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Meio século de barreiras e postos de controle na Cisjordânia

A ocupação israelense limita a movimentação dos palestinos; Hebron é o paradigma

Juan Carlos Sanz
As ruas de Hebron, cheias de bloqueios e postos de controle.
As ruas de Hebron, cheias de bloqueios e postos de controle.EDWARD KAPROV

A tarde está começando em Hebron, e em cada posto de controle o mesmo refrão é repetido, ainda que os comandantes observem tudo através das câmeras de segurança. É uma zona proibida aos não residentes. Parece uma zona de guerra. Nervoso, o novato soldado de Israel com colete à prova de balas e equipamento completo de combate liga para seus superiores à espera de autorização. “Veículo da Cruz Vermelha Internacional em visita de inspeção de rotina”, detalha antes de receber a ordem para levantar a barreira. E assim ocorre, sucessivamente, ao longo do acesso ao assentamento judeu de Tel Rumeida, onde menos de 300 colonos judeus vivem perto do centro histórico da principal cidade do sul da Cisjordânia, que conta com uma população de 250.000 palestinos.

Para as organizações humanitárias internacionais e ONGs ativistas da paz israelenses, Hebron é o maior exemplo das consequências que a ocupação israelense — prestes a completar 49 anos — da Cisjordânia (2,75 milhões de habitantes) acarreta para a população palestina. Os bloqueios também afetam, em menor grau, a Jerusalém Oriental (com uma estimativa de mais de 200.000 palestinos na cidade em anexo), embora bairros inteiros tenham sido fechados pelas forças de segurança durante semanas no final do ano passado. A vida cotidiana se tornou uma corrida de obstáculos, especialmente desde a eclosão da mais recente onda de violência, caracterizada por ataques com facas.

“Desde outubro do ano passado, as barreiras se multiplicaram. Não podemos entrar nem de carro nesta área”, lamenta Meriem, de 38 anos, depois de passar pelo último posto de controle. Em frente à sua casa, há uma carroça puxada por um burro para o transporte de materiais de construção. Do outro lado da rua — onde vivem dezenas de famílias palestinas isoladas em sua própria cidade —, está o ponto de controle conhecido como Khyber. “Ali foi onde o atingiram com um tiro na cabeça”, aponta a moradora com o dedo. As imagens dos fatos, gravadas em vídeo e divulgadas pela ONG israelense B’Tselem, não deixam dúvidas. O soldado israelense Elor Azaria está sendo julgado por um conselho de guerra por homicídio em um quartel de Tel Aviv, por ter disparado contra um jovem palestino que estava deitado no chão e ferido, depois de seu ataque com uma faca ter sido contido por outros militares.

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Na aldeia palestina de Walaja, próxima a Belém, seus habitantes já haviam sofrido um deslocamento forçado quando o Estado de Israel surgiu, em 1948, perdendo parte de seu território. Desde o fim da guerra de 1967, os confiscos de terra e demolições de casas a mando do Exército por razões de segurança têm acontecido sem descanso. Desde o começo de 2016, três casas foram destruídas e 16 residências tiveram sua construção impedida por falta de alvarás concedidos pelas autoridades militares, apesar do contínuo crescimento populacional da população palestina. “A construção do muro [de separação por parte de Israel] acabou asfixiando a nossa aldeia”, disse recentemente o prefeito de Walaja, Abdul Rahman Abu Tin, em uma cerimônia em memória da Nakba (catástrofe), como os palestinos chamam o êxodo em massa da população ocorrido quase 70 anos após a divisão da Palestina sob a administração britânica.

Mercado do centro histórico de Hebron, sob controle formal israelense.
Mercado do centro histórico de Hebron, sob controle formal israelense.Jesús Serrano Redondo (ICRC)

Um templo dividido

A União Europeia acaba de alertar o Governo de Israel sobre as consequências para as relações bilaterais, em razão da demolição de edifícios palestinos no âmbito dos Acordos de Oslo de 1993 da Área C, que responde por 60% do território da Cisjordânia e está sob completa jurisdição israelense. No ano passado, 531 edifícios foram demolidos, dos quais 75 tinham sido financiados pela UE. Estes números foram ultrapassados no primeiro quadrimestre do ano.

No coração histórico de Hebron, a mesquita de Ibrahim compartilha o espaço com o santuário judaico Túmulo dos Patriarcas. Em 1994, Baruch Goldstein, um colono judeu radical do assentamento de Kiryat Arba, adjacente à cidade palestina, matou 29 pessoas e feriu mais de uma centena no interior do templo muçulmano. Um acordo entre a incipiente Autoridade Palestina e o Governo de Israel, em 1997, selou a divisão de Hebron em duas áreas distintas. Cerca de 20% inclui o centro comercial tradicional — atualmente praticamente abandonado — e a maior parte do patrimônio histórico para algumas centenas de colonos judeus, sob a proteção de 4.000 soldados israelenses, com milhares de palestinos quase enclausurados entre postos de controle, arame farpado e o Exército de Israel.

UMA INICIATIVA DE PAZ COM AMBIÇÃO GLOBAL

A iniciativa de paz francesa para o Oriente Médio é a primeira, após as conferências de Madri (1991) e Anápolis (2007), com certa ambição global. Os chefes da diplomacia de cerca de trinta países europeus, da região do Oriente Médio e dos Estados Unidos — que finalmente se juntou ao encontro — além da ONU sereuniram em Paris na sexta-feira para tentar revitalizar o processo, clinicamente morto desde abril de 2014, quando as últimas negociações entre israelenses e palestinos foram interrompidas. As partes envolvidas no conflito não participaram do encontro.

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