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Estado Islâmico assume a autoria do atentado em Nice

Ministro francês do Interior disse que “parece” que o tunisiano autor do atentado “se tornou radical muito rapidamente”

Um dos detentos, algemado e coberto com uma toalha.Vídeo: ERIC GAILLARD (REUTERS) / QUALITY
Carlos Yárnoz

O Estado Islâmico se responsabilizou pelo ataque de quinta-feira em Nice, que tirou a vida de 84 pessoas. Os jihadistas assumiram a autoria do atentado em um comunicado divulgado pela agência AMAQ, ligada aos radicais islâmicos. O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, declarou que “parece” que Mohamed Lahouaiej Bouhle, autor do ataque, “se tornou radical muito rapidamente”, de acordo com pessoas “próximas a ele”.

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No texto de reivindicação, os jihadistas dizem que o autor do massacre “é um soldado do EI” e acrescentam que o atentado foi “uma resposta aos pedidos para atacar os países da coalizão que combatem” o EI na Síria e no Iraque. A divulgação do comunicado coincidiu com uma reunião do Conselho de Defesa e Segurança do Executivo francês sob a presidência de François Hollande.

Ao final da reunião, o ministro Cazeneuve comentou que “a modalidade” do ataque não tem precedentes na França. “Estamos diante de um novo tipo de atentado”, cometido por alguém que simplesmente, e de forma individual, obedece literalmente às ordens dos líderes do EI de matar os infiéis pelo método que for.

“São indivíduos sensíveis à mensagem do Daesh (acrônimo do EI) que se envolvem em ações extremamente violentas sem necessariamente terem participado de combates, sem necessariamente um treinamento”. Os potenciais terroristas, portanto, são muito mais difíceis de se detectar pelas forças de segurança. A ameaça subiu de nível. É “extremamente elevada”, diz o Governo, sobre as novas modalidades de ataque, os ataques solitários previstos pelos especialistas.

O perfil de Mohamed Lahouaiej Bouhle, o autor do massacre, levantou grandes dúvidas sobre a origem do ataque. De origem tunisiana e morador da França, Lahouaiej fazia uso frequente de álcool, não respeitava o Ramadã e não ia a mesquitas. De acordo com seus vizinhos, era uma pessoa rude, instável. Tinha antecedentes por crimes comuns. Foi condenado em março passado a seis meses de prisão por agredir um motorista em uma briga de trânsito.

Pai de três filhos, estava em vias de se divorciar após agredir diversas vezes sua mulher, também tunisiana. Vários familiares comentaram que era desequilibrado e se submetia a um tratamento psiquiátrico.

Cinco pessoas próximas ao autor do ataque estão presas. São quatro homens ligados ao agressor, Mohamed Lahouaiej Bouhlel, de 31 anos, nascido em M’Saken (Tunísia), e sua ex-esposa, que está sob custódia desde sexta-feira. A polícia tenta determinar se Lahouaiej contou com a ajuda de cúmplices para cometer a matança.

A análise do material informático confiscado na casa do agressor e seu celular, encontrado dentro do caminhão, assim como a pista do revólver que utilizou, foram essenciais nos avanços da investigação nas últimas horas, afirmam fontes policiais, além dos depoimentos das pessoas mais próximas ao agressor morto por disparos dos agentes de segurança.

Na sexta-feira, o promotor François Molins, encarregado da investigação, afirmou que não existia nenhum dado sobre a suposta “radicalização” do autor do atentado, mas que esse respondia “exatamente” aos pedidos do EI para matar não importa como os infiéis em seus países, especialmente os franceses.

Na noite de sexta-feira, o primeiro-ministro Manuel Valls afirmou que, “sem dúvida”, existiam conexões do terrorista com o radicalismo islâmico, mas Cazeneuve disse que ainda não existia nenhum tipo de prova sobre isso.

O Conselho de Defesa é formado por Manuel Valls e os titulares das pastas de Defesa, Interior e Justiça, assim como os comandantes dos três exércitos e dos serviços de informação. Fontes oficiais dizem que o Governo francês estuda fórmulas para intensificar seus bombardeios na Síria e no Iraque.

Lahouaiej atropelou centenas de pessoas com um caminhão alugado causando a morte de 84 pessoas, incluindo 10 crianças e adolescentes, e deixando mais de 200 feridos, 52 deles em estado grave. As pessoas estavam assistindo a um espetáculo de fogos de artifício que encerrava a o dia da Festa Nacional de 14 de julho. As autoridades francesas tentam esclarecer se o autor do ataque agiu sozinho ou se contou com cúmplices para cometer o massacre, e se suas motivações estavam ligadas ao radicalismo islâmico.

No sábado começam os três dias oficiais de luto nacional decretados por Hollande após o atentado. Em todos os edifícios oficiais, as bandeiras são hasteadas a meio mastro. O atentado registrou as primeiras dissensões entre as principais forças políticas, unidas até agora na estratégia antiterrorista. A direita e a extrema-direita exigem mais rigor e mais proteção à população.

Após as reuniões do Conselho de Defesa, o presidente Hollande fez um pedido solene à “unidade e à coesão” através do porta-voz do Executivo, Stéphan Le Foll, diante das “tentativas de dividir o país”. Uma chamada à “dignidade”, como disse o ministro Cazeneuve, que defendeu que em Nice foram tomadas as medidas de segurança adequadas.

“Como esse caminhão conseguiu entrar em uma área segura e de pedestres?”, criticou reiteradamente Christian Estrosi, presidente do Conselho Regional de Provence-Alpes-Côte d'Azur, que inclui Nice. Figura destacada dos Republicanos, o partido de Sarkozy, Estrosi é um dos mais severos do partido conservador, em uma região na qual a ultradireitista Frente Nacional tem muita representação. O caminhão entrou na área, explicou Cazeneuve, porque subiu na calçada para evitar as barreiras policiais.

O Governo francês decidiu manter mobilizados nos territórios os 10.000 militares da operação Sentinela. Hollande voltou atrás em sua declaração de quinta-feira quando disse que o contingente diminuiria para 7.000 soldados. 

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