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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Tudo por resolver

É desolador outra tentativa de eleição parlamentar sem perspectivas de êxito

Spain's acting PM and People's Party (PP) leader Mariano Rajoy leaves after an investiture debate at parliament in Madrid, Spain, August 30, 2016. REUTERS/Juan Medina
Spain's acting PM and People's Party (PP) leader Mariano Rajoy leaves after an investiture debate at parliament in Madrid, Spain, August 30, 2016. REUTERS/Juan MedinaJUAN MEDINA (REUTERS)

Sabendo que hoje pode ser encontrada uma resposta dura de parte de Pedro Sánchez e que fracassará sem a abstenção dos socialistas, Mariano Rajoy omitiu ontem adjetivos e alusões ao PSOE, mas tampouco gastou alguma energia na hora de oferecer concessões que o ajudem a somar os apoios que faltam. Depois de atingir o número não desprezível de 170 votos parlamentares e ficar a seis da maioria absoluta, mais que os 131 que Pedro Sánchez conseguiu na legislatura anterior, o voto negativo do PSOE condena a operação à derrota. Poderemos ter assistido, assim, uma encenação do fracasso, transmitindo à cidadania a frustração de começar os trabalhos parlamentares com a irritante sensação de bloqueio que foi a marca do parlamento anterior. Que grande fracasso de toda a classe política!

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Mais que um programa de Governo, o candidato se ofereceu ao Congresso como condutor de um conjunto de pactos abrangentes que atacarão problemas de maior importância, da unidade da Espanha à igualdade dos espanhóis na hora de receber serviços públicos, sustentabilidade das pensões, a educação, a violência de gênero ou a presença deste país nos debates europeus. É verdade que em todas essas áreas faltam acordos, mas quem convoca a tarefa sem negociações prévias deve ter força e credibilidade para isso, e essa não é a posição de Rajoy, por sua resistência ao diálogo durante o tempo em que governou com maioria absoluta.

Para continuar no poder, Rajoy precisa mostrar sinais de correção e autocrítica em importantes aspectos, e não fez isso. Agradeceu várias vezes ao Ciudadanos o pacto de posse alcançado com o Partido Popular, mas dedicou pouca atenção para as medidas de regeneração da vida pública concordadas com o partido de Albert Rivera; e também passou quase na ponta dos pés pelas reformas institucionais decididas entre as duas forças. Tudo isso com a plena consciência de que carece de força sozinho para levar a cabo um projeto político, mas tampouco há um projeto alternativo e muitos responsáveis por essa situação.

E aí está o nó górdio da situação. A dificuldade para encontrar a saída é precisamente a ausência de alternativa. Rajoy se oferece como líder da única opção política viável, contra o qual disse que só poderia existir um Governo “de mil cores”, radical e ineficiente, e ameaçador para a unidade territorial da Espanha, referindo-se implicitamente ao que poderia representar uma aliança do PSOE, Podemos e forças nacionalistas e separatistas.

Na ausência de uma alternativa clara, o uso de expressões como a utilizada por Pedro Sánchez, descrevendo sua reunião prévia com Rajoy como “perfeitamente dispensável”, são uma afronta aos eleitores. Goste ou não, é preciso esgotar as possibilidades de desbloquear a situação. Fechar-se em que o único objetivo é derrotá-lo, é algo inaceitável: é preciso apresentar uma saída para a situação política, sem alimentar a desconfiança dos espanhóis em um sistema de partidos que vai fracassar se não conseguir encontrá-la.

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