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Uruguai recua e diz que acusação a Serra foi “mal entendido”

Chanceler disse que Brasil tentou "comprar" apoio uruguaio para vetar que Caracas presida Mercosul

Temer e Serra no dia 12 de agosto.
Temer e Serra no dia 12 de agosto.ANDRESSA ANHOLETE (AFP)

A crise em que o Mercosul mergulhou pelo impasse em relação à presidência temporária da Venezuela, que deveria ter começado em julho, teve mais um capítulo nesta semana que acabou por indispor pela primeira vez em anos Brasil e o Uruguai. Brasília e Montevidéu estão em lados opostos na disputa: enquanto o Governo interino brasileiro, com respaldo de Argentina e Paraguai, se recusa a entregar a chefia rotativa do bloco ao presidente venezuelano Nicolás Maduro, a gestão uruguaia insiste que é preciso seguir as regras do grupo e instalar a presidência venezuelana. A tensão chegou a um novo patamar quando o jornal uruguaio El País noticiou na terça-feira que o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa Novoa, acusou seu homólogo José Serra de tentar “comprar” o apoio de seu país na contenda. O Brasil chegou a chamar para consultas o embaixador do Uruguai no Brasil, um gesto diplomático forte para demonstrar desagrado, mas os ânimos acabariam serenando com o reconhecimento da pasta de Novoa, em nota nesta quarta, de que se tratou de um "mal-entendido" que "agora" está esclarecido. Em Brasília, Serra anunciou ter conversado por telefone com o colega uruguaio: "Não há mais nenhum problema", disse o brasileiro.

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"Recebi um telefonema do ministro uruguaio das Relações Exteriores, a questão foi esclarecida e não há mais nenhum problema. Ele considera que houve um mal-entendido, um equívoco da parte deles”, afirmou Serra. O ministro interino esteve em Montevidéu em julho para discutir a questão venezuelana,  mas, nesta quarta-feira, não quis detalhar a conversa com Novoa. Alegando que seria “indiscreto”, o chanceler não quis dizer se o uruguaio pediu desculpas ao Governo interino do Brasil.

A nota da chancelaria uruguaia não pede desculpas nem invalida as declarações do chanceler do Uruguai que estão no cerne da questão. Elas foram dadas no dia 10 de agosto, em uma reunião da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara dos Deputados uruguaia. Diz um trecho das notas taquigráficas do encontro: “Não gostamos muito que o chanceler [José] Serra veio ao Uruguai para nos dizer — e o fez em público, por isso digo — que vinham com a pretensão de que se suspendesse a transmissão [da presidência do bloco] e que, além disso, se fosse suspensa, nos levariam em suas negociações comerciais com outros países, como querendo comprar o voto do Uruguai”. No comunicado desta quarta, o ministério uruguaio diz que "agora ficou perfeitamente claro" que a proposta de Serra para promoção comercial não "guarda relação alguma" com o impasse sobre Caracas.

"Regime autoritário"

Nesta quarta, Serra voltou a dizer que o Brasil não é favorável a que a Venezuela, em profunda crise econômica e que não reconhece o Governo Michel Temer como legítimo, presida o Mercosul. O ministro, prestes a ser ratificado ao lado da gestão Temer após o desfecho do impeachment, reafirmou que o bloco precisa resolver esse assunto para que o agrupamento passe por uma reforma estrutural. Na sua avaliação, o país não cumpriu parte dos pré-requisitos necessários para ser um integrante do bloco, entre eles, o respeito aos direitos humanos. “A Venezuela não vai assumir o Mercosul. Agora, estamos procurando uma fórmula para levar o Mercosul até dezembro”, disse.

As declarações de Serra foram dadas após um encontro que ele teve com dois líderes da oposição ao Governo de Nicolás Maduro, o deputado Carlos Florido e o coordenador político do grupo Voluntad Popular, Carlos Vecchio. Além do ministro, os dois se reuniram com os senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes, todos do PSDB e que consideram que o Governo venezuelano já não é democrático.

Ao lado dos opositores, Serra deu declarações duras: disse que a Venezuela é um "regime autoritário". Os venezuelanos também pediram que observadores brasileiros estejam em Caracas no próximo dia 1º de setembro, quando deverá haver uma série de protestos pedindo que as autoridades eleitorais presidente convoquem um referendo ainda neste ano para avaliar se a população está contra ou a favor da continuidade do Governo chavista. Se o referendo ficar para 2017, como sinalizam as autoridades de Caracas, quem herdará a cadeira de Maduro será seu vice, um aliado. Segundo a agência Efe, o ministro brasileiro afirmou que se a consulta não se realizar ainda neste ano será "uma farsa completa".

Colaborou Magdalena Martínez, de Montevidéu.

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