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El acento
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Criminosos nazistas: a justiça tarda, mas não falha

A maioria dos SS que serviram em Auschwitz conseguiu escapar dos tribunais

Guillermo Altares
Reinhold Hanning, em Detmond, depois de ouvir sua sentença.
Reinhold Hanning, em Detmond, depois de ouvir sua sentença.Bernd Thissen (AP)

Pode parecer que não faz muito sentido um ancião de 94 anos ser condenado por crimes ocorridos há mais de sete décadas. Mas faz. Na sexta-feira, Reinhold Hanning, ex-SS em Auschwitz, foi sentenciado na Alemanha a cinco anos de prisão por colaborar na morte de 170.000 pessoas enquanto serviu no campo de extermínio nazista. A condenação foi possível graças a uma recente mudança na legislação alemã que permite processar qualquer pessoa que tenha trabalhado em um campo de extermínio, sem a necessidade de apresentar provas de um crime concreto. Em outras palavras, a justiça considera algo que parece consenso: ter trabalhado como vigia em Auschwitz, onde foram assassinadas 1,1 milhão de pessoas, é um crime em si.

A história de Hanning é muito representativa do que ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial na Alemanha Ocidental, onde só foram julgados 29 dos aproximadamente 6.500 membros das SS que passaram por Auschwitz (outros 20 foram processados na Alemanha Oriental), um esquecimento recentemente relatado em dois excelentes filmes alemães, Im Labyrinth des Schweigens (Labirinto de Mentiras) e Der Staat gegen Fritz Bauer (O caso Fritz Bauer), que relatam as enormes resistências enfrentadas pelos promotores que tentavam processar os crimes contra a humanidade cometidos pelos nazistas. Hanning foi detido pelos aliados no final do conflito, preso até 1948, quando retornou à Alemanha, onde não relatou a ninguém seu passado e viveu tranquilo até agora.

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Apesar dos processos de Nurembergue contra alguns figurões do Terceiro Reich ou da captura e posterior julgamento de Adolf Eichmann em Israel, ou das investigações realizadas em alguns países ocupados, é preciso encarar uma verdade incômoda: a imensa maioria dos crimes cometidos durante o horror nazista ficou impune, embora tenha sido necessário inventar uma nova palavra para descrevê-los: genocídio.

Ao final de sua biografia de Hitler, o historiador Ian Kershaw, que acaba de publicar To Hell and Back. Europe 1914-1949, escreveu: “Muitos dos que tinham maior responsabilidade conseguiram escapar sem punição e, em alguns casos, conseguiram prosperar e triunfar no pós-guerra”. Em 2014, quando começaram a ser reabertos os processos contra guardas de Auschwitz, a revista Der Spiegel publicou uma longa reportagem em que os autores afirmavam: “A punição dos crimes cometidos em Auschwitz fracassou não porque um punhado de juizes e políticos tenha tentado frear esses esforços, mas porque muito pouca gente estava interessada em processar e condenar os perpetradores. Muitos alemães eram indiferentes aos crimes cometidos em Auschwitz em 1945 e assim continuaram”.

As últimas testemunhas estão desaparecendo. Os depoimentos das vítimas são essenciais, mas também os dos algozes, porque ainda não se chegou a compreender o que transformou seres humanos normais em monstros. Talvez esse tipo de sentença retarde esse processo. Entretanto, por mais importante que seja a memória, a justiça o é ainda mais.

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