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Os ‘picassos’ do Picasso no Tomie Ohtake

São Paulo recebe obras da coleção pessoal do artista espanhol, vinda do Museu Picasso de Paris

'Le Baiser', uma das telas que veio a SP.
'Le Baiser', uma das telas que veio a SP.© RMN-Grand Palais (Musée national Picasso-Paris) / Berizzi Jean-Gilles ©

Os fãs do artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973) poderão ver suas obras mais íntimas e marcantes de perto a partir deste domingo, em São Paulo. Uma coleção pessoal de picassos do próprio Picasso é a que acaba de chegar ao Instituto Tomie Ohtake para deleite dos brasileiros. São mais de 150 obras, entre quadros, esculturas, fotografias e desenhos, dos quais 90% inéditos no país. A exposição, batizada de Picasso: mão erudita, olho selvagem, recebe o público a partir deste domingo, 22 de maio, e fica aberta até 14 de agosto, antes de seguir para o Rio de Janeiro e depois para Santiago do Chile.

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Um dos destaques são estudos e uma reportagem fotográfica da criação de seu quadro mais conhecido, a Guernica, que só pode ser vista em Madri, no Museu Nacional Centro de Reina Sofia – um dos mais importantes da Espanha. Mas essa é uma seleção que chega da França, do Museu Picasso de Paris, onde se encontra a doação do espólio de sua família. Obras que o artista guardou para si ao longo da vida pensando, com isso, em deixar registrado o que melhor representava seu gênio criativo. E é do maior gênio do século XX que estamos falando.

Quem passear pelo Tomie sentirá, de fato, que dialoga com Picasso. Estão lá quadros como o retrato que ele pintou em 1895, aos 14 anos, com um domínio de cores e sombras que espanta. Também A morte de Casagemas, retrato fúnebre de 1901 que representa a chamada fase azul do artista, uma série de gravuras na que ensaia suas primeiras representações mais geométricas e estudos pictóricos para a importante Les demoiselles d’Avignon, tela de sua fase já cubista que demorou nove meses para ser feita.

Imagem de arquivo do pintor espanhol.
Imagem de arquivo do pintor espanhol.Getty

Com essa introdução, fica estabelecida na primeira das duas salas grandes da mostra os inícios que culminaram no cubismo – movimento artístico fundado por Picasso e Georges Braque como uma realidade multifacetada e aumentada para dar conta da complexidade do real. Algumas telas cubistas depois, o visitante segue o trajeto proposto e se depara com boas surpresas como o retrato que o artista pintou de seu filho Paul, os estudos que fez para cenários e figurinos de óperas de Strawinsky, esculturas e até quadros surrealistas – ainda que ele não tenha feito parte do movimento.

Depois dessa passagem, chega-se aos registros de Guernica – indiscutível obra-prima de Picasso e máxima representante de seu engajamento político. Fica mais fácil compreender essa tela – que veio ao Brasil em 1953 para participar da segunda Bienal de Artes – a partir das fotografias que Dora Maar, uma das esposas do artista, fez documentando minuciosamente o processo de criação do marido, e de um filme do cineasta francês Alain Resnais. A Guernica foi a entrada frontal de Pablo Picasso na Guerra Civil Espanhola, mas a guerra esteve permanentemente em seu radar artístico. Isso fica claro, nas seções finais da mostra, que apresentam sua facilidade para utilizar diferentes mídias e técnicas, com cerâmicas e apostas fotográficas ousadas.

Pablo Picasso morreu aos 90 anos, não só lúcido e produtivo, como realizando uma “renovação extraordinária”, nas palavras da curadora da exposição, Emilia Philippot, em seu trabalho. Media sem cansar seu próprio gênio criativo e passou a pintar corpos femininos, representados em atos sexuais fazendo paralelos com atos criativos. Aí aparece um retrato de sua última esposa, Jacqueline Roque, pintado em pouco tempo e no mais autêntico estilo cubista. Por essa fase, Picasso terminou taxado de “velho artista libidinoso”, que muitos acharam, pela simplicidade dos traços assumidos por ele na época, que podiam copiar. O artista se despede do público paulistano com seu último autorretrato, pintado um ano antes de sua morte e no qual ele aparece representado com os olhos bem abertos, pincel na mão e sorrindo. É tido como o convite do gênio para que o mundo prossiga com a criação. 

A exposição no Tomie Ohtake tem apoio do grupo espanhol Arteris, que administra algumas rodovias nacionais e foi patrocinador das recentes exposições nacionais de Salvador Dalí e Joan Miró.

'La Patronne faiseuse d’anges, avec trois filles. Degas aux mains dans le dos Mougins', obra da fase final, a mais erótica, de Picasso.
'La Patronne faiseuse d’anges, avec trois filles. Degas aux mains dans le dos Mougins', obra da fase final, a mais erótica, de Picasso.© RMN-Grand Palais (Musée national Picasso-Paris) / Hatala Béatrice

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