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Renda dos cariocas cresceu mais que a dos brasileiros desde o anúncio dos Jogos

Enquanto indicadores do Brasil caem, pesquisa da FGV revela legado econômico e social da Olimpíada no Rio

María Martín
Performance frente os aros olímpicos instalados na praia de Copacabana.
Performance frente os aros olímpicos instalados na praia de Copacabana.KAI PFAFFENBACH (REUTERS)
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Existe uma discussão sem fim sobre o legado que a Rio-2016 vai deixar na cidade e seus moradores. Enquanto o prefeito Eduardo Paes defende a transformação do centro ou a criação de novas linhas de transporte como o melhor dos presentes que a competição vai trazer aos cariocas, os detratores, críticos com a fortuna pública e privada investida no evento, repetem incisivamente a mesma pergunta: “legado para quem?”. Fora desse debate, a Fundação Getúlio Vargas recopilou indicadores sociais e econômicos do Rio de Janeiro – município e metrópole – para estudar os avanços (e retrocessos) registrados desde que a cidade se tornou sede da Olimpíada em 2009 e a conclusão é positiva: há legado social, sim. Mas por enquanto.

Um dos indicadores estudados foi o crescimento de renda. A pesquisa revelou que, embora a economia carioca tenha demorado a decolar após o anúncio da cidade como sede olímpica em 2009, uma vez embalado, o crescimento não perdeu força. Entre 2008 e 2016 a renda per capita no município cresceu 30,3% – de 1.515 reais para 1.974 –, enquanto que no resto do Brasil a alta foi de 19,6%, segundo estimativa do economista Marcelo Neri.

Antes de conquistar o direito a celebrar os Jogos,entre os anos 1998 e 2008, o crescimento da renda dos cariocas havia sido de apenas 6,1%. Nos outros 18 municípios do Grande Rio, por exemplo, o crescimento foi de 18,2% desde o anuncio do Rio como cidade olímpica. Neri destaca que a cidade maravilhosa manteve a expansão em 2015 e 2016, quando o país como um todo começou a perder renda. A cidade é, entre as 27 capitais brasileiras, aquela onde a renda do trabalho mais cresceu desde 2013, em meio à crise nacional.

Esse crescimento, ademais, distribui-se em toda a pirâmide social, sendo a base a que mais evoluiu, segundo a pesquisa. A renda do trabalho dos 5% mais pobres cresceu mais (29,3%) do que a renda dos 5% mais ricos (19,96%). “A Olimpíada manteve a economia carioca girando. Quando olhamos para a periferia fluminense, que inclui os 18 municípios do entorno, vemos que a renda crescia desde 2004, mas que em 2013 parou pela crise brasileira e a crise do petróleo e da Petrobras, mas a cidade do Rio manteve a mesma tendência de crescimento, explica Marcelo Neri, responsável pelo estudo, baseado na abertura inédita dados municipais do IBGE.

Os 24 indicadores comparáveis antes e depois do anúncio da Rio 2016 seguiram uma trajetória em formato de um V. Antes do anuncio dos Jogos se registravam dez vezes mais retrocessos que depois de o Rio saber que seria a sede olímpica. Os avanços subiram de 7 para 18 indicadores, entre eles o acesso a casa própria, educação, uso de tecnologia e coleta de lixo.O retrocesso recente, no entanto, é em áreas importantes e revela a falta de avanço em problemas crônicos do Rio: o tratamento do esgoto e o transporte. Nesse sentido, os cariocas, que são os terceiros do país a passarem mais tempo no transporte público, gastaram mais tempo nos ônibus no período pré-Olímpico que antes. No caso do tratamento de esgoto, a chance dos cariocas de estarem ligados a uma rede diminuiu 24,8% no período pré-olímpico se comparado à evolução do resto de moradores da metrópole fluminense.

A pesquisa é uma brisa de otimismo em um momento em que o Rio parece colecionar más notícias, mas Neri adverte: “ Os Jogos tiveram efeito. As Olimpíadas deram um projeto de oito anos para o município do Rio de Janeiro, mas o que me preocupa é o depois. Não sou positivo a respeito do futuro. O Rio precisa agora de um outro projeto de cidade, porque o olímpico acabou”.

O carioca, segundo Neri, tem uma alta imagem de si e da sua cidade e a enxerga como um lugar cheio de jovens bronzeados. “Mas a realidade é outra. O Rio hoje é uma cidade de idosos, igualmente bronzeados, claro”, brinca Neri. O que o pesquisador quer dizer é que, em 2016, pela primeira vez, diminuiu a população em idade ativa, escancarando o envelhecimento da sociedade o que vai frear o crescimento. “O Estado e a capital têm a maior proporção de idosos do Brasil”, diz Neri que afirma que o país só terá uma estrutura demográfica parecida com Copacabana, o bairro mais envelhecido do Rio, em 2058. Esse cenário, no entanto, evidencia ainda mais, segundo Neri, como a Olimpíada ajudou ao Rio a crescer a pesar das dificuldades: “Esse resultado tem ainda mais valor, porque demograficamente o vento já vinha contra o Rio”.

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