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Gravação de Jucá sobre a Lava Jato joga bomba no coração do Governo Temer

Segundo a 'Folha', ministro sugere pacto para limitar investigações em conversa com investigado

Jucá antes de uma entrevista coletiva em Brasília na semana passada.
Jucá antes de uma entrevista coletiva em Brasília na semana passada.EFE

Bastaram 11 dias para que o Governo interino de Michel Temer enfrentasse seu primeiro grande escândalo. Nesta segunda-feira, gravações obtidas pelo jornal Folha de S. Paulo mostram o ministro do Planejamento, Romero Jucá, dizendo a um interlocutor que o impeachment de Dilma Rousseff resultaria em um pacto para deter a operação Lava Jato. Horas depois da divulgação da gravação, Jucá anunciou, por volta das 17h, que se afastará do ministério a partir desta terça-feira (leia mais aqui).

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Senador licenciado pelo PMDB de Roraima, Romero Jucá é um dos principais articuladores da destituição da presidenta petista. A interceptação ocorreu em março deste ano e, segundo a Folha, o outro interlocutor era Sergio Marchado, o ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, que foi indicado ao cargo pelo PMDB. Tanto Jucá quanto Machado são investigados no escândalo de desvio de recursos da Petrobras descoberto pela operação Lava Jato.

Nos diálogos, que duraram uma hora e quinze minutos, Machado relata a Romero Jucá que teme que seu caso passe a ser julgado pela primeira instância da Justiça, na 13ª vara federal de Curitiba que está sob a responsabilidade do juiz Sergio Moro. O peemedebista sugere, então, que para evitar isso era necessário trocar o Governo por meio de uma ação política. “Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o Governo para estancar essa sangria”, disse o então senador. A gravação agora está sob os cuidados da Procuradoria-Geral da República, que é quem investiga Jucá por ele ter prerrogativa de foro.

De acordo com a Folha, na conversa Romero Jucá afirmou que um eventual governo Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. A resposta de Machado “aí parava tudo”. “É. Delimitava onde está, pronto”, respondeu o senador, sobre as investigações.

Em outro trecho da gravação, o peemedebista chama Moro de Torre de Londres, em alusão ao castelo da Inglaterra onde aconteceria torturas entre os séculos 15 e 16. A referência se trata do temor de Machado de se ver forçado a fazer uma delação premiada. Machado afirma que acredita que os investigadores da Lava Jato o identificavam como o caixa do PMDB dentro do esquema de desvios de recursos da Petrobras.

As interceptações são uma bomba no colo do Governo Temer que já enfrenta desconfianças sobre sua postura em relação à Lava Jato, mesmo antes de assumir a presidência interina. Com grandes nomes do seu partido sendo investigados, havia uma desconfiança de que houvesse um acordo para cercear a atuação dos procuradores depois do impeachment da presidenta. Temer, porém, tem dito reiteradas vezes que não vai interferir na investigação, mas algumas nomeações, como o de aliados e ex-advogados do deputado afastado Eduardo Cunha para cargos chaves no seu Governo, só aumentam as incertezas.

Até agora, Cunha garantiu quatro nomes na gestão Temer: Alexandre de Moraes (Ministério da Justiça), Gustavo do Vale Rocha (secretaria de de Assuntos Jurídicos da Casa Civil), Carlos Henrique Sobral (chefia de gabinete da Secretaria de Governo) e Marcelo Ribeiro do Val (assessor na Advocacia-Geral da União) . A gravação de Jucá piorou ainda mais essa percepção. Além disso, outros dois ministros de Temer também são investigados pela Lava Jato: Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Geddel Vieira Lima (Governo).

Não ficou claro na reportagem de onde partiram as gravações. Jucá disse que não tratou desse assunto pelo telefone com Machado, que já foi senador pelo PSDB do Ceará. E disse que caberia ao jornal ou ao ex-senador revelarem a fonte.

Reunião com Temer

O advogado do ministro, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse à Folha que seu cliente não tentou interferir na Lava Jato e que as conversa não contêm ilegalidades. Na manhã desta segunda-feira, o ministro admitiu à rádio CBN que conversou com Machado, mas afirmou que não vai se demitir do cargo porque não teria feito nada irregular. Ele cobrou celeridade nas investigações. Sobre a sangria, o peemedebista diz que não falava sobra a Lava Jato.

“Quando disse em estancar sangria não me referia à Lava Jato. Falava sobre a economia do país e entendia que o governo Dilma tinha se exaurido. Entendia que o governo Temer teria condição de construir outro eixo na política econômica e social para o país mudar de pauta”, declarou o ministro à emissora de rádio.

Em entrevista coletiva no início da tarde, Jucá reclamou do contexto dado na reportagem da Folha e afirmou que não teme nenhuma investigação. “Se eu tivesse telhado de vidro não teria assumido a presidência do PMDB em um momento de embate com o PT”. Ele reafirmou que não pretende deixar o Governo Temer, mas que o cargo é de livre indicação do presidente interino. “Não vejo nenhum motivo para eu pedir afastamento. Me sinto muito tranquilo”.

Logo após a divulgação da notícia, Jucá se reuniu com Temer e com o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil. Após o encontro, o presidente disse aos aliados que esperaria as explicações oficiais de seu ministro do Planejamento para tomar uma decisão se o mantinha ou não no cargo. No entanto, o próprio Jucá anunciou, por volta das 17h desta segunda, que se licenciará do ministério nesta terça.

Sem fugir das perguntas durante a coletiva, Jucá disse ainda que defende as investigações da operação Lava Jato, que “não perde um minuto” de seu dia preocupado com as apurações, e aproveitou para atacar o Partido dos Trabalhadores. “Uma coisa é a operação Lava Jato no Governo do PT, que tinha a direção do PT envolvida diretamente e o Governo paralisado. Outra coisa é no Governo Michel Temer, que já declarou apoio à investigação”.

Nos diálogos, Jucá sugeriu a Machado que procurasse outros peemedebistas para conversar como o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente da República José Sarney. O ex-presidente da Transpetro sugere que seja feita uma reunião conjunta entre os quatro, mas o ministro pede que as conversas sejam individuais e depois os três políticos se sentam para debater a situação dele.

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