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O bolão da Champions

Competição distribui até 57 milhões de euros para o campeão e movimenta mais de 500 milhões em direitos televisivos

Diego Torres
Sergio Ramos, no jogo diante do Osasuna.
Sergio Ramos, no jogo diante do Osasuna.Carlos Rosillo

Desde sua fundação em 1992, a Champions League tem sido a competição de clubes que garante mais prestígio no conjunto do futebol mundial. Além do mais, nos últimos anos se transformou na única via possível de ascensão à elite de um setor cada vez mais concentrado em poucas instituições que não param de crescer. Um caso extraordinário na planície econômica europeia. O palco da velha Copa da Europa se constituiu no objetivo estratégico para dirigentes que buscam conseguir as honrarias tanto quanto equilibrar as contas. O torneio que começa na terça-feira e acaba em Cardiff, em 3 de junho do ano que vem, já não alenta apenas o sonho dos jogadores de erguer o troféu. A Champions é a quimera de ouro.

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Vencê-la não é imprescindível para obter gigantescos prêmios em dinheiro. Na temporada 2009/2010 o valor mínimo que a UEFA pagou a cada um dos 32 clubes que se classificaram para a fase de grupos foi de 3,8 milhões de euros (14 milhões de reais). Desta vez a UEFA pagará uma cifra-base de 12,7 milhões de euros (46,7 milhões de reais) a cada participante, acrescidos ainda de bônus pelo resultado até completar um máximo de 57 milhões de euros (210 milhões de reais) para o campeão. A essa quantia se somará a quota de direitos televisivos que será distribuída segundo o porcentual de mercado que cada equipe representa, de um bolo que alcançará 507 milhões de euros (1,87 bilhão de reais)

Real Madrid, Barcelona e Manchester United são o poder econômico estabelecido. Entre os clubes que aspiram a saltar para o topo, nos últimos anos cinco se destacaram: Bayern Munique, Juventus, Manchester City, Atlético de Madri e PSG. Todos elevaram de modo espetacular seus orçamentos graças à participação, mais ou menos bem-sucedida, ao longo dos últimos cinco anos.

Em comparação com as receitas do Real Madrid, Barcelona e Manchester United (este ano fora da competição), que em 2011 oscilavam entre 350 e 450 milhões de euros, o relatório da Deloitte só situava em uma posição sólida o Bayern (321 milhões de euros). A Juventus (153), o City (169) e o Borussia Dortmund (138) apareciam afastados. O PSG mal surgia como um emergente do grupo. O mesmo caso do Atlético.

O bolo que a UEFA reparte para os clubes

A UEFA, organizadora do torneio, distribui entre os clubes pelo menos 75% da receita bruta que a Liga dos Campeões produz. O 25% restante se destina a cobrir os gastos de administração. As cifras nunca deixaram de aumentar. A seguir, a evolução, em euros, da parte do bolo que os clubes receberam em cada temporada.

2009-10: 750 milhões

2012-13: 1 bilhão

2015-16: 1,25 bilhão

2016-17: 1,31 bilhão

No último informe o PSG ocupa a quarta posição entre os clubes mais ricos, com uma margem comercial de 480 milhões de euros, seguido do Bayern (474), City (463), Juventus (324), Dortmund (280) e Atlético (187). O PSG e o City contaram com o respaldo assombroso dos inesgotáveis fundos soberanos do Catar e Emirados Árabes Unidos para se assentarem no círculo de prosperidade propiciado pela Champions.

O Bayern e a Juventus aproveitaram a posição vantajosa que encontram em seus contextos nacionais. As atribuições do bolo dos direitos televisivos da Champions estão condicionadas pelas Ligas locais. O Bayern e a Juventus melhoraram suas quotas televisivas porque os direitos de retransmissão em alemão e em italiano são mais bem pagos que em espanhol e porque dominam suas respectivas Ligas de forma mais ou menos hegemônica. Além disso, a Juve se beneficiou do declínio da concorrência na Itália. O Calcio (Campeonato Italiano) cada vez leva menos clubes à Champions. Em 2015, depois de perder a final com o Barcelona, a equipe de Turim abocanhou cerca de 60 milhões de euros em direitos televisivos. O Barcelona, o campeão, não passou de 30.

Enquanto o Real Madrid, Barcelona, Atlético e Sevilla terão de dividir sua quota televisiva em quatro partes, nesta campanha a equipe de Torino só dividirá o rendimento de direitos audiovisuais com o Nápoles, o outro participante italiano no torneio.

Se a Champions é vital para manter o nível de gastos de qualquer de seus atores, para a Juventus é uma oportunidade insuperável de consolidar algo parecido a uma blindagem que desvaloriza a Série A. Seus dirigentes descobriram a mina há anos e definiram uma estratégia esportiva brilhante para sua exploração. Reforçada como está, atualmente, a equipe é inexpugnável em sua Liga. O diretor esportivo, Giuseppe Marotta, não deixa de insistir: “A Champions é nosso objetivo, certamente”.

A Champions construiu à base de dinheiro uma rede cada vez mais exclusiva e mais inacessível. Somente uns poucos clubes conseguiram escalar para novos patamares. O Atlético merece menção especial porque alcançou isso em um entorno pouco favorável. Suas duas finais nos últimos três anos explicam por que duplicou suas receitas desde 2013. Não ganhou o troféu, mas se instalou na fábrica dos lucros.

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