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Telefónica quer que clientes cobrem do Google e do Facebook pelo uso de dados

A operadora prepara uma plataforma que permite que seus assinantes controlem as informações sobre eles usadas pelas empresas de Internet. A Vodafone se junta à iniciativa

Foto: reuters_live | Vídeo: KAREN BLEIER (AFP) / REUTERS-QUALITY
Ramón Muñoz

A Telefónica está disposta a enfrentar as empresas de Internet em seu próprio terreno, o do uso de dados. A empresa está criando uma plataforma tecnológica para que os seus assinantes não apenas saibam quais são as informações que são usadas pelas redes sociais e pelo Facebook, Twitter e Google, mas também tenham a possibilidade de bloquear essas informações ou cobrar pelo uso de seus dados.

O anúncio foi feito pelo presidente da Telefónica, José María Álvarez-Pallete, no XXX Encontro de Telecomunicações organizado pela Universidade Internacional Menéndez Pelayo (UIMP), na Espanha, e pela Ametic (a associação das empresas eletrônicas e de tecnologia da informação).

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Trata-se, na verdade, de mais um capítulo da disputa que os provedores de serviços de Internet (ISP), como Telefónica, Vodafone e Orange, travam com as empresas nascidas na web, as chamadas Over The Top (OTT), como Google, Facebook, YouTube ou Spotfy. Inicialmente, as operadoras pensavam em cobrar um fixo das empresas de Internet pelo uso de suas redes. Agora, a Telefónica apresenta uma nova fórmula, que transfere diretamente para o usuário final a possibilidade de “monetizar seus dados”, seja de forma direta ou sob a forma de troca por serviços adicionais por parte das empresas de Internet.

A Telefónica acredita que, com essa quarta plataforma, conseguirá fidelizar os seus clientes, que irão valorizar mais essa ferramenta do que serviços como o WhatsApp, por exemplo, sobre os quais não têm nenhum controle. Com essa quarta plataforma, a operadora pretende estimular o uso das redes de fibra e de dados móveis (LTE), em que investiu 30 bilhões de euros (110 bilhões de reais) nos últimos quatro anos, a segunda plataforma, formada pelos sistemas de controle de rede e comercial, com um investimento de 4 bilhões de euros (14,6 bilhões de reais), e a terceira plataforma, de produtos e serviços (vídeo, nuvem, serviços de segurança e financeiros).

Na mesma linha, o executivo-chefe da Vodafone, Vittorio Colao, afirmou que seu grupo também trabalha em uma fórmula similar, de modo que os clientes tenham a possibilidade de escolher o que fazer com seus dados, embora haja especificado que a solução técnica será diferente da adotada pela Telefónica. Enfatizou que é um processo muito complexo e que não há um calendário exato.

A quarta plataforma

Nessa linha, Pallete observou que a Telefónica está criando uma quarta plataforma, que não estará pronta até pelo menos bem depois do começo de 2017, que se unirá às três já existentes (redes, sistemas e serviços) e que permitirá a cada usuário decidir que tipo de informação e com que empresa quer compartilhar e, nesse caso, “monetizar” o uso desses dados privados.

“A Telefónica tem mais informação sobre seus usuários que qualquer empresa da Internet. Eles utilizam algoritmos, mas nós temos dados de consumo real, do que compram, do que gastam, de suas preferências... Mas, ao contrário dessas empresas, a Telefónica não vai vender essa informação. Vai colocá-la em mãos de seus donos, das quais foi expropriada, para que eles decidam com ferramentas da rede e de software precisas o que fazer e como tornar esses dados rentáveis” , afirmou o principal dirigente da Telefónica.

A empresa, que está há um ano e meio trabalhando na implementação dessa solução, quer que a ferramenta seja fácil de usar e, sobretudo, que ofereça informação em tempo real. Está finalizando a interface e, para isso, propôs, por ora, os dez casos mais usuais. “Vamos dizer ao cliente que dados possuem e qual é seu valor, para que decida o que fazer com eles.”

Nessa quarta plataforma será coletada toda a informação dos clientes que agora está dispersa, para “devolver-lhes” esses dados e que eles “negociem” diretamente com as OTTs, por intermédio da Telefónica, o que “é justo e não é justo”. Nesse sentido, o presidente da Telefónica apostou em uma “constituição digital” na qual sejam consagrados os direitos dos usuários sobre a privacidade e a segurança de seus dados.

A Telefónica dá as boas-vindas ao novo regulamento da União Europeia sobre a neutralidade da rede, que impede que as empresas de telecomunicações bloqueiem, discriminem ou reduzam a velocidade do tráfego de internet independentemente dos conteúdos que passem através de suas redes ou os provedores deles, salvo no caso de congestionamento da rede. No entanto, Pallete observou que é necessário aplicar essas normas por igual a operadoras e empresas de Internet. “Mesmo serviço, mesmas regras”, enfatizou. E deu como exemplo o fato de o WhatsApp oferecer chamadas de voz pela Internet, como a Telefónica, mas não ter que se submeter a nenhum tipo de norma, nem sequer no caso de queda do serviço.

SUBSIDIÁRIAS DIGITAIS DOS EUA

Os principais responsáveis pelas três grandes operadoras europeias –Movistar, Vodafone e Orange– se reuniram na segunda-feira em Santander, aproveitando o tradicional encontro de telecomunicações que é realizado em setembro na IUMP. E todos eles se uniram para pedir uma Europa que deixe seus complexos, incluindo os regulatórios, e avance na digitalização, na qual os Estados Unidos levam uma considerável vantagem em relação ao continente europeu.

O mais claro foi Stephane Richard, presidente da Orange: “Somos subsidiárias digitais dos Estados Unidos”, disse, e acrescentou que a Europa está ficando atrasada em relação ao restante do mundo por causa, entre outras coisas, da obsessão pela regulação “e a aproximação ingênua dos líderes europeus”.

Richard destacou o poder do chamado GAFA (Google, Amazon, Facebook e Apple) em relação às operadoras tradicionais europeias. “O caixa da Apple é maior que a capitalização da Telefónica, Vodafone, Orange e Deutsche Telekom, e o Facebook vale mais em Bolsa que todos nós juntos”.

O executivo-chefe da Vodafone, Vittorio Colao, assinalou que os reguladores europeus têm uma visão muito positiva no longo prazo e objetivos louváveis de digitalização, mas depois ficam obcecados com assuntos como as tarifas de varejo. “Boas palavras, processos lentos.”

Colao afirmou que “temos de começar a pensar em gigabits para nossos escritórios, nossos colégios e nossas casas” e que, para isso, as operadoras têm de colaborar na distribuição de redes, embora depois compitam ferozmente na parte comercial.

O presidente da Telefónica, José María Álvarez-Pallete, chamou a atenção para a escala do novo mundo digital. O telefone fixo levou 75 anos para ter 100 milhões de assinantes, uma cifra que o celular conseguiu em 16 anos e o Pokémon Go em 25 dias. O Facebook tem mais usuários que a população chinesa. O Instagram supera a da União Europeia. E nenhuma das 15 empresas mais inovadoras, segundo a Forbes, é europeia.

O principal dirigente da Telefónica enfatizou que somente sua operadora investiu 40 bilhões de euros (145 bilhões de reais) nos últimos quatro anos, enquanto as empresas da Internet pouco investem.

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