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Lava Jato investiga banco suspeito de criar offshores para lavar dinheiro

FPB Bank, que não tinha autorização para operar no país, atuou em parceria com o Mossack Fonseca

Divulgação
Gil Alessi

Um banco panamenho que operava de forma clandestina no Brasil, sem o aval do Banco Central, foi o principal alvo da 32ª fase da Operação Lava Jato, desencadeada nesta quinta-feira e batizada de Caça-Fantasmas. A suspeita dos investigadores é que o FPB Bank, que atuava ilegalmente no país, abria offshores e contas no exterior para brasileiros - dentre eles alguns envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. Ainda não se sabe o montante movimentado pela instituição nem quem são seus correntistas, mas a Polícia Federal acredita que os clientes que usaram os serviços do banco queriam “esconder a origem provavelmente ilícita do dinheiro”, de acordo com o delegado Rodrigo Sanfuro. A força-tarefa identificou que o FPB atuava em pareceria com o também panamenho Mossack Fonseca – que teve suas operações esmiuçadas pelos Panama Papers. A ação de hoje é um desdobramento da 22ª fase, que mirou justamente a Mossack.

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"Havia uma dupla camada de lavagem de dinheiro: primeiro se constituíam offshores sediadas em paraísos fiscais para ocultar os reais donos do dinheiro, e em seguida essas offshores mantinham contas em um banco clandestino", afirmou a procuradora Jerusa Viecili. Para o delegado Sanfuro, o volume de dinheiro movimentado pelo esquema de corrupção da Petrobras fez com que os envolvidos lançassem mão de vários sistemas para conseguir lavar os recursos desviados. “Todo esse esquema investigado pela Lava Jato desenvolveu sistemas para fazer o dinheiro fluir”, afirmou. “É a terceirização do crime organizado”. Segundo ele, as atividades do banco clandestino, que tinham abrangência nacional, complementariam as realizadas por doleiros e empresas de fachada já identificados na operação.

“Este tipo de estrutura surge diante da fartura de dinheiro sujo pelo país. Esse dinheiro precisa ser movimentado, lavado, ter suas origens ocultadas”, diz Sanfuro. O objetivo da força-tarefa agora é identificar que usou os serviços do FPB. “Provavelmente a instituição atendia outros clientes que não envolvidos diretamente na Lava Jato”, afirmou o delegado. No total, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão e sete de condução coercitiva nas cidades de São Paulo, Santos e São Bernardo do Campo. Funcionários do FPB e os escritórios informais do banco foram os alvos.

A força-tarefa acredita que a partir dos documentos encontrados nesta quinta devem haver novos desenvolvimentos no caso, e a participação de outros bancos não está descartada. No Panamá, o FPB atua de forma regular, com o aval do Banco Central panamenho. Na página do banco na Internet existe uma seção com informações em português, o que, para os procuradores, é mais um indício de que a instituição mirava clientes brasileiros que buscavam ocultar dinheiro ilícito. Na página, no entanto, não aparecem listados os escritórios da empresa no Brasil. Aqui, de acordo com a força-tarefa, era oferecido um "serviço personalizado" para os clientes, com visitas dos funcionários do banco à residência dos correntistas.

Um dos banqueiros que foi levado a prestar depoimento é Edson Fanton, que é parente do delegado da PF Mário Renato Castanheira Fanton, que em julho de 2015 acusou a força-tarefa de abusos e irregularidades, como um suposto grampo ilegal na cela do doleiro e delator Alberto Youssef. Os policiais responsáveis pela operação desta quinta-feira, no entanto, descartaram qualquer envolvimento do delegado nos fatos apurados.

O delegado Igor Romário de Paula destacou o papel do Panamá, país que tem leis permissivas com relação a offshores, como um facilitador dos crimes investigados pela Lava Jato. “O Panamá está sempre aparecendo em circunstâncias da Lava Jato, sejam contas no exterior, movimentação de recursos, servidor de e-mails... Não é um dos lugares mais fáceis para conseguir cooperação”, afirmou. De acordo com a legislação brasileira, ter contas ou empresas offshores no exterior não é crime desde que os recursos sejam declarados à Receita Federal.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com os advogados do banco.

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