_
_
_
_
_

Egito acredita que a hipótese de um “ataque terrorista” é “mais provável”

Governo grego informa que o avião da EgyptAir fez uma curva brusca e caiu de uma altura de 11.000 metros

Um avião da empresa egípcia EgyptAir que fazia a rota entre Paris e Cairo, e levava 66 pessoas a bordo, caiu na madrugada desta quinta-feira no mar Mediterrâneo, a cerca de 280 quilômetros da costa egípcia. O piloto não fez nenhum pedido de socorro, mas pouco antes de desaparecer do radar, o avião fez um movimento brusco: virou 90 graus para a esquerda e, em seguida, 360 para a direita, enquanto caía de mais de 11.000 metros de altura para 5.000, logo depois das 2h35 da madrugada. França e Egito mantêm todas as hipóteses abertas, embora as autoridades do Cairo admitem que “um ataque terrorista é mais provável que uma falha técnica”. Horas mais tarde, fontes oficiais dos EUA consultadas pela Reuters desmentiram, baseando-se nas imagens tomadas por satélite, que uma bomba havia explodido a bordo.

Familiar de vítima no aeroporto do Cairo.
Familiar de vítima no aeroporto do Cairo.MOHAMED ABD EL GHANY (REUTERS)
Mais informações
Homem sequestra avião no Egito, mas libera reféns e é preso após horas de tensão
Queda de avião no Egito foi um atentado terrorista, admite Rússia
Rússia e Egito duvidam que o avião que caiu no Sinai foi derrubado
Putin dá crédito à suspeita terrorista e cancela todos os voos para o Egito

O avião, um Airbus 320, tinha saído do aeroporto Charles De Gaulle de Paris com 56 passageiros, incluindo uma criança e dois bebês, além de sete membros da tripulação e três membros das forças de segurança. O pouso no aeroporto do Cairo estava prevista para as 3h15 hora local. Após a descoberta nas suas águas territoriais de objetos que poderiam pertencer à fuselagem do avião, as autoridades gregas negaram que os restos encontrados fossem provenientes do Airbus da EgyptAir. Um desmentido que aumenta a confusão gerada durante a tarde pelas declarações contraditórias das autoridades egípcias, sobre esses restos suspeitos. “Até agora, a análise dos restos encontrados indica que não pertenciam a um avião. Meu homólogo egípcio também me confirmou que não está provado que os restos venham do voo da Egyptair”, declarou o oficial Athanassios Binos para a agência France Presse. Depois, a própria empresa aérea de bandeira egípcia se desmentiu e reconheceu que as partes encontradas no Mediterrâneo não pertencem à sua aeronave.

“Se foi um acidente ou outra hipótese que todo mundo tem em mente [um ataque terrorista] neste momento devemos nos concentrar em nossa solidariedade com as famílias e em procurar as causas da catástrofe”, disse o presidente francês, François Hollande, em uma mensagem pela TV. Por sua parte, o ministro egípcio da Aviação Civil, Sherif Fathy, insistiu que, embora “ainda seja muito cedo” para estabelecer as razões para o incidente, um ataque terrorista é mais provável que uma falha técnica. O Governo egípcio vai liderar a comissão de investigação sobre o acidente, que também contará com a participação da França – havia 15 cidadãos deste país a bordo.

A promotoria de Paris abriu uma investigação oficial, assim como fez o BEA (Escritório de investigação e análise do setor aéreo), que enviou três investigadores ao Cairo. “Temos a obrigação de saber tudo o que aconteceu. Nenhuma hipótese pode ser descartada”, alertou pela manhã o presidente François Hollande. A França já está analisando todas as circunstâncias ao redor da decolagem do aeroporto de Charles de Gaulle do Airbus acidentado. Neste imenso aeroporto ao norte de Paris trabalham 85.000 funcionários. No ano passado, foram afastados setenta trabalhadores das áreas mais sensíveis por “fenômenos de radicalização”; em última análise, um comportamento que pode variar de se recusar a receber ordens de uma mulher a carregar o Corão de forma permanente.

Essa seleção foi reforçada após os atentados de novembro que custaram 130 vidas em Paris em todos os aeroportos da cidade, bem como na rede ferroviária. Um dos terroristas de novembro tinha sido motorista de ônibus e havia se destacado por se recusar a tocar o volante se uma mulher havia trabalhado antes dele.

De acordo com a informação fornecida pelo ministro egípcio numa conferência de imprensa caótica, 30 dos passageiros eram cidadãos egípcios, 15 deles eram franceses, e os demais estavam distribuídos em uma dezena de nacionalidades, incluindo a iraquiana, britânica e portuguesa. Segundo a Egyptair, o piloto tinha 6.275 horas de voo. A aeronave, que a empresa adquiriu em 2003, não tinha apresentado nenhum problema técnico recentemente.

Um avião de 2003 com 48.000 horas de voo

A França ofereceu à Grécia e ao Egito meios aéreos e marítimos para esclarecer o incidente e no início da tarde colocou à disposição das famílias das vítimas um voo para levá-los ao Cairo, depois de estabelecer um comitê de crise no próprio aeroporto de Paris para atendê-los. A Airbus, por sua vez, afirmou que o aparelho da Egyptair foi entregue àquela empresa no final de 2003 e acumula 48.000 horas de voo. De acordo com a aviação civil francesa, o aparelho foi controlado pela última vez na Bélgica em 29 de janeiro último.

As horas seguintes ao desastre aéreo estiveram envoltas em confusão. A Egyptair informou através de sua conta oficial no Twitter que o exército egípcio recebeu um sinal de emergência a partir de um dispositivo eletrônico da aeronave. No entanto, pouco depois um porta-voz das Forças Armadas negou a veracidade da notícia.

Doze nacionalidades

Os 56 passageiros do avião, incluindo uma criança e dois bebês, são de 12 nacionalidades diferentes, conforme informou a empresa EgyptAir. Além disso, no aparelho viajavam três guardas de segurança e sete tripulantes. As nacionalidades dos passageiros são:

Egípcia (30 pessoas), francesa (15), iraquiana (2), britânica, belga, kuaitiana, saudita, sudanesa, portuguesa, argelina, canadense e chadiana (uma pessoa para cada uma dessas últimas nacionalidades).

Levando em conta a elevada altitude que voava a aeronave no momento da sua queda, especialistas consideram muito improvável que um grupo terrorista pudesse tê-la derrubado com um míssil. No entanto, não se descarta que a explosão de um dispositivo dentro do avião tenha provocado sua queda.

Esta foi a técnica usada em um atentado reivindicado por Wilaya Sina (“província do Sinai”), a filial egípcia do autodenominado Estado Islâmico (ISIS em inglês) contra um avião civil russo que sobrevoava a província egípcia do Sinai no último 31 de outubro. O grupo jihadista fez circular mensagens nas redes sociais em que afirmava ter introduzido no aparelho uma lata de refrigerante cheia de material explosivo.

O ataque matou seus 224 ocupantes, na maioria turistas russos que tinham passado as férias nos hotéis do Mar Vermelho, uma das principais atrações turísticas do Egito. Apesar de que os serviços secretos russos e norte-americanos concluíram rapidamente que tinha sido um atentado, só em março as autoridades egípcias reconheceram que essa era a hipótese mais provável. O ataque levantou sérias dúvidas sobre os sistemas de segurança dos aeroportos egípcios, e várias empresas aéreas cancelaram seus voos para o aeroporto Sharm el Sheikh, na província do Sinai. O atentado representou um duro golpe para a indústria turística do país árabe, um dos pilares da sua economia.

O incidente na quinta-feira é o terceiro grave registrado pela aviação egípcia em um verdadeiro annus horribilis. O anterior, que aconteceu em 29 de março, foi o sequestro de um voo entre as cidades do Cairo e Alexandria por um marido abandonado que desviou o aparelho para Chipre, onde mora sua ex-mulher.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_