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Merkel enfrenta uma nova derrota eleitoral em Berlim

O pior resultado já obtido pela CDU na capital alemã aumenta a pressão sobre a chanceler

Luis Doncel
O vice-chanceler e líder social-democrata, Sigmar Gabriel, e o prefeito de Berlim, Michael Müller, após a divulgação dos primeiros resultados das eleições de domingo.
O vice-chanceler e líder social-democrata, Sigmar Gabriel, e o prefeito de Berlim, Michael Müller, após a divulgação dos primeiros resultados das eleições de domingo.ODD ANDERSEN (AFP)
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Os berlinenses deram neste domingo uma sonora bofetada nos dois grandes partidos que governaram a capital alemã – e o país – na última legislatura. O golpe mais duro foi recebido pela União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão) de Angela Merkel, que, segundo as primeiras contagens, terá de se conformar com 18% dos votos. É o pior resultado da história do partido em Berlim. A debacle eleitoral se une a outras que a CDU acumula nos últimos meses, e coloca ainda mais pressão sobre a chanceler Merkel e sua política para refugiados. Um profundo mal-estar abate a Casa Konrad Adenauer, a sede da CDU, um ano antes da realização de eleições federais às quais Merkel ainda não anunciou se concorrerá.

Desde que começou a crise dos refugiados, cada encontro da CDU com as urnas resultou em catástrofe. Primeiro foram os pleitos tríplices de março, nos quais o grupo de Merkel ficou em segundo lugar em seu feudo tradicional de Baden-Württemberg e viu frustradas suas expectativas de conquistar Renânia-Palatinado. A humilhação há duas semanas em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental foi ainda maior: pela primeira vez na história do partido se viram ultrapassados por um partido à direita, os populistas anti-imigração da Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão). Na ocasião, a CDU obteve um apoio de 19%. No domingo em Berlim foi menor ainda. Ninguém sabe o que pode acontecer daqui a um ano, mas começam a ser ouvidos rumores de algo que até agora parecia impossível: será melhor prescindir de Merkel pensando em 2017?

Ao contrário dos democratas-cristãos, o Partido Socialdemocrata (SPD) pode olhar para o copo meio cheio. Trata-se da força mais votada em Berlim, e seu candidato e atual prefeito, Michael Müller, poderá continuar no cargo. Mas ainda que o partido mantenha o poder, os números são devastadores.

Os socialdemocratas ganham, mas com menos de 22% dos votos – quase sete pontos a menos do que há cinco anos, segundo estimativas ainda não definitivas. Um dos piores resultados de sua história de mais de cem anos. Diante da queda de democratas-cristãos e socialdemocratas, os grandes vencedores são as forças situadas nos extremos. Os ultraconservadores AfD surgem do nada e os pós-comunistas do Die Linke ganham impulso e, segundo dados ainda provisórios, situam-se como terceira força, muito próximos do Partido Verde.

Nunca antes na Alemanha um partido ganhou as eleições com um apoio tão magro. Berlim oferece pistas de um processo que afeta todo o país: a perda de poder dos dois grandes partidos – que somam pouco mais de 40% de apoio –, e a crescente dispersão do voto. Caso esse fenômeno se confirme, ele terá profundas consequências na governabilidade do país. Por enquanto, a atual coalizão de socialdemocratas e democratas-cristãos que governava Berlim será substituída por um tripartido, provavelmente formado por socialdemocratas, verdes e pós-comunistas.

O debate dos refugiados

A campanha para pedir o voto de 2,5 milhões de berlinenses foi repleta de temas polêmicos: a má situação de muitas escolas, o aumento do preço da moradia, a insegurança da população... Mas ao lado desses problemas locais levantava-se a questão que domina o debate político em todo o país há um ano: a crise dos refugiados.

Como já aconteceu com outros líderes regionais da CDU, o candidato berlinense tentou se distanciar da política de Merkel e mostrou sua cara mais dura. Os resultados foram desastrosos. A população favorável à acolhida de refugiados apoia partidos mais à esquerda, e os contrários se voltam ao AfD.

De pouco serviram os ataques de Merkel ao prefeito da capital, a quem acusou de “eximir-se da responsabilidade” sobre os problemas. E de pouco serviram os ataques de Müller aos xenófobos. “As pesquisas dão 14% à AfD. Isso seria visto no mundo como uma volta da ultradireita e dos nazistas à Alemanha”, escreveu o ex-prefeito há alguns dias em sua conta no Facebook.

A cidade-Estado de Berlim não votava no domingo apenas em um novo Parlamento regional, mas também elegia os representantes de seus doze distritos. E, devido ao sistema eleitoral berlinense, é muito provável que a ascensão do AfD permita que membros do partido encarreguem-se de funções executivas nos distritos. “Se conseguirem ser representados, terão pessoal e meios para dar vazão a sua visão da sociedade. Este partido exclui as pessoas por sua origem e religião e agita uns grupos contra os outros. Não quero que as decisões sobre economia, educação e juventude estejam em suas mãos”, respondeu o prefeito Müller esta semana em uma entrevista ao EL PAÍS.

Müller se candidatou às eleições prometendo novos investimentos em serviços públicos e moradia acessível, além de comemorar um crescimento superior à média alemã e um índice de desemprego de 10%. Apesar de ser uma porcentagem muito alta para os padrões do país, é o menor desde a reunificação de 1990. Mas essa imagem tão positiva contrasta com uma cidade com grandes bolsões de pobreza e nas quais os serviços públicos se deterioraram depois de anos de baixos investimentos.

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