_
_
_
_
_

França, um país em três frentes de guerra contra o jihadismo

País tem 5.000 militares mobilizados para o combate ao EI a Al Qaeda no Oriente Médio e África

Retirada de feridos na orla marítima de Nice (França), nesta quinta-feiraFoto: atlas | Vídeo: OLIVIER ANRIGO (EFE) / ATLAS
C. Y.

Nos dois últimos anos, a França sofreu os mais graves atentados terroristas cometidos neste período por jihadistas no Ocidente. Seu território inteiro se transformou na frente de batalha prioritária contra o terrorismo, mas além da luta doméstica as Forças Armadas francesas mantêm outras duas frentes de combate ativas no exterior. Desde 2013, França foi o país europeu mais envolvido no combate ao jihadismo dentro e fora do país. O presidente François Hollande se tornou um chefe militar permanente.

Mais informações
Por que o Estado Islâmico odeia a França
O terror jihadista coloca a França diante de um desafio histórico
Depois dos ataques, Paris se resigna ao estado de sítio
“Enfrentamos uma guerra. Há uma ameaça que pesa sobre a França e continuará pesando"

Pouco depois de chegar ao cargo, em maio de 2012, Hollande tentou liderar uma coalizão de países para bombardear jihadistas Síria. Ela não se concretizou porque Barack Obama acabou desligando os EUA da operação. No ano seguinte, o mandatário francês lançou, na República Centro-Africana, a operação Sangaris, com a intenção de frear as matanças inter étnicas e religiosas. Chegou a mobilizar 2.500 militares para esta tarefa, que foi encerrada nesta semana, com a transferência das atribuições à força Minusca, da ONU.

Em agosto de 2014, a França ampliou em milhares de quilômetros quadrados a operação contra os jihadistas iniciada meses antes no Mali. Criou a operação Barkhane, com a participação de 3.500 militares, 35 aviões e 400 blindados. Da Mauritânia ao Chade, essas forças cobrem uma superfície cinco vezes superior à da própria França, com a missão de interceptar grupos jihadistas em toda a faixa do Sahel, a área semiárida ao sul do Saara.

Em setembro de 2014, a França iniciou bombardeios contra o Estado Islâmico (EI) no Iraque. Enviou caças à Jordânia e Emirados Árabes, junto com cerca de mil soldados. Hoje, eles participam, com 17 aviões e uma fragata, da chamada operação Chammal.

Quatro meses mais tarde, os jihadistas iniciaram os ataques de grande envergadura na França, o país europeu que mais combatentes islamistas exportou ao autointitulado califado do EI: mais de 1.600, dezenas deles procedentes da região de Nice. Em janeiro de 2015, os militantes islâmicos provocaram a matança na redação do jornal satírico Charlie Hebdo e o mortal ataque a um supermercado de comida judaica.

A resposta foi sobretudo militar: fortalecer com mais aviões a operação Chammal. Paralelamente, quase 10.000 militares foram mobilizados em toda a França para vigiar centros religiosos, escolas, estações ferroviárias e aeroportos. A presença de militares com fuzis e coletes à prova de balas já se tornou parte da paisagem habitual no país.

Ao mesmo tempo, Governo e Parlamento endureceram toda uma bateria de novas leis antiterroristas. Na França já é legal a coleta maciça de dados e informações de sistemas de telecomunicações.

Em novembro passado, um comando formado por uma dezena de jihadistas residentes na Bélgica –alguns deles ex-combatentes na Síria – assassinou 130 pessoas na casa de shows Bataclan e em bares de Paris. A resposta foi enviar novamente o porta-aviões Charles de Gaulle, a nau-capitânia da frota, para intensificar os bombardeios.

Desde então, os caças Rafale bombardeiam com especial intensidade os locais de treinamento de jihadistas onde haviam sido interceptadas mensagens ou conversas em idioma francês. A intenção era eliminar combatentes que seguramente haviam saído da França e estavam sendo trinados para cometer atentados no seu país de origem.

Além dos três grandes ataques, houve outros, com menos vítimas, nestes dois anos na França

O Governo admitiu que cidadãos da França poderiam morrer nesses bombardeios, mas que eles seriam feitos “em defesa própria”. Foi esse o argumento usado também para ampliar os ataques à Síria a partir de setembro do ano passado.

Na frente interna, os 10.000 militares da operação Sentinela seriam reduzidos nesta semana a 7.000, mas o plano foi suspenso após o atentado de Nice. Hollande, além disso, prorrogou por três meses o estado de exceção, que terminaria em 26 de julho. “Toda a França está sob a ameaça do terrorismo islâmico”, disse Hollande. O Parlamento deve aprovar ainda nesta quinta-feira uma lei sobre essa prorrogação.

O estado de exceção permite detenções e interrogatórios sem mandato judicial, assim como buscas em residências, confisco e análise de sistemas de comunicação e a atribuição forçosa de domicílios a suspeitos.

Além dos três grandes ataques, houve outros, com menos vítimas, nestes dois anos na França. O último foi no mês passado em Yvelines, perto de Paris, onde um muçulmano matou a navalhadas um policial e a mulher dele, também funcionária dos serviços de segurança. O Ministério do Interior afirma que pelo menos outros 12 ataques foram evitados.

“Enfrentamos uma guerra”, reiterou nesta sexta-feira o primeiro-ministro Manuel Valls. “Há uma ameaça que pesa sobre a França e continuará pesando. Mas a França não se renderá.”

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_