_
_
_
_
_

“Quero milhões de beijos por essa ação heroica”, disse o capitão

No WhatsApp, o militar apontado como infiltrado disse que manifestantes estavam sendo perseguidos Willian Pina Botelho também contou por que não foi detido e se gabou por isso

Marina Rossi

Antes de ser banido do grupo de manifestantes que teve 21 participantes detidos no domingo 04, o militar Willian Pina Botelho - ou Balta, como se identificava nas conversas do aplicativo - disse que estava seguro de que o grupo estava sendo perseguido. "Eu tenho certeza que fomos seguidos", disse, às 17h27. As detenções ocorreram cerca de duas horas antes daquela mensagem e os manifestantes apontam Botelho, que é capitão do Exército, como infiltrado.

Mais informações
Apontado como infiltrado por manifestantes é capitão do Exército
Juiz solta manifestantes: “Brasil não pode legitimar ‘prisão para averiguação”
“Vocês não queriam ser presos pela ditadura? Agora estão sendo”

No momento da detenção, Botelho estava com os 21 manifestantes. Quando eles foram levados para a delegacia, o militar já não estava mais. No WhatsApp, justificou sua ausência entre os detidos dizendo que portava um documento de identidade falso. "Falei pro PM que eu não tava com ninguém [do grupo]. Que estava ali porque ia sair com uma mulher casada", escreveu. Usou um termo criminal para se explicar. "Menor potencial ofensivo", disse ele. De acordo com o Código Penal, quem for pego portando identidade falsa pode ser punido com três meses a um ano de pisão, ou apenas pagar uma multa "se o fato não for constituído como crime mais grave".

Ainda no grupo de WhatsApp, Botelho pediu para que os demais não falassem dele. Ele afirmava ter medo de retaliações no trabalho - ele dizia ser gerente de projeto para as meninas que conhecia no Tinder, outra rede que usava para se aproximar de manifestantes. "Não falem de mim. Se meu chefe saber [sic] ele me demite", escreveu.

Enquanto todos os demais estavam preocupados com os detidos, ele dizia que queria se infiltrar nas manifestações dos grupos a favor do impeachment. "A gente tá querendo [se] infiltrar na manifestação dos coxas", disse, se referindo de maneira jocosa aos manifestantes anti-Dilma.

Ao longo das duas horas, entre a detenção dos 21 e o banimento do militar do grupo - quando os demais perceberam que ele seria o infiltrado - Botelho também se gaba por ter se safado. "Gente. Eu quero milhões de beijos por essa ação heroica", escreveu.

Ele disse que os policiais perguntaram o que é black bloc, e ele teria respondido que em Minas Gerais - ele é da cidade mineira de Lavras - eles não sabem. Também disse para que os demais não se preocupassem com ele. "Eu to separado deles [o grupo que foi para a delegacia]", afirmou.

Em dado momento, o grupo discute enviar a notícia das detenções para a rede de notícias Mídia Ninja. O militar então questiona o por quê. Um dos participantes diz que é porque estão prendendo pessoas sem "alegação coerente". É quando Botelho afirma que "tem coisa na mochila das meninas".

Nos pertences dos detidos, a polícia encontrou máscaras usadas em construção civil, equipamentos de primeiros socorros, capacete, máquina fotográfica, pilha, bateria e um extintor de incêndio. É o que consta no Boletim de Ocorrência registrado no momento em que o grupo deu entrada na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic).

Até o fechamento desta reportagem, a secretaria de Segurança Pública de São Paulo não havia respondido por que Botelho, que foi enquadrado com os demais no Centro Cultural naquele domingo, não foi levado para a delegacia com o grupo.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_