_
_
_
_
_

“Nadia Comaneci era uma máquina de fazer ginástica”

Há 40 anos, a ginasta romena entrava para a história com um ‘10’ nos Jogos de Montreal

Nadia Comaneci na saída das assimétricas que lhe deram o primeiro 10.
Nadia Comaneci na saída das assimétricas que lhe deram o primeiro 10.prisa
Amaya Iríbar

Não existe um exercício mais famoso na história da ginástica do que a rotina nas barras assimétricas feita por Nadia Comaneci nos Jogos de Montreal de 1976. O primeiro 10,00 olímpico. A perfeição. Milhares de fãs da ginástica (e do esporte em geral) são capazes de reconhecer a menina séria de franja perfeita e rabo de cavalo decorado com laços de algodão. São também capazes de contar que o placar Omega do ginásio mostrou um luminoso 1,00, porque não estava preparado para a ocasião. São capazes de citar a romena, que então tinha apenas 14 anos, como a estrela dos Jogos, à altura de Mark Spitz, quatro anos antes, de Bolt, em Pequim 2008, e de Phelps, em Londres 2012.

Mas são muito menos os que sabem que aquele primeiro exercício perfeito era relativamente simples, porque todas as ginastas da competição deveriam executá-lo no primeiro dia de provas por equipes. Ou que o 1,00 que era um 10,00 não era sequer uma novidade: Nadia já havia conseguido a nota máxima (no solo) na American Cup daquele mesmo ano com o mesmo erro no placar. Que a soviética Nellie Kim conseguiria logo depois uma nota idêntica e quase ninguém fora do mundo da ginástica a conhece,ou que nesse painel de quatro juízes havia uma espanhola, Mari Carmen González.

Tanto faz. Esse 10,00 — the perfect 10, como dizem os americanos —já faz parte da história da ginástica e do esporte. E, como tal, temos de honrar esse momento maravilhoso que, nesta segunda-feira, 18 de julho de 2016, completa 40 anos.

A própria Comaneci, hoje residente nos Estados Unidos e já prestes a voltar a Montreal para receber a correspondente homenagem, lembra desta forma o momento, em uma entrevista à agência Reuters:

“Quando fiz a rotina nas assimétricas, pensei que havia feito um exercício muito bom, mas não perfeito. Nem sequer olhei o placar, porque já estava pensando na trave de equilíbrio. Então, ouvi um grande estrondo no estádio, virei para o painel e a primeira coisa que vi foi o 73, que era o meu número, e, em seguida, o 1,00 abaixo. Olhei para minhas colegas de equipe, e fizeram um gesto com os ombros como se não estivessem entendendo. Foi tudo muito rápido. O fato de o placar não conseguir mostrar o 10 adicionou mais drama à situação, ficou maior”, diz Comaneci, rindo do outro lado do telefone, agora uma mulher de 54 anos, em um discurso que repetiu centenas de vezes.

A lembrança da espanhola Eli Cabello, que competiu naquela prova, também é especial: “Tínhamos competido cedo e ficamos para assistir a competição”, diz por telefone. “Lembro-me com muita emoção. Nadia era uma ginasta tão diferente, tinha um toque, algo especial. Chamava a atenção por sua aparência de menina e porque tinha um corpo muito bonito, mas também era espetacular”.

Não foi a primeira ginasta-menina, pois Olga Korbut já havia chocado quatro anos antes, em Munique. Mas Nadia foi a primeira a vencer de maneira esmagadora: em Montreal, ganhou três medalhas de ouro (individual geral, trave de equilíbrio e barras assimétricas), uma de prata (equipe), uma de bronze (solo) e um saco de notas 10: seis em suas duas provas favoritas, trave e assimétricas, mais as técnicas.

Cabello, como o mundo da ginástica, não descobriu Comaneci em Montreal. Já havia visto a ginasta no ano anterior, em Skien (Noruega), onde a romena havia ganhado as competições europeias com apenas 13 anos e colocado um ponto final na era de domínio soviético. “Vê-la se aquecer, seu estilo, sua forma e sua segurança já chamavam muita atenção. Eram impressionantes”, lembra, “e tinha uma coreografia no solo que surpreendia muito. Naquela competição, Nadia ofuscou Turischeva [a grande dama da ginástica soviética]. Eu a vi entrar no vestiário e começar a chorar. Isso me impressionou”.

Ramón Garcia, que era o treinador da equipe espanhola, também ficou impressionado com a pequena ginasta romena na Noruega. “Nadia era absolutamente diferente em tudo. Na técnica, na precisão. Era uma máquina de fazer ginástica. Era muito boa em todos os aparelhos, mas nas assimétricas ninguém fazia como ela, nem mesmo as soviéticas”, diz. “Eu fico com a trave de equilíbrio”, diz Cabello, “não porque era o melhor exercício, mas como o fazia. Não movia nem um fio da franja”.

Hoje o ginásio não tem nenhuma semelhança com aquele de Comaneci. Os aparelhos melhoraram, prevalecem as acrobacias impossíveis, a Romênia não se classificou para os Jogos no Rio de Janeiro e até o 10,00 desapareceu. Mas ficará para sempre esse momento mágico, vibrante, de Montreal 76.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_