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Campeonato Espanhol
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

O maior apagão do Campeonato Espanhol

Pela primeira vez, todos os astros – incluindo Messi, Cristiano e Griezmann – passam em branco

José Sámano
Messi no jogo contra o Atlético de Madrid.
Messi no jogo contra o Atlético de Madrid.M. Fernandez (AP)

Na Liga das Estrelas, como é adequadamente apelidado o Campeonato Espanhol, não há precedente de que numa mesma rodada os sete melhores atacantes do torneio passem em branco. Insólito. Mais adiante veremos se foi unicamente um fato episódico. O fato é que, na quinta rodada do atual torneio, Cristiano Ronaldo, Benzema, Bale, Messi, Luis Suárez, Neymar e Griezmann não deixaram o rastro habitual. Três deles – o francês, o galês e o argentino – não conseguiram nem sequer remar até o final, os dois primeiros por decisão técnica, e La Pulga por contusão. Dos demais tampouco sobrou muito para contar. Como salientava o jornal Marca, os ilustres atacantes do Barça e do Real Madrid haviam entrado em campo na mesma rodada do Espanhol em 28 ocasiões, e nunca havia ocorrido de todos saírem de mãos abanando. O dado fica ainda mais chamativo quando se acrescenta Griezmann, completando o elenco dos principais candidatos às bolas de ouro da FIFA, da France Football e do imaginário popular. Sintomático?

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Tanto no duelo do Santiago Bernabéu (empate por 1 a 1 entre Real e Villarreal) como no do Camp Nou (1 a 1 entra Barça e Atlético), o futebol coletivo não funcionou, e tampouco houve lampejos individuais da estirpe ofensiva mais rutilante do planeta. Ninguém fez exibições de gala, ninguém se sublevou, todos saíram murchos. Acostumados a resolver muitas partidas sozinhos, desta vez todos os fidalgos ficaram neutralizados, engolidos por seus próprios senões e pelos campos minados dos rivais. O Real, parasitado desde o primeiro tempo, não encontrou o seu vulcânico segundo ato. O Barça, mais acadêmico que pujante, ficou aquém, e o Atlético, que tanto no 0 x 0 quanto no 1 x 1 segue os ensinamentos de Simeone, deu mais passos para trás do que para frente, com ou sem Messi pela frente.

A resposta dos treinadores dos três grandes aspirantes teve substância. Real, Barça e Atlético se apresentaram na jornada com os bancos bastante reforçados. Com jogadores que, supõe-se, já não obrigam a fazer adaptações nas equipes titulares em dias calmos, mas que se presume que sejam uma boa garantia. Esta semana, com um duelo de altura máxima em Barcelona e outro de essência em Chamartín ante um Villarreal europeu, só se escalou como titular um contratado, Gameiro.

Até o momento,  os suplentes do Real e do Atlético foram melhor do que os do Barça

Com uma decepção à vista, Zidane se valeu de dois agitadores como Morata e Lucas Vázquez, que já lhe haviam dado alguma preocupação. Simeone fez o mesmo com Fernando Torres e Correa, ambos capitais no tento de empate, como já tinham sido partindo da sombra em outras ocasiões. No feudo azul-grená, Luis Enrique pensou em André Gomes com Busquets, uma posição artificial para o português, e Arda com Messi, com Alcácer, único atacante puro, sem tecla alguma. Apesar da leve melhoria do turco em alguns capítulos anteriores ao choque com sua ex-equipe e certos registros do lesionado Umtiti, ninguém deixou mais dúvidas até o momento que os suplentes barceloneses. Questão que se agrava com a pausa obrigatória de Messi durante três semanas.

Os três técnicos tiraram conclusões acertadas ao término das partidas. Zidane veio dizer que a sua equipe tinha driblado mal no primeiro tempo. Alguma coisa tem a ver com ele, pois já tivera avisos críticos diante do Celta e do Sporting de Portugal, e também no Bernabéu. O francês nada indicou sobre se no futuro imediato fará os reservas se aquecerem com tempo suficiente para prevenir acontecimentos como as lesões de Casemiro em Cornellá e Marcelo ante o Villarreal. Nos dois casos, ninguém estava em alerta para a substituição imediata, com consequências funestas para o Madrid no 0x1 do Villareal. Não parece ser necessário uma cátedra para arranjar o remédio.

Luis Enrique argumentou que será difícil “que com este calendário Messi possa rodar”. Já não se trata da pequena dificuldade desejada por Leo, mas de seu púbis, sua musculatura, que o podem deixar de dieta futebolística por muito mais tempo que alguém desejaria. Cabe ao asturiano evitar males maiores, e para isso formou o quadro. Se sua equipe tivesse despertado diante do Alavés, o rosarino teria poupado alguns minutos. O mesmo se deu com a intervenção do treinador quando em um encontro praiano com o Celtic lhe concedeu todo o tempo. Por certo, com o 7x0 diante dos de Glasgow nem esgotou as três mudanças.

Nenhum dos aspirantes ao título está tranquilo, pois todos já perderam pontos

Simeone alegou que seu Atlético não pôde jogar como queria “por muitos motivos”. Talvez um deles tenha sido que, obtido o empate e com o Barça aturdido pela baixa de Messi, Griezmann foi mais visto interferindo nos ataques dos adversários do que atirando contra Ter Stegen. O mesmo quanto a Torres, posicionado como dique na própria meia cancha. É um sonho quase irreal achar que se pode contra-atacar com os seus atacantes a 70 ou 80 metros da área rival, e sem cheirar a bola.

Por umas e outras, e por isto e aquilo, é chocante que com cinco jogos o Madrid já tenha perdido dois pontos e passado por mais apuros do que os previstos em outros encontros. E mais surpreendente ainda que o Barça tenha descontado cinco pontos em casa e o Atlético já tenha deixado seis. No dos azul-grenás e colchoneros, tendo dois de ascensão recente, caso do Alavés e Leganés. Tudo está tão indefinido que até as estrelas chegaram a ter um apagão total.

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