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“Nada justifica este ataque desprezível”, diz Obama sobre a morte de cinco policiais em Dallas

Presidente também falou sobre a morte dos dois homens negros: "É um problema norte-americano"

Marc Bassets
Obama, durante sua declaração depois de chegar a Varsóvia
Obama, durante sua declaração depois de chegar a VarsóviaSusan Walsh (AP)

O persistente racismo nos Estados Unidos, uma das questões não resolvidas pelo presidente Barack Obama ao final da sua presidência, o persegue até na Europa. Na noite de quinta-feira, pouco depois de desembarcar na Polônia, o presidente norte-americano comentou os episódios de violência policial contra negros ocorridos nesta semana na Louisiana e em Minnesota, que deram origem ao confronto da última noite no Texas. Após a morte de pelo menos cinco policiais por franco-atiradores em Dallas na madrugada desta sexta, Obama voltou a se pronunciar, desta vez para condenar este "desprezível e calculado ataque", segundo suas palavras. "Nada justifica. Hoje nossa atenção está centrada nas vítimas e em suas famílias. Toda a cidade de Dallas está em luto", disse.

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Horas antes, em um pronunciamento de 17 minutos, Obama falou sobre os dois homens que foram assassinados pela polícia nesta semana. “Já vimos muitas vezes tragédias como essas”, disse o presidente num hotel na capital polonesa, onde participará de uma cúpula de chefes de Estado e de Governo da OTAN. “Não é só um problema dos negros. Não é só um problema dos hispânicos. É um problema norte-americano, e todos nós deveríamos nos preocupar.” A fala dele ocorreu antes da morte de pelo menos cinco policiais por franco-atiradores em Dallas, durante protestos contra os incidentes desta semana.

Obama argumentou que as forças de segurança tratam os afro-americanos e outras minorias pior do que tratam os brancos, e disse que esse é um problema que deveria ser enfrentado pelos norte-americanos de todas as raças e etnias. Afirmou também que essa conclamação não é contraditória com reconhecer o difícil trabalho feito pelas autoridades policiais. E admitiu que o legado da discriminação racial nos EUA – persistente desde a fundação do país por latifundiários escravagistas – provavelmente não será resolvido durante a sua vida nem das suas filhas, adolescentes.

“Todos os norte-americanos deveriam se preocupar com esses tiros, porque não são incidentes isolados. São sintomáticos de uma série de disparidades raciais mais amplas que existem no nosso sistema de Justiça Penal”, disse Obama, primeiro presidente negro na história dos EUA.

Os afro-americanos representam cerca de 13% da população norte-americana e quase 40% da sua população carcerária. Uma estatística citada com frequência mostra que há hoje mais negros na prisão ou sob o controle do sistema penitenciário (em liberdade condicional, por exemplo) do que o número de escravos negros em 1861, ano em que teve início a Guerra Civil dos EUA, que culminou com a abolição da escravidão.

O democrata Obama respondeu àqueles que criticam o caráter “politicamente correto” dos protestos contra a violência policial e desqualificam o nome do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam). Era uma mensagem velada ao candidato republicano à presidência, Donald Trump, que tem na rejeição à correção política um dos argumentos da sua campanha, além de dizer habitualmente que “todas as vidas importam”.

“Todas as vidas importam”, respondeu Obama, “mas os dados mostram que os negros são mais vulneráveis a incidentes desse tipo”.

“Eu pediria a essas pessoas [críticas do politicamente correto] que parem um momento e pensem: ‘E se isso acontecesse com alguém da minha família? Como eu me sentiria?’”, afirmou o presidente.

A violência racial é um problema incômodo para Obama desde sua chegada à Casa Branca, em 2009. Ele sempre evitou se posicionar como presidente de apenas uma parcela do país e defende reiteradamente o respeito às forças da ordem. Ao mesmo tempo, não pôde se calar perante a realidade dos abusos policiais contra as minorias e os reiterados incidentes que marcam o seu mandato.

Nesta que pode ser sua última viagem oficial à Europa, Obama precisa abordar logo de saída a questão da violência policial no seu próprio país, numa pauta que responde à urgência da atualidade e ao crescente mal estar das últimas horas após os dois assassinatos cometidos por policiais. A projeção dos EUA no mundo também depende da sua capacidade de ser um país exemplar. Episódios como os de Baton Rouge e Minneapolis solapam essa imagem. A política interna é também política internacional.

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