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“Estava pedindo que roubasse tudo”: se tratássemos as vítimas de roubo como as de estupro

A mensagem foi compartilhada mais de 87.000 vezes em menos de uma semana

O culpado de um crime é sempre quem comete a infração. No entanto, quando se fala de agressões sexuais, são muitas as ocasiões em que se pretende culpar a vítima. Satirizando isso, a humorista neozelandesa Alice Brine publicou no dia 27 de julho um post no Facebook em que pretendia mostrar como seria se as vítimas de roubo fossem tratadas como as de agressão sexual. Em menos de uma semana, ultrapassou 87.000 compartilhamentos.

I'm gunna start going home with random very drunk guys and stealing all of their shit. Everything they own. It won't be...

Posted by Alice Brine on Tuesday, July 26, 2016

Em sua mensagem, a humorista usa as recriminações que costumam ser feitas às vítimas de agressão sexual para culpar as vítimas de roubos: que estavam bêbadas, que deveriam ter percebido, ou que as roupas que vestiam enviavam uma mensagem equivocada. Você pode ler a tradução completa aqui:

“Vou começar a ir para casa com caras muito bêbados ao acaso e vou roubar todas as coisas deles. Tudo o que tiverem. E não será culpa minha... Eles estavam bêbados. Deveriam ter percebido. Farei o que quiser em 90% das vezes, mas quando chegar o momento que um homem corajoso me levar a julgamento, argumentarei que não tinha certeza se ele realmente quis dizer ‘não’ quando disse ‘não roube o meu Audi’. Realmente não tinha certeza se ele estava falando sério. Eu disse: ‘por favor, posso roubar o seu relógio Gucci?’, e ele disse ‘não’, mas eu não tinha certeza se ele realmente estava falando sério. Ele estava bêbado, ele procurou.

Você deveria ter visto como ele estava vestido na discoteca, com camisa e sapatos caros. Que tipo de mensagem queria mandar com isso? Pensei que ele queria que eu chegasse e roubasse tudo. Ele estava pedindo. Quando me disse que “não” roubasse todas as suas coisas, eu não tinha certeza se ele realmente estava falando sério. ‘Não’ não é uma palavra suficientemente objetiva, pode significar qualquer coisa”.

Na revista digital britânica The Tab, a humorista explicou que decidiu publicar o texto quando constatou, irritada, como alguns meios de comunicação tratam casos sobre o estupro. “Há pouco tempo li uma manchete que dizia ‘Ela disse não, mas não tinha tanta certeza’”, conta à revista. “É uma loucura que frases assim sejam publicadas”.

Depois do estupro coletivo de uma menor de idade no Brasil em maio, este gráfico sobre os culpados num caso de estupro que inclui muitos dos pressupostos da postagem de Brine (como as roupas ou o álcool) superou 400.000 compartilhamentos.

Em seu texto, Brine também faz uma analogia com outra problemática das agressões sexuais: o consentimento. “Não tinha certeza se ele realmente quis dizer ‘não’ quando disse ‘não roube o meu Audi’”, brinca. Outro viral sobre o consentimento, que explica por que “não” significa “não” usando xícaras de chá, ultrapassou milhões de visualizações em diferentes plataformas.

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