito. Os EUA acusaram a Rússia de cometer atos “bárbaros” na Síria e de abusar de seu poder de veto no Conselho. O embaixador russo respondeu que a paz é uma missão “quase impossível”.

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Com a trégua que os Estados Unidos e a Rússia acertaram em Genebra no dia 9 completamente destruída, os bombardeios aéreos se multiplicam sobre a área rebelde de Aleppo com o apoio russo. O ataque norte-americano no qual o país, por erro em uma ofensiva contra o Estado Islâmico, admitiu que pode ter matado na semana passada mais de 60 soldados sírios em uma base aérea do regime no norte só serviu para deixar a situação mais complicada.

Nos últimos três dias ocorreu um novo aumento de violência na principal cidade do norte da Síria. Segundo os cálculos da embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, ocorreram pelo menos 158 ataques com 139 vítimas mortais, uma cifra corroborada pelo enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, diante do próprio Conselho de Segurança.

“O que a Rússia está fazendo não é antiterrorismo, é uma barbárie”, criticou Power no principal foro internacional. “A Rússia tem o poder de acabar com esse sofrimento. Não existirá paz na Síria se a Rússia continuar com essa guerra”, alertou Power em referência ao apoio militar e político que Moscou dá ao regime há quase um ano, com uma mobilização que fez a guerra mudar quando Bashar al-Assad parecia estar a ponto de perdê-la.

Aleppo está dividida em dois desde 2012, controlada no oeste pelo Governo de Al Assad – que conta com o apoio da Rússia, Irã e de milícias xiitas do Líbano e Iraque –, e no leste pelas tropas rebeldes, que recebem ajuda dos Estados Unidos, Turquia, Arábia Saudita e as monarquias do Golfo. Já morreram mais de 300.000 pessoas na guerra e o conflito deixou desabrigada praticamente metade da população do país. Mais de cinco milhões de refugiados fugiram aos países vizinhos e aos países ocidentais.

Ban Ki-moon, o secretário geral da ONU, que está na parte final de seu mandato, se declarou “horrorizado” pelo aumento da violência militar. “Não existe nada que justifique o que está acontecendo diante de nossos próprios olhos”, afirmou por sua vez o mediador De Mistura, que tentou sem sucesso promover as negociações de paz em Genebra.

A Rússia, pelo seu lado, culpou no domingo os Estados Unidos pelo fracasso da trégua por não conter as violações do cessar-fogo feitas por seus aliados insurgentes. Através de seu embaixador nas Nações Unidas, Vitaly Churkin, afirmou que a paz é hoje uma “tarefa quase impossível”.

“A responsabilidade está nas [mãos da] Rússia, deve provar sua vontade e capacidade de dar passos extraordinário para salvar os esforços diplomáticos”, disseram em um comunicado conjunto o Reino Unido, França, Alemanha, Itália, os Estados Unidos e a União Europeia.

Matanças e destruição

Em uma ofensiva sem precedentes em mais de cinco anos contra Aleppo, lançada pelo regime de Damasco com apoio russo, pode estar o episódio mais trágico da guerra na Síria. Organizações humanitárias denunciaram que as aviações síria e russa são as principais responsáveis pelas matanças e destruição em Aleppo oriental desde segunda-feira, quando acabou o cessar de hostilidades negociado pelas duas potências.

Desde sexta-feira, a ofensiva geral só agravou a situação humanitária dos 250.000 civis presos nos distritos do leste de Aleppo.

As tentativas para estender o cessar-fogo, que continuaram em Nova York, por conta da Assembleia Geral da ONU, fracassaram na noite de quinta-feira em uma reunião do chamado Grupo de Apoio à Síria, liderado por Washington e Moscou e do qual participam vinte países, incluindo os respectivos aliados dos adversários.

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