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Ministro pede sugestão a usuária do Bolsa Família e ouve: “melhore o programa e não corte”

Se na área econômica o Governo Temer agrada quando diz que tudo muda, na social a expectativa é que tudo continue e evolua

Osmar Terra conversa com Rúbia Ferreira da Silva, beneficiária do Bolsa Família.
Osmar Terra conversa com Rúbia Ferreira da Silva, beneficiária do Bolsa Família.Paulo H. Carvalho (MDS)

Se na área econômica o presidente interino Michel Temer deu sinais de que tudo mudará para agradar o mercado, na área social o desafio do novo Governo é garantir o contrário: que nada de drástico ocorrerá, para não desagradar os que recebem os programas do Estado. Só o Bolsa Família contempla quase um quarto da população brasileira, e qualquer boato de corte é capaz de causar uma comoção nacional, com corrida a agências bancárias e a casas lotéricas, como aconteceu em 2013. Desde que o Senado afastou Dilma Rousseff do cargo no último dia 12, o discurso de que Temer cortaria benefícios se ampliou entre os defensores dela. Ao assumir interinamente a presidência, ele apressou-se em afirmar que nada seria cortado, mas a desconfiança ainda é grande.

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Em seu terceiro dia no cargo, o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, decidiu ir a campo visitar os beneficiários do Bolsa Família em Pernambuco. Numa favela no bairro pobre de Santo Amaro, em Recife (PE), Terra foi apresentado a Rúbia Ferreira da Silva, de 31 anos, escolhida previamente pela equipe da sua pasta para que ele a conhecesse. Com nove filhos e os pais desempregados, a família depende inteiramente dos 722 reais que recebe do programa para sobreviver -um valor mais alto do que a média, pela situação de extrema vulnerabilidade. As crianças estão com as vacinas em dia e frequentam a escola direitinho, pré-requisitos para que o valor não seja cortado. “Tem alguma sugestão para melhorar o Bolsa Família?”, perguntou a ela o ministro. “Que melhore muito e nunca corte, né?”, disparou a mulher.

Pela manhã, em entrevista ao EL PAÍS, no avião que o levou ao Recife, Terra reafirmou que o programa não será cortado, mas disse que haverá um pente-fino para verificar a existência de fraudes e de pessoas que recebam o Bolsa Família, mas têm “carro do ano”. Mais tarde, durante as visitas, também percebeu como, às vezes, as rígidas regras das planilhas podem causar injustiças. Ouviu de Mariana Viana, mãe de Pedro Lucas, um bebê de nove meses com microcefalia, que a família, apesar de pobre, não pode receber nem a bolsa, nem o Programa de Benefício de Prestação Continuada, que oferece um salário mínimo para pessoas pobres com deficiência. A renda familiar é quatro centavos mais alta do que o teto estabelecido. “É uma injustiça. Temos que estudar uma flexibilização para as crianças com danos cerebrais severos”, disse o ministro à reportagem no final do dia.

O Bolsa Família tornou-se referência no Brasil e no exterior. O último evento da ex-ministra Tereza Campello, antecessora de Terra na pasta, foi o 11° Seminário Internacional de Políticas Sociais para o Desenvolvimento, que recebeu 70 delegações de diferentes países que buscavam referência sobre os programas sociais brasileiros, em especial o Bolsa Família.

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